O preço do perdão

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Marcos segurou meu rosto, observando afundo as minhas írises, enquanto suas lágrimas escorriam sobre a pele.

Aqueles segundos ficariam eternizados na minha memória e no coração.

O brilho dos seus olhos castanhos era inexplicavelmente familiar, talvez eu tivesse visto em meus sonhos. Não era devaneio, podia ter plena certeza.

— Eu sempre sonhei com você, meu garoto, meu filho! Não sabe o quanto estou feliz em saber que é real — Analisou cada fração do meu rosto, capturando os traços que o lembravam da minha mãe como uma melodia.

Eva nos observava com um sorriso fazendo suas maçãs ficarem mais proeminentes.

— Eu sempre quis conhecer vocês, me fizeram acreditar em uma mentira, eu encontrei a carta que ela deixou e só então soube a verdade — Segurei seus braços com força, querendo ter a firmeza brusca de que era tudo real.

— Por que não me disse que o havia encontrado Eva? — A lançou um olhar furtivo e retornou a mim, a felicidade tão pura transbordava através do seu sorriso.

— Eu literalmente acabei de encontrá-lo irmão — Soltou uma risadinha, acariciando minhas costas.

Graças a ela eu o havia encontrado finalmente, jamais esqueceria disso, minha gratidão seria um símbolo eterno.

— Olhe para você, é um homem já! Padre, meu filho virou padre! — Sua felicidade era contagiante.

— E a Lídia? Cadê ela? Ela sabe que estou aqui? — Seus olhos inquietos e ansiosos nos atingiram.

Teria preferido que dilacerassem meu peito e depois atuassem fogo, a ter que ver a ingenuidade com que meu pai pensava que iria vê-la conosco.

Contive o choro com toda força, porém falhei. Aquilo me arrebentou de dentro para fora.

Fui fraco outra vez. Talvez fosse o preço dos meus pecados.

— Roberto? — Pediu uma resposta, a agonia tomou conta de sua feição.

Eva não foi capaz de esboçar uma reação que amenizasse sua ansiedade.

Queria não ter o fardo de ser eu a contar a ele.

Mas eu precisava. Quem além de mim podia entender sua dor em seu âmago?

— Cadê tua mãe? Por que ela não veio com você? — Apertou os lábios entre um suspiro ansioso e outro olhar mergulhado em angústia a irmã.

Minha mãe está... minha mãe.... está morta pai, ela se matou — revelei, a voz tão baixa que virou um fio. Me senti a pior pessoa do mundo.

A notícia o tirou do chão por completo. Marcos se afastou e cambaleou, tive que segurá-lo para que não caísse, o colocando sentado no banco.

Não... não pode ser — ciciou, completamente enternecido, com um vazio dilacerante nos olhos.

— Ela se matou, tirou a própria vida um dia depois que eu nasci, eu não pude conhecê-la — balbuciei, ainda com sua mão entrelaçada a minha.

Marcos se curvou sobre os próprios joelhos e afundou o rosto entre as mãos ao me soltar. Eva se aproximou, numa tentativa de consolar.

— Eu não estava aqui... eu não estava com ela — A culpa corroía sua voz feito ácido, as lágrimas queimavam em seus olhos.

A minha Lídia.... eu... ela se foi... para sempre — Se torturava cada vez mais, entre soluços dolorosos.

— Ela não está aqui Marcos, mas tem uma parte dela bem diante dos seus olhos — proferiu Eva baixinho, me lançando um olhar orgulhoso.

Ah meu Deus! Por que ela me deixou? — Balançava a cabeça em negação.

Peccato-A origemOnde histórias criam vida. Descubra agora