A dança

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Acabei dormindo deitado no chão, ao lado da cama de Isadora. Quando acordei, o sol já tinha tomado o céu lá fora, me levantei todo dolorido.

Miguel e sua mãe não estavam, a porta estava entreaberta, fechei as janelas por precaução, as cortinas balançando atingiram meu rosto.

— Beto — A voz frágil me atingiu.
Ela havia acordado, estava normal, consciente, apesar de fraca, muito fraca.

— Você está bem? — Esticou os dedos com dificuldade, eu entrelacei aos meus.

— Nada que acontecer comigo importa, é você quem tem que ser protegida minha querida — Acariciei sua bochecha pálida suavemente.

— Você poderia ter morrido... por mim — Seus olhos transmitiam o peso de uma culpa injusta.

— E morreria feliz, porque não desistiria nem por um segundo de tentar te salvar, Isadora eu te amo — Beijei o dorso de sua mão, lhe arrancando um sorriso fraco.

Eu sei, eu sempre soube, e estar aqui, é a maior prova disso... eu tenho dois pedidos, poderia fazer isso por mim? — Sorriu, apertando minha mão com a pouca força em si.

— É claro que sim — Assenti.

— Preciso de um banho, se vou morrer, preciso do mínimo de dignidade e higiene antes, o segundo... — Soltou um suspiro de desconforto.

— Quero que dance comigo, tem uma vitrola no quarto da minha mãe, me leve até lá depois do banho — pediu, com um brilho tomando os olhos castanhos tão adoráveis.

— Está muito fraca, talvez não seja bom fazer tanto esforço...

— Roberto... por favor, é meu último pedido, só você pode realizá-lo — Firmou o olhar sobre mim, quase suplicando.

Me senti pressionado, mas acima de tudo, no dever de fazer isso.

— Não me peça desse jeito — falei, me levantando da beira do colchão.

— Tem que aceitar a realidade — disse baixinho.

— Não fale como se estivesse se despedindo de mim — Me neguei a digerir aquilo.

— Quantas sessões de exorcismo acha que eu consigo suportar? Beto... estou cansada — sibilou a voz virando um fio até desaparecer.

— Vou chamar sua mãe, ela vai te ajudar a tomar banho — Avisei, segurando o choro na garganta.

Avisei a Celina sobre os pedidos de Isadora, ela me sugeriu que também tomasse um banho e depois pegasse roupas de Miguel emprestadas, pois estava imundo e à beira de um resfriado.

Mastiguei um pedaço de pão que ela me ofereceu, desceu feito um bolo de arame com fel, eu simplesmente não sentia nada além de angústia, do medo de que algo pior acontecesse.

Depois que Isadora terminou, eu tomei um banho para me sentir razoavelmente melhor.

Quando sai, só conseguia pensar na noite anterior, no pavor que senti de perdê-la. Para alguns poderia parecer pouco tempo, mas para mim, nossos dias eram a eternidade.

— O que acha que aconteceu com Tadeu? — Miguem me surpreendeu, assim que terminei de me vestir com sua calça suspensório e os sapatos de couro.

— Não faço ideia, mas ele não era muito querido, exceto pela família — Pressionei os lábios com força.

Aquilo soou um tanto... suspeito.

— De fato, ninguém sentiria a morte dele além deles, mas... você faria algo assim? — Mexeu no cabelo, ainda bocejando.

Peccato-A origemOnde histórias criam vida. Descubra agora