CAPÍTULO 6
Todos têm segredos. Sobretudo eu.
CRÔNICAS DA SOCIEDADE DE LADY WHISTLEDOWN, 14 DE ABRIL DE 1824
- Eu teria gostado de saber que você escrevia um diário - comentou Penelope, voltando a pressionar o guardanapo sobre a palma da mão dele.
- Por quê?
- Não sei ao certo - respondeu ela, dando de ombros. - É sempre interessante descobrir algo que não se imagina sobre uma pessoa, não acha?
Colin não disse nada por vários instantes, então, de repente, deixou escapulir:
- Você gostou mesmo?
Ela olhou para ele, achando graça, e Colin ficou horrorizado. Lá estava ele, considerado um dos homens mais populares e sofisticados da alta sociedade, reduzido a um colegial tímido, prestando atenção a cada palavra pronunciada por Penelope Featherington, apenas para receber alguns elogios.
Penelope Featherington, pelo amor de Deus...
Não que houvesse qualquer coisa de errado com ela, é claro. Era só que ela era... bem... Penelope.
- É claro que gostei - afirmou ela com um sorriso suave. - Acabei de lhe dizer isso.
- Qual foi a primeira coisa que lhe chamou a atenção no texto? - indagou ele, decidindo agir como um tolo completo, uma vez que já estava a meio caminho disso.Ela deu um sorriso malicioso.
- Na verdade, a primeira coisa que me chamou a atenção foi que a sua letra é bem mais caprichada do que eu teria imaginado.
Ele franziu a testa.
- Como assim?
- Não consigo imaginá-lo debruçado sobre a escrivaninha
praticando caligrafia - respondeu ela, tentando controlar o riso.
Jamais houvera um momento tão propício à indignação quanto aquele.
- Pois saiba que eu passei muitas horas naquela sala de aula, desde muito pequeno, debruçado sobre a escrivaninha, como você disse de forma tão delicada.
- Tenho certeza que sim - murmurou ela.
- Humpf.
Ela baixou os olhos, claramente tentando não sorrir.
- Sou muito bom em caligrafia - acrescentou ele.
Agora aquilo se transformara numa brincadeira, e era
bastante divertido desempenhar o papel do colegial petulante.
- Mas é claro que é - replicou ela. - Gostei sobretudo dos seus agás. São muito bem feitos. Muito bem... traçados.
- Exatamente.
Ela fez a mesma expressão de seriedade dele.
- Exatamente.
Ele desviou o olhar do dela e, por um instante, sentiu uma
timidez inexplicável.
- Fico contente que tenha gostado do diário - falou.
- Achei lindo - afirmou ela com delicadeza. - Encantador
e... - Ela desviou o olhar, ruborizando. - Vai me achar tola.
- Não vou não - prometeu ele.
- Bem, eu acho que um dos motivos pelos quais gostei
tanto foi que pude sentir, de alguma forma, o seu prazer em escrevê-lo.Colin passou um longo momento em silêncio. Jamais lhe ocorrera que escrever fosse algo prazeroso para ele. Era algo que simplesmente fazia.
Fazia-o porque não conseguia se imaginar sem aquilo. Como viajar para terras estrangeiras e não manter um registro do que via, do que vivenciava e, talvez o mais importante, do que sentia?
Mas, pensando em retrospecto, se deu conta de que experimentava uma estranha satisfação sempre que escrevia uma frase que saía perfeitamente correta, que expressava seus sentimentos com perfeição. Lembrava-se com nitidez do momento em que escrevera a passagem que Penelope lera. Estivera sentado na praia ao anoitecer, o sol ainda quente sobre a pele e a areia - de alguma forma grossa e macia ao mesmo tempo - sob os pés descalços. Fora um instante maravilhoso, repleto daquela sensação cálida e indolente que só é possível no auge do verão (ou nas praias perfeitas do Mediterrâneo), e ele pensava na melhor forma de descrever a água.
Ficara sentado ali por um longo tempo - sem dúvida por cerca de meia hora - com a caneta posicionada sobre o diário, esperando a inspiração. Então, de repente, notara que a temperatura era exatamente igual à de uma água de banho já ficando morna. Nesse momento, seus lábios se abriram num sorriso largo e maravilhado.
Sim, ele gostava de escrever. Engraçado como nunca se dera conta disso antes.
- É bom ter algo que nos dê prazer - opinou Penelope, baixinho. - Algo satisfatório, que preencha as horas com a sensação de um objetivo a ser alcançado. - Ela cruzou as mãos sobre o colo e olhou para baixo, aparentemente muito interessada nos nós dos próprios dedos. - Nunca entendi as supostas alegrias de uma vida indolente.
Colin sentiu vontade de levantar o queixo dela, de olhar dentro de seus olhos ao lhe perguntar: E o que você faz para preencher as suas horas com a sensação de ter um
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Os segredos de Penélope Featherington
ChickLitDa série de livros, os Bridgertons! Todos os direitos reservados a autora original - Júlia Quinn. Mudei o título para não ter perigo de exclusão!