Capítulo 12

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Na manhã seguinte, assim que acordou, Colin lembrou que não se desculpara com Penelope. Estritamente falando, era
provável que já não fosse necessário: embora mal tivessem se falado no baile dos Macclesfields, na noite anterior, pareciam ter chegado a uma trégua implícita. Ainda assim, Colin achava que não se sentiria confortável consigo mesmo até pronunciar as palavras "Me desculpe".
Era o correto a fazer.
Ele era um cavalheiro, afinal.
Além do mais, estava com vontade de vê-la naquela
manhã.
Foi ao Número Cinco tomar café da manhã com a família,
mas queria ir direto para casa após ver Penelope, então subiu na carruagem para fazer a viagem até a casa dos Featheringtons, na Rua Mount, apesar de a distância ser curta o bastante para que ele sentisse preguiça de percorrê- la.
Sorriu, satisfeito, e se recostou no assento para observar a encantadora paisagem primaveril que ia se revelando pela janela. Era um daqueles dias perfeitos nos quais tudo parecia correr bem. O sol brilhava, ele se sentia bem- disposto, tivera uma excelente refeição matinal...
Era quase impossível que a vida ficasse melhor do que aquilo.
E estava a caminho para ver Penelope.
Colin escolheu não analisar o motivo pelo qual se sentia tão ansioso para encontrá-la: esse era o tipo de coisa em que um homem solteiro de 33 anos em geral escolhia não pensar. Em vez disso, apenas deliciou-se com o dia: o sol, o ar, até mesmo as três elegantes casinhas por que passou na

Rua Mount antes de vislumbrar a porta de Penelope. Não havia nada de diferente nem de original em qualquer uma delas, mas era uma manhã tão perfeita que lhe pareceram encantadoras, encostadas umas nas outras, altas, estreitas e imponentes, com sua fachada de pedras Portland cinzentas.
Era um dia maravilhoso, cálido e sereno, ensolarado e tranquilo...
A não ser pelo fato de que, quando começou a se levantar do assento, um pequeno movimento do outro lado da rua chamou a sua atenção.
Penelope.
Ela estava na esquina das Ruas Mount e Penter, onde não poderia ser vista por ninguém que estivesse olhando de dentro da residência dos Featheringtons. E estava subindo numa carruagem de aluguel.
Interessante.
Colin franziu a testa. Aquilo não era interessante. Que diabo ele estava pensando? Não era nada interessante. Talvez pudesse ser se ela fosse, digamos, um homem. Ou se a carruagem em que acabara de entrar pertencesse aos Featheringtons, em vez de ser um maltrapilho transporte de aluguel.
Mas não, aquela era Penelope, que não era um homem, em absoluto, e que entrava numa carruagem sozinha, talvez em direção a algum destino completamente inadequado, porque, se estivesse prestes a fazer algo apropriado e normal, estaria a bordo de um transporte da família Featherington. Ou, melhor, na companhia de uma de suas irmãs, de uma dama de companhia ou de qualquer outra pessoa, e não, maldita fosse, sozinha.
Aquilo não era interessante, era uma idiotice.
- Mas que mulher tola - murmurou Colin, saltando da carruagem com a intenção de correr em direção ao carro de aluguel, escancarar a porta e arrastá-la para fora.

Porém, no instante em que colocou o pé direito para fora, foi tomado pela mesma loucura que o levava a perambular pelo mundo.
A curiosidade.
Ele murmurou vários impropérios, todos direcionados a si mesmo. Não pôde se controlar. Era tão atípico de Penelope desaparecer daquela forma, num carro de aluguel, que Colin precisava saber aonde ela estava indo.
Assim, em vez de tentar colocar algum juízo na cabeça dela, mandou que o chofer seguisse a carruagem, que foi para o norte, em direção à movimentada Rua Oxford, onde, refletiu Colin, provavelmente Penelope pretendia fazer compras. Podia haver inúmeras razões pelas quais ela não estava usando a carruagem dos Featheringtons. Talvez estivesse quebrada ou, quem sabe, um dos cavalos tivesse adoecido, ou talvez ela fosse comprar um presente para alguém e quisesse fazer segredo.
Não, aquilo não fazia muito sentido. Penelope jamais sairia para fazer compras por conta própria. Levaria uma dama de companhia, uma das irmãs, ou até uma das irmãs dele. Caminhar pela Rua Oxford sozinha era pedir para ser alvo de fofocas. Uma mulher naquela posição certamente seria o assunto da próxima coluna de Lady Whistledown.
Se Lady Whistledown ainda existisse, ele lembrou. Era difícil se acostumar à vida sem ela. Ainda não se dera conta de quanto se habituara a ver seu jornal sobre a mesa do café da manhã quando estava na cidade.
E, por falar em Lady Whistledown, estava mais certo do que nunca de que ela só podia ser Eloise. Naquela manhã, fora ao Número Cinco para o desjejum com o único intuito de questioná-la, mas fora informado de que a irmã continuava indisposta e que não se juntaria à família.
Colin não deixara de notar, no entanto, que uma bandeja repleta de comida fora levada ao quarto dela. O que quer que estivesse fazendo mal à irmã, não havia afetado o seu apetite.

Os segredos de Penélope FeatheringtonOnde histórias criam vida. Descubra agora