Capítulo 20

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Alguns dias depois, Penelope retornou de uma tarde de compras com Eloise, Hyacinth e Felicity e encontrou o
marido no escritório, sentado atrás da escrivaninha. Ele lia alguma coisa, atipicamente curvado, com uma expressão meditativa.
- Colin?
Ele ergueu a cabeça de súbito. Não devia tê-la ouvido chegar, o que era surpreendente, uma vez que ela não fizera o menor esforço para ser silenciosa.
- Penelope - disse ele, levantando-se enquanto ela entrava no aposento -, como foi o... err... o que quer que tenha ido fazer na rua?
- Compras - respondeu ela, com um sorriso zombeteiro. - Fui fazer compras.
- Isso. Foi isso. - Ele transferiu o peso do corpo de um pé para o outro, discretamente. - Comprou alguma coisa?
- Um gorro - retrucou ela, tentada a acrescentar "e três anéis de diamantes", só para ver se ele estava escutando.
- Muito bem, muito bem - murmurou Colin, claramente ansioso por voltar ao que quer que estivesse sobre a sua mesa.
- O que está lendo? - perguntou Penelope.
- Nada - falou ele, quase sem pensar, então acrescentou: - Bem, na verdade, é um dos meus diários.
Em seguida assumiu uma expressão esquisita, meio envergonhada por ter sido pego e meio desafiadora, quase a incitando a perguntar mais.
- Posso dar uma olhada? - pediu ela, mantendo a voz suave e não ameaçadora.

Era estranho pensar que Colin pudesse se sentir inseguro com relação a qualquer coisa. Qualquer menção aos seus diários, no entanto, parecia suscitar uma surpreendente e tocante vulnerabilidade.
Penelope passara tanto tempo vendo-o como uma torre invencível de felicidade e animação... Era autoconfiante, bonito, querido e inteligente. Como devia ser fácil ser um Bridgerton, ela costumava pensar.
Houvera tantas vezes - mais do que conseguia contar - que voltara para casa após o chá com Eloise e sua família e, encolhida na cama, desejara ter nascido uma Bridgerton... A vida era fácil para eles. Eram inteligentes, atraentes, ricos, e parecia que todo mundo gostava deles.
E nem era possível odiá-los por isso, porque eram todos pessoas maravilhosas.
Bem, agora ela fazia parte da família, ainda que por casamento e não por nascimento, e via que era verdade: a vida era melhor como um Bridgerton, embora isso tivesse menos a ver com qualquer grande mudança do que com o fato de estar perdidamente apaixonada pelo marido e, por algum fabuloso milagre, ele se sentir da mesma forma.
Ainda assim, a vida não era perfeita, nem para os Bridgertons.
Até mesmo Colin - o menino de ouro, o homem de sorriso fácil e humor contagiante - tinha lá os seus fantasmas. Era perseguido por sonhos jamais realizados e inseguranças secretas. Como havia sido injusta ao ponderar sobre a vida dele e nunca lhe permitir fraqueza alguma...
- Não preciso ler tudo - prosseguiu ela. - Só um ou dois trechos pequenos. Você escolhe quais. Algo de que você goste especialmente.
Ele baixou os olhos para o caderno aberto, fitando-o com ar inexpressivo, como se as palavras estivessem escritas em chinês.
- Eu não saberia o que escolher - resmungou. - Na verdade, é tudo a mesma coisa.

- É claro que não é. Compreendo isso melhor do que ninguém. Eu... - De repente ela olhou à sua volta, viu que a porta estava aberta e foi fechá-la. - Já escrevi inúmeras colunas - continuou -, e posso lhe assegurar que não eram todas a mesma coisa. Algumas, eu adorei. - Ela sorriu, nostálgica, recordando a onda de satisfação e de orgulho que a invadia quando escrevia o que considerava uma edição especial. - Era delicioso, entende o que quero dizer?
Ele fez que não.
- A sensação de saber que escolheu as palavras perfeitas - prosseguiu Penelope, tentando explicar. - Só é possível apreciar isso depois de ficar horas olhando para uma folha de papel em branco sem ter a menor ideia do que escrever.
- Isso eu entendo - comentou ele.
Penelope tentou não sorrir.
- Eu sei que você também conhece a sensação de prazer.
É um escritor esplêndido, Colin. Já li o seu trabalho.
Ele ergueu a vista, assustado.
- Só um pedaço, naquela vez - assegurou-lhe ela. - Eu
jamais leria os seus cadernos sem você saber. - Ela ruborizou, recordando que lera escondida o trecho sobre a viagem dele ao Chipre. - Bem, não atualmente, pelo menos - acrescentou. - Mas estava bom, Colin. Quase mágico, e, em algum lugar do seu íntimo, você sabe disso.
Ele se limitou a fitá-la, parecendo não saber o que dizer. Era uma expressão que ela já vira diversas vezes, mas nunca nele, e era tão estranho... Quis chorar, depois quis abraçá-lo. Acima de tudo, foi tomada por uma intensa necessidade de fazê-lo sorrir de novo.
- Eu sei que você já experimentou a sensação que descrevi - insistiu. - A certeza de que escreveu algo bom. - Ela o olhou, esperançosa. - Entende o que eu quero dizer, não entende?
Colin ficou em silêncio.
- Entende, sim - afirmou ela. - Eu sei que entende. Não pode ser um escritor e não saber.

Os segredos de Penélope FeatheringtonOnde histórias criam vida. Descubra agora