Uma semana depois, Penelope estava atrás da escrivaninha na sala de visitas, lendo os diários de Colin e fazendo
anotações numa folha de papel à parte sempre que tinha uma pergunta ou um comentário. Ele lhe pedira ajuda para editar os textos, tarefa que ela achava emocionante.
Estava, é claro, felicíssima por ele lhe ter confiado uma função tão importante. Significava que confiava em seu julgamento, que a achava inteligente e esperta, capaz de transformar o que escrevera em algo ainda melhor.
Mas sua felicidade não se devia apenas a isso. Penelope também estava precisando de um projeto, de algo para fazer. Nos primeiros dias depois de abrir mão do Whistledown, tinha comemorado o tempo livre recém- conquistado. Era como ter férias pela primeira vez em dez anos. Havia lido como uma louca - todos os romances e livros que comprara e jamais tivera a oportunidade de ler. Fizera longas caminhadas, andara a cavalo no parque, sentara-se no pequeno pátio que ficava atrás de sua casa na Rua Mount para se deliciar com o agradável clima primaveril e com o calor do sol.
A seguir, vieram o casamento e a infinidade de detalhes que consumiram o seu tempo. Assim, não tivera muitas chances de se dar conta do que talvez estivesse faltando em sua vida.
Quando redigia a coluna, a tarefa em si não levava tanto tempo, mas ela precisava ficar sempre em estado de alerta, observando, escutando. E quando não estava escrevendo, estava pensando em escrever ou tentando desesperadamente chegar a alguma maneira inteligente deformular determinada frase até poder chegar em casa e anotá-la.
Havia sido intelectualmente envolvente, e ela não percebera até aquele momento quanto sentira falta de ser desafiada.
Estava anotando uma pergunta sobre a descrição de Colin de uma villa toscana na página 143 do volume 2 de seus diários quando o mordomo deu uma batidinha discreta à porta aberta para alertá-la de sua presença.
Penelope sorriu, encabulada. Tinha a tendência de mergulhar por completo no trabalho, e Dunwoody aprendera, com a experiência, que, se quisesse chamar a sua atenção, tinha de fazer algum barulho.
- Tem uma pessoa aqui que deseja vê-la, Sra. Bridgerton.
Penelope ergueu a vista, sorrindo. Devia ser uma das irmãs ou, talvez, um dos cunhados.
- É mesmo? Quem?
Ele deu um passo à frente e lhe entregou um cartão. Quando Penelope viu o que estava escrito, sufocou um grito, primeiro devido ao choque, depois à infelicidade. Gravado em preto clássico e imponente sobre fundo creme, havia duas palavras simples: Cressida Twombley.
Cressida Twombley? Por que diabo ela iria visitá-la?
Penelope começou a se inquietar. Cressida jamais apareceria em sua casa a não ser que fosse com um objetivo desagradável. A mulher nunca fazia nada que não fosse para alcançar um objetivo desagradável.
- Quer que eu a mande embora? - indagou Dunwoody.
- Não - respondeu Penelope, com um suspiro. Não era covarde, e Cressida Twombley não iria transformá-la em uma. - Vou recebê-la. Só me dê um instante para guardar os meus papéis. Mas...
Dunwoody parou onde estava e esperou. - Ah, deixe para lá - murmurou Penelope. - Tem certeza, Sra. Bridgerton?- Tenho. Não. - Ela gemeu. Sentia-se perturbada, e esta era mais uma coisa desagradável a ser acrescentada à já longa lista de inconveniências de Cressida: ela estava transformando Penelope numa imbecil gaguejante. - O que quero dizer é que se ela ainda não tiver ido embora depois de dez minutos, poderia inventar alguma emergência que exija a minha presença? A minha presença imediata?
- Creio que posso atendê-la.
- Ótimo, Dunwoody - exclamou Penelope, com um sorriso débil.
Aquela podia ser a saída mais fácil, mas Penelope achava que não conseguiria reconhecer o momento perfeito para insistir que Cressida fosse embora, e a última coisa que desejava era ficar presa na sala com ela a tarde inteira. Logo, precisava da ajuda de Dunwoody.
O mordomo assentiu e se retirou. Penelope juntou os papéis em uma pilha, fechou o diário de Colin e colocou-o sobre ela de maneira que a brisa que entrava pela janela não fizesse as folhas voarem de cima da mesa. Então se levantou e foi se sentar no sofá, esperando parecer relaxada e tranquila.
Como se uma visita de Cressida Twombley pudesse ser relaxante.
Um instante depois, Cressida entrou na sala após ser anunciada pelo mordomo. Como sempre, estava linda, com cada fio de cabelo dourado no lugar perfeito. A pele era impecável, os olhos, brilhantes, as roupas seguiam a última moda e a bolsa combinava perfeitamente com elas.
- Cressida, que surpresa! - disse Penelope.
"Surpresa" era a palavra mais educada que ela conseguiu pronunciar, dadas as circunstâncias.
Os lábios de Cressida se curvaram num sorriso misterioso e quase felino.
- Tenho certeza que sim - murmurou.
- Não quer se sentar? - perguntou Penelope, em grande parte porque tinha de fazê-lo.
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Os segredos de Penélope Featherington
ChickLitDa série de livros, os Bridgertons! Todos os direitos reservados a autora original - Júlia Quinn. Mudei o título para não ter perigo de exclusão!