Flores

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Os casamentos eram feitos na igreja, portanto a decoração (a maior parte dela) ficava por conta do padre e eu, havia senhoras que se ofereciam para ajudar às vezes, mas naquele dia, éramos só nós dois. Compramos as flores com o dinheiro que nós foi dado e da maneira que pediram, rosas vermelhas e brancas em arranjos nas pontas dos bancos junto a pedaços de fita de cetim.

Fora da igreja o céu tinha sido colorido de cinza, as nuvens carregadas pareciam querer arrebentar as nuvens a qualquer momento e as sutis pinceladas de azul límpido eram quase inexistentes.

Quando sai para limpar a calçada, voltei imediatamente e desisti, graças ao frio cortando o rosto.

— Ainda faltam esses Beto — Apontou os arranjos restantes ao lado de seu pé no chão.

— Não quero mais fazer isso — resmunguei, tamborilando os dedos no banco.

— Não quer que ela se case, é isso? — perguntou, arqueando as sobrancelhas quase imperceptíveis.

— Não — respondi, sem pensar bem.

— Não? — Repetiu, mais firme.

— Sim! Quero dizer... não, não é isso que eu quis dizer — Tentei me justificar, enroscando nas palavras.

— Se lembra de algum dia ter apanhado de vassoura? — Olhou para o teto, tentando encontrar alguma memória distante.

— Não que eu lembre — murmurei, confuso.

Cícero pegou a vassoura.

— Para tudo tem uma primeira vez né? — Veio para me dar uma bela vassourada.

Desviei da primeira, a segunda poderia ser mãos certeira.

Não contente, agarrou um arranjo e jogou em mim, fazendo pétalas voarem por todo lado.

— Lamentável, Roberto! — Balançou a cabeça em decepção, pondo a mão sobre a testa enrugada.

— Foi o senhor quem perguntou! — Me defendi, sendo franco.

— Tem perguntas que é melhor não responder! — Repreendeu, rispidamente.

— Ah! Roberto, está perdendo o juízo? — Jogou as mãos para o alto. Dei de ombros.

— O senhor está sendo hipócrita! Sabe o que Tadeu disse a respeito dela e ainda apoia este casamento fajuto? — Vociferei, sentindo o sangue ferver nas veias. Ele recuou alguns passos.

— E me condena por sentir, por minha carne ser mais forte que o meu espírito, mas ele é digno de aplausos? Enquanto eu sou sacrificado por uma simples falha! Francamente padre! — Insinuei aplausos, quando dei por mim, estava mais perto.

Os olhos dele quase saltaram para fora ao escutar aquilo.

— Filho...

— Eu não sou seu filho! — Cerrei o punho com força, sentindo as unhas quase rasgaram a pele.

O rosto do homem de idade começou a se contorcer, sua boca se abriu numa tentativa de murmurar algo, porém tudo que saiu foi um gemido de dor excruciante. Deu corpo cedeu ao chão e tentei segurá-lo por instinto, falhando miseravelmente.

— Padre! O que o senhor tem? — balbuciei, entrando em desespero pela falta de comunicação.

Ele apenas gemia de dor e levou a mão ao centro do peito, onde o coração deveria estar prestes a entrar em colapso. O deixei deitado no chão e corria para chamar ajuda na rua.

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