Acordei com o sol atingindo meus olhos com forca, logo fiz o necessário e desci para tomar café com Cícero, afinal, o cheiro estava maravilhoso.
Quando entrei na cozinha, ele estava sentado à mesa, esfregando a testa como se o mundo estivesse sobre seus ombros, enquanto o café esfriava na xícara.
Isso me fez lembrar da tarde passada e acabei automaticamente indo verificar o resto de farinha esparramada pelo chão. Não havia mais nada. Ou seja, ele já sabia.
— Preciso ir ao hospital hoje à tarde, tenho que fazer alguns exames — Sua voz parecia uma bigorna. Me sentei ao seu lado e peguei a outra xícara vazia para me servir.
— Eu acompanho o senhor — disse, bocejando.
— O filho do Antônio Vilar voltou da Alemanha — comentou, bebericando o café em seguida.
Cícero não gostava de fofoca, mas sempre comentava novas “noticias”, como se fosse um jornal ambulante.
— Isadora deve estar feliz em ver o irmão depois de tantos anos — retruquei, imaginando o apego que ambos deveriam ter, por terem somente um ao outro de irmãos.
— Entrei em contato com o Vaticano, informando sobre a sua amiga — Pôs a xícara sobre a mesa, me pressionando com a seriedade no rosto enrugado.
— Ela não é minha amiga — Esclareci, bebendo um gole do café.
— Eu sei disso, se fosse, não teria apanhado por ela — Esbanjou um sorrisinho superficial de ironia.
O líquido desceu raspando na minha garganta, apesar de estar pura água.
— O que eles disseram? — Não me contive.
— Vão enviar um padre com mais experiência e talvez, possamos achar uma solução — explicou sem muitas voltas.
— Mas o que de fato irão fazer? Acha que Antônio Vilar vai deixá-los interferir? — As palavras se atropelavam sobre minha língua.
— Talvez não, mas foi sua própria esposa quem nos pediu ajuda, acredito que ele saiba, além disso, não há motivo para querer manter este laço com o profano — Gesticulou, quebrando a cabeça para entender as próprias palavras.
— Será que o filho deles sabe disso? — Imaginei a possibilidade.
— Isso só ele pode dizer — retrucou, inexpressivo.
Já passava das seis quando ouvi passos preenchendo o salão da igreja, enquanto limpava as escadas do confessionário.
Larguei a flanela e fui até lá sorrateiramente, permaneci no escuro das sombras do corredor, logo vozes tomara mesmo conta do ambiente de maneira tão chamativa que pareciam estar em uma discussão.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Peccato-A origem
RomanceOs destinos do futuro padre e da filha do homem mais rico da cidade se cruzam, boatos cercam sobre a fonte de tanta riqueza que surgiu repentinamente, até que os segredos obscuros por trás de tantos rumores começam a surgir para mudar a história dos...