Capítulo 23

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Penelope estivera na Casa Hastings muitas vezes, tanto em festas formais quanto em visitas informais, mas nunca vira a imponente construção tão encantadora - ou mágica - quanto naquela noite.
Junto à sogra e às duas cunhadas, ela estava entre os primeiros convidados a chegar. Violet sempre dissera que era grosseiro que membros da família sequer cogitassem chegar elegantemente atrasados. E Penelope achou bom chegar tão cedo: ela teve a oportunidade de ver a decoração sem ter de enfrentar o empurra-empurra da multidão.
Daphne decidira que seu evento não seria temático, ao contrário do baile egípcio da semana passada e do grego da semana anterior a esta. Em vez disso, decorara a casa com a mesma elegância simples com a qual vivia o dia a dia. Centenas de velas bruxuleantes adornavam as paredes e mesas, refletindo os imensos candelabros que pendiam do teto. As janelas estavam envoltas em um pano brilhoso e prateado, o tipo de tecido que se podia imaginar vestindo fadas. Até o uniforme dos criados estava diferente. Penelope sabia que eles costumavam vestir azul e dourado, mas naquela noite o azul vinha adornado com prateado.
Era quase possível para uma mulher se sentir como uma princesa num conto de fadas.
- Eu imagino quanto isto tudo terá custado - comentou Hyacinth, com os olhos arregalados.
- Hyacinth! - ralhou Violet, dando um tapinha no braço da filha. - Você sabe que é deselegante fazer esse tipo de pergunta.

- Eu não perguntei. Só imaginei. Além do mais, é de Daphne que estamos falando.
- A sua irmã é a duquesa de Hastings - retrucou Violet -, e, como tal, tem certas responsabilidades com que arcar. Seria bom que você se lembrasse disso.
- Mas a senhora não concorda - disse Hyacinth, passando o braço pelo da mãe e apertando de leve a mão dela - que é bem mais importante que eu me lembre, simplesmente, que ela é minha irmã?
- Agora ela a pegou - comentou Eloise, com um sorriso. Violet deixou escapar um suspiro.
- Hyacinth, eu declaro que você será a responsável pela
minha morte.
- Não, não serei - replicou a jovem. - Gregory será. Penelope se pegou prendendo o riso.
- Não vejo Colin em lugar algum - disse Eloise, esticando
o pescoço.
- Não? - Penelope varreu o salão com os olhos. - Isso é
surpreendente.
- Ele lhe disse que estaria aqui antes de você chegar?
- Não, mas, por algum motivo, achei que estaria.
Violet deu um tapinha tranquilizador em seu braço.
- Estou certa de que chegará em breve, Penelope. Então,
logo saberemos que grande segredo é esse que o fez insistir que não desgrudássemos de você. Não - acrescentou, apressada, os olhos arregalados de alarme - que estejamos encarando isto como um sacrifício. Você sabe que adoramos a sua companhia.
Penelope lhe lançou um sorriso tranquilizador.
- Eu sei. O sentimento é recíproco.
Havia poucas pessoas à frente delas na fila de recepção,
então não demorou muito para que pudessem cumprimentar Daphne e o marido, Simon.
- O que está acontecendo com Colin? - perguntou Daphne, sem qualquer preâmbulo, tão logo teve certeza de que os outros convidados não poderiam ouvi-la.

Como a questão parecia, primordialmente, dirigida a ela, Penelope se viu forçada a dizer:
- Eu não sei.
- Ele também lhe mandou um bilhete? - perguntou Eloise à irmã.
Daphne fez que sim.
- Mandou. Segundo ele, é para ficarmos de olho em Penelope.
- Podia ter sido pior - falou Hyacinth. - Nós três devemos grudar nela como cola. - Ela inclinou o corpo para a frente. - E ele sublinhou cola.
- E eu achando que não era um sacrifício - ironizou Penelope.
- Ora, e não é - garantiu Hyacinth, com leveza -, mas há algo muito prazeroso em pronunciar a palavra cola. Ela escorrega da língua de maneira muito agradável, não acha? Cola. Cooooolaaaa.
- Sou eu, ou ela enlouqueceu de vez? - perguntou Eloise. Hyacinth a ignorou com um dar de ombros.
- Sem falar no aspecto dramático disso tudo. Parece que
somos parte de alguma grande trama de espionagem.
- Espionagem - gemeu Violet. - Que Deus nos ajude. Daphne inclinou o corpo para a frente, com a expressão
grave.
- Bem, ele nos disse...
- Não é uma competição, meu amor - interrompeu Simon. Ela lhe lançou um olhar bastante irritado antes de se virar
outra vez para a mãe e as irmãs e continuar:
- Ele nos pediu que não a deixássemos chegar nem perto
de Lady Danbury.
- Lady Danbury! - exclamaram todas.
Todas, menos Penelope, que tinha uma boa noção do
motivo pelo qual Colin queria que ela ficasse longe da condessa. Devia ter bolado um plano melhor que o dela de convencer Lady Danbury a mentir e dizer a todos que ela era Lady Whistledown.

Os segredos de Penélope FeatheringtonOnde histórias criam vida. Descubra agora