Prólogo

210 5 0
                                    

Abril está quase chegando, e com ele começará uma nova temporada em Londres. Por toda a cidade, mães ambiciosas já podem ser vistas em lojas de vestidos com suas adoráveis debutantes, ansiosas por comprarem aquele traje mágico que acreditam que fará toda a diferença entre o matrimônio e a solteirice.
E quanto às suas presas - os solteiros convictos -, o Sr. Colin Bridgerton mais uma vez ocupa o topo da lista de maridos desejáveis, embora ainda não tenha retornado de sua recente viagem ao exterior. Ele não possui título de nobreza, é verdade, mas é belo, rico e, como qualquer um que tenha passado ao menos um minuto em Londres sabe, encantador.
O problema é que ele chegou à idade um tanto avançada de 33 anos sem jamais demonstrar interesse por nenhuma jovem em particular, e há pouca razão para supor que 1824 vá ser diferente de 1823 nesse aspecto.
Talvez as adoráveis debutantes - e, mais importante, as mães ambiciosas - devam procurar em outra parte. Se o Sr. Bridgerton está à cata de uma esposa, esconde bem esse desejo.
Por outro lado, não é exatamente desse tipo de desafio que uma debutante mais gosta?
CRÔNICAS DA SOCIEDADE DE LADY WHISTLEDOWN

PRÓLOGO
No dia 6 de abril de 1812 - dois dias antes de seu aniversário de 16 anos -, Penelope Featherington se apaixonou.
Foi, em uma palavra, emocionante. O mundo estremeceu. Seu coração deu saltos. Ela ficou sem fôlego e foi capaz de dizer a si mesma, com alguma satisfação, que o homem em questão - um tal de Colin Bridgerton - se sentiu da mesma forma.
Ah, não com relação à parte amorosa. Com certeza ele não se apaixonou por ela em 1812 (nem em 1813, 1814, 1815, nem - ora, ora! - nos anos entre 1816 e 1822, e também não em 1823, quando, de qualquer forma, passou o ano todo fora do país). Mas o mundo dele estremeceu, seu coração deu saltos e Penelope soube, sem a menor sombra de dúvida, que ele perdeu o fôlego, assim como ela. Por uns bons dez segundos.
É o que geralmente acontece quando um homem cai do cavalo.
Aconteceu assim: ela estava caminhando pelo Hyde Park com a mãe e as duas irmãs mais velhas quando sentiu um trovejante ribombar (ler acima o trecho sobre o mundo estremecer). A mãe não estava prestando muita atenção nela (como sempre), então Penelope se afastou um pouco para ver o que havia mais adiante. As outras Featheringtons estavam concentradas em sua conversa com a viscondessa de Bridgerton e a filha, Daphne, que acabara de iniciar a segunda temporada em Londres, de forma que fingiam ignorar o barulho. Os Bridgertons eram, de fato, uma família

importante, e conversas com eles não eram algo a ser ignorado.
Ao contornar uma árvore especialmente grossa, Penelope avistou dois cavaleiros vindo em sua direção, galopando como se não houvesse amanhã, ou seja lá qual fosse a expressão usada em relação a tolos montados a cavalo que não se importavam com a própria segurança ou com o próprio bem-estar. Penelope sentiu o coração bater mais rápido (teria sido difícil manter a pulsação normal diante de tal agitação, e, além do mais, isso lhe permitiria dizer que seu coração deu um salto quando ela se apaixonou).
Então, numa dessas inexplicáveis artimanhas do destino, o vento de repente soprou mais forte, arrancando de sua cabeça o chapéu (que, para grande desgosto da mãe, ela não amarrara direito, já que a fita roçava e irritava o seu queixo) e, poft!, lançando-o bem no rosto de um dos cavaleiros.
Penelope arquejou (ficando, assim, sem respiração) e o homem caiu do cavalo, aterrissando de maneira muito deselegante numa poça de lama próxima.
Ela avançou, quase sem pensar, grunhindo algo que pretendia que fosse uma pergunta sobre como ele se sentia, mas que ela suspeitava ter saído como um guincho abafado. Ele estaria, é claro, furioso com ela, uma vez que Penelope praticamente o derrubara do cavalo e o cobrira de lama - duas coisas que com certeza deixariam qualquer cavalheiro no pior dos humores. No entanto, quando ele enfim ficou de pé e começou, na medida do possível, a limpar a lama da roupa, não praguejou. Não lhe passou uma dolorosa descompostura, não gritou e nem mesmo a fuzilou com o olhar.
Ele riu.
Ele riu.
Penelope não tinha muita experiência com a risada
masculina e nas poucas ocasiões em que a presenciara, ela não fora gentil. Mas os olhos daquele homem - de um tom

Os segredos de Penélope FeatheringtonOnde histórias criam vida. Descubra agora