O início do martírio

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*Capítulo narrado pela Isadora*

Desde muito nova sempre fui acostumada com o melhor do que o dinheiro poderia proporcionar, embora meu pai não fosse tão rico quanto tinha se tornado, tinha uma boa condição social, mas a sua ganância tinha ido longe demais, ultrapassado os limites da honra, da dignidade... e o preço a ser pago era muito mais valioso do que dinheiro.

— Como está o Beto? — Perguntei a Miguel, assim que entrou no quarto.

— Eu só o vi voltando para a igreja, o padre ficou lá, depois de toda aquela confusão, tentando acalmar a mãe do Tadeu — explicou, suspirando preguiçosamente.

— Precisa sair dessa cidade Dorinha, isso não vai parar, a escolha do nosso pai coloca você em risco — Acariciou meus cabelos carinhosamente.

— Não Tuca... não adianta, não importa aonde eu for, o diabo é um só e quer o que foi prometido no pacto, ele quer a minha alma — Abracei meus próprios braços, sentindo os olhos encherem.

— Não, não, ninguém vai te machucar, eu dou minha vida se precisar — Me envolveu num abraço forte, instintivamente protetor, senti meu mundo inteiro naquele abraço apertado.

— Ontem, aquilo... foi um aviso, de que o tempo está se esgotando — Estremeci só de pensar, caindo no choro.

— Eu troco minha alma pela sua Isa, o Zé do garfo não vai te levar, dou minha palavra — Acariciou minhas costas como se eu ainda fosse uma criança desamparada, assustada.

Em meio àquela situação medíocre, ele me fez dar risada. 

Abri os olhos em meio a penumbra da noite, às cortinas balançavam trazendo os ventos frios, despertando após ter caído no sono, Miguel já não estava do meu lado, quando de repente, senti um incômodo repentino na garganta

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Abri os olhos em meio a penumbra da noite, às cortinas balançavam trazendo os ventos frios, despertando após ter caído no sono, Miguel já não estava do meu lado, quando de repente, senti um incômodo repentino na garganta.

Levantei para ir pegar um copo d’água e meus pés descalços pisaram em algo gélido no chão. Uma moeda. De repente o quarto foi tomado por um cheiro fortíssimo de enxofre que ardeu minhas narinas, causando ânsia.

Quando me ergui, a sensação de estar sendo vigiada surgiu de novo, me virei completamente arrepiada e encarei o espelho, me deparando com a criatura pavorosa nele, bem atrás de mim, tinha olhos amarelos, a cabeça de um bode, chifres de carneiro e um corpo de homem, exceto pelos pés também de bode e o sorriso macabro quase humano.

“Não pode me enganar”

O grito que soltei ficou preso a garganta, me sufocando, fui arremessada por uma força invisível, passando por cima da cama bruscamente e caindo no chão do outro lado do quarto.

Quando me arrastei no piso, senti meus dedos ficarem dormentes, e embaixo da cama pude ver aqueles pés horripilantes andarem até à beirada do lado oposto onde eu tinha caído.

Gritei tão alto que meus ouvidos doeram, tentei me mover para fugir, todavia todo meu corpo paralisou, cada músculo rígido feito pedra, afugentada, e quando me dei conta, estava diante de mim, antes de me olhar e passar a unha longa e fina por meu rosto e despejar algo dentro da minha boca que se abriu contra minha vontade.

Peccato-A origemOnde histórias criam vida. Descubra agora