Baile de máscaras e segredos

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Uma hora antes

— Estão todos aqui?

Ainda era cedo da manhã, antes do período das aulas, quando Kyungsoo adentrou uma das salas vagas e mais afastadas. Tinha um comunicado a fazer, portanto, enviara uma mensagem de texto para seus colegas de grupo — os Kim — marcando a reunião. A primeira coisa que o baixinho reparou, foi Junmyeon. O garoto, que antes ostentava madeixas compridas e muito bem cuidadas, agora possuía cabelos curtos, e se encontrava distante dos outros, escorado na parede e com um olhar centrado no piso padrão de cerâmica. Fazia tempo desde que stalkeava um dos Kim, a vida deles conseguia ser mais entediante que a sua, assim pensava. Mas, se fosse dar um palpite, algo tinha dado errado com o irmão mais velho de Junmyeon, que morava no exterior.

— Ele tá desse jeito tem umas semanas aí — Jongdae se pronunciou quando percebeu o olhar de estranheza de Doh. — Melhor deixar ele quieto.

— Que seja. — Kyungsoo deu de ombros e sentou-se em uma cadeira que lhe desse visão dos três. — Podemos começar?

— Eu quero começar. — Junmyeon aproximou-se a passos lentos, até que estivesse na frente de seu atual líder. Doh sempre havia considerado o fã de Ozzy Osbourne como seu braço direito, pois ele sempre topava tudo o que sugeria. Contudo, agora, Junmyeon parecia o mais avulso dos Kim, com seu olhar desfocado, ou talvez apenas focado demais em um outro caminho. — Eu tô caindo fora.

Jongdae quase cuspiu o pirulito de uva, arrancando uma risadinha do que estava ao seu lado.

— Ok, por essa eu não esperava — sussurrou para Minseok, que também parecia um pouco surpreso.

Todos acreditavam veemente que Junmyeon seguiria fiel ao lado de Kyungsoo até mesmo após a formatura.

— Desculpe, Kyungsoo. Mas aqui não dá mais pra mim — continuou. — Quando eu digo aqui, eu quero dizer a Coreia. Vou embora com o meu irmão para os Estados Unidos.

Kyungsoo ouvia tudo calmamente enquanto batucava os dedos na coxa apertada pela calça jeans rasgada — que não fazia parte do uniforme oficial. Junmyeon chegou a agradecer a companhia e os bens materiais que coletaram naqueles anos de parceria, e mesmo que agora reconhecesse que o que eles faziam era muito errado — todo o bullying, agressão e pressão psicológica —, sentia como se tivesse feito parte de algo por aqueles anos.

— É mesmo? — Kyungsoo riu ao ouvir que Byun, meio-irmão de Kim, até mesmo o ajudaria a aprender inglês, e que agora estava à procura de uma faculdade nova-iorquina na qual ele pudesse ingressar. — Que baboseira... Só falta você me dizer que agora vai virar padre.

Junmyeon tinha pensado muito sobre e, como ainda não havia descoberto uma vocação, resolveu tentar seguir os conselhos de Baekhyun.

— Na verdade, eu estava pensando em algo como a Academia de Polícia — anunciou de cabeça baixa.

Tinha certeza de que Doh riria a ponto de sua barriga ficar dormente, mas, para sua surpresa, Kyungsoo apoiou os cotovelos em cima da carteira e, em seguida, pousou o queixo nas mãos entrelaçadas, completamente sério. Era assustadora a forma como o delinquente o encarava, como se fosse capaz de enxergar sua alma através das íris castanhas.

— Kim Junmyeon. — A voz pesada ecoou pela sala. — Você não vai conseguir pagar seus pecados sendo um policial. Quanto tempo acha que vai aguentar até se render à corrupção? Você é igual a mim, uma criança machucada e moldada por uma família de merda.

Kim o olhou com as sobrancelhas franzidas, irritado. Tudo bem que não esperava receber um grande encorajamento de Doh Kyungsoo, não era de seu feitio, mas isso não queria dizer que aceitaria continuar sendo usado e diminuído daquela forma. Já estava farto.

Por Trás das MáscarasOnde histórias criam vida. Descubra agora