𝕬 𝖒𝖆𝖑𝖉𝖎𝖙𝖆 𝖆𝖕𝖔𝖘𝖙𝖆

07-

Anny

Meu irmão anda muito estranho comigo, sei que pega no meu pé por causa de tudo que já sofri e até entendo isso, só que às vezes ele exagera, tanto que chega até me trancar dentro do quarto para garantir minha "segurança". Mas apesar dele ser um protetor bastante possessivo, seus conselhos me fizeram voltar um pouco para realidade, já que até agora eu estava vivendo em um conto de fadas.

Os traumas dificultavam que eu voltasse a confiar em alguém totalmente, e por mais que eu tenha ficado boba com tanta gentileza vindo de Tyler, algo de ruim tocava meu coração como se já estivesse prevendo o estrago que ele faria em mim. Mas, e se eu só estiver me precipitando ?

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Os dias na escola nova passavam rápido, e toda vez que eu olhava o calendário estava cada vez mais próximo da temida festa que fui convidada. Não sei como me sairei, nunca fui em nenhuma festa e essa seria minha primeira. Será mesmo que ele vai me proteger ? Me sinto tão insegura comigo mesma que não consigo pensar em nada de bom

"Bom dia" - me assusto com o barulho da mochila de Tyler sendo jogada na mesa ao lado da minha, e em seguida ouço sua voz falar um "bom dia" às vezes penso que esse garoto não bate bem da cabeça -

"Bom dia" - respondo dando um sorriso fraco, vejo ele sentar na cadeira ao lado sem tirar seus olhos de mim, será que tem alguma coisa de errada comigo ? Não, não pode ser isso. Mas o olhar dele está... Diferente -

"Ansiosa pra festa ?" - vejo seu olhar descer dos meus olhos até minha boca repetidamente. Nesses quatros dias estudando e convivendo com ele nunca o vi me olhar daquela forma. Bom, até que hoje sai um pouco da minha zona de conforto: Soltei meu cabelo, passei lápis preto na minha linha d'água e um gloss de morango nos lábios. Mas isso são coisas básicas, porque ele tá me olhando como se eu fosse uma palhaça pintada ? -

"Acho que não seja uma boa ideia eu..."

"Qual é Anny, não começa" - sinto sua mão por cima da minha e acho que meu coração nesse momento vai sair do peito - "já te disse que não vai acontecer nada com você, eu não vou deixar"

A professora entra em sala não me deixando falar nada, e ele retira sua mão de mim. Mas ainda posso sentir o calor que sua mão transmitiu pra minha, e isso é tão... Bom. Sorrio como boba enquanto o olho discretamente.

"Meu rosto vai abrir um buraco com você me olhando assim" - sinto meu coração acelerar de tanto nervosismo que senti em escutar aquilo e desvio meu olhar dele -

"Desculpa" - digo sem graça -

"Não tô reclamando" - paraliso antes de falar ou fazer qualquer coisa, e quando o olho ele já estava com seus olhos em mim, por um momento me perguntei se isso era apenas um colapso da minha cabeça. -

Nossos olhos ainda permaneciam fixos um no outro, não conseguia controlar meus estímulos e desci meu olhar para cada detalhe do seu rosto que mais parecia ter sido esculpido pelos Deuses.

Não consigo falar nada, apenas abro meu caderno escrevendo qualquer coisa como forma de me acalmar, até que escuto um barulho de folha sendo descartada do seu caderno, dou uma olhada discreta para ver oque ele vai fazer e o vejo escrevendo alguma coisa. Tento não prestar tanta atenção e foco no que estou fazendo, mas então vejo sua mão se aproximar ainda mais da minha mesa e acho que meu coração não se encontra mais no peito quando vejo um bilhete "É PRA MIM ?!".

Com a mão trêmula de nervosa eu pego aquele bilhete e o guardo no meu estojo de lápis, não conseguiria ler naquele momento com ele me encarando.

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Após duas aulas de Química e uma de Sociologia, o sinal do intervalo toca e todos saem da sala. Olho de lado quando escuto a cadeira ser arrastada para trás e vejo o sorriso fraco de Tyler ao me olhar uma última vez antes de sair também. Respiro fundo tomando coragem e abro o bilhete

Aceita tomar sorvete
comigo depois da aula ?

É isso mesmo que meus olhos estão lendo ? Baixo aquele papel da minha visão e começo pensar em um turbilhão de coisas, como assim o garoto mais lindo da escola quer tomar sorvete comigo ? Dobro aquele papel e o guardo no meu estojo novamente, jogo meu corpo pra trás sorrindo como uma idiota. Nunca na minha vida um garoto foi gentil comigo, nunca um garoto me chamou de linda, nunca um garoto me chamou para ir a uma festa, e nunca me convidaram pra tomar sorvete. Tyler estava sendo meu primeiro em tudo, nem acredito que isso é verdade

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"E então, você vai comigo ?" - minha mente viajou tanto que sequer percebi os minutos se passarem, olho de lado e vejo Tyler e todos os outros de volta as suas carteiras -

"Si-sim" - é a única coisa que consigo responder -

"Porque fica assim quando estou perto de você ?"

"É só o meu jeito" - digo sem encará-lo -
"desculpa, sei que é estranho"

"Na verdade, você fica fofa assim" - arregalo os olhos sentindo minhas bochechas queimarem -

E antes que eu pudesse falar alguma coisa, a professora pediu silêncio a todos da turma que já ia começar a quarta aula.

Ainda estou sem acreditar que vou sair com esse gostoso.