2. Confusão

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Ressaca - Jão

Eu já admiti

Que eu não sei mais partir

E de bar em bar, terminei no mar

E encontrei minha ressaca

E de bar em bar, qual é o meu lugar?

Se eu me solto, você me arrasta

POV Kath

Desespero. Esse é o melhor sentimento que pode descrever o que passa por meu corpo agora diante das perguntas de Lin. Não só essas. Desde o momento em que meu celular tocou, uma semana atrás, quando me falaram que ela havia se afogado e perdido a memória, desde então eu vivo num constante sentimento de confusão e desespero. Eu sinto a real vontade de sumir.

Eu não sabia o que lhe dizer, eu não conhecia essa mulher na minha frente. Desde o momento em que entrei naquele quarto de hospital e olhei em seus olhos de jabuticaba eu sabia que ela não estava ali. Tanto que quis ter certeza de que essa não era uma gêmea perdida que resolveu matar a antiga Lin e tomar seu lugar. Tive meus meios para ter essa minha certeza e confirmar que sim, essa era Lin, ou ao menos, esse era seu corpo, seu rosto e todas suas características físicas, até os mínimos detalhes de pintas e cicatrizes que eu conseguia reconhecer.

Mas essa não era a Lin que eu conhecia. Não era seu sorriso, ou seu olhar. Nem mesmo sua voz estava na entonação certa. Eu me sentia perdida, o tempo todo. Bombardeada com suas perguntas sobre quem ela era. Mas nem eu mesma sabia quem ela era.

Eu sabia quem era a antiga Lin. Eu conhecia seus gostos, e principalmente, as coisas das quais ela não gostava. Sabia sua rotina e tudo o que ela me diria; ou não diria e eu teria que adivinhar. Com o tempo eu me acostumei com seu jeito, me acostumei com tudo, com nossa rotina e nossa vida. Me acostumei com aquela mulher que dividi minha vida por mais de cinco anos. Mas seu cheiro, até seu cheiro era diferente nessa nova mulher.

Lin ainda aguardava uma resposta à sua pergunta e mais uma vez eu só conseguia ser evasiva. Eu ainda não sabia como iria lidar com aquilo, não sabia como explicar para aquela mulher completamente diferente e desconhecida para mim o que era ou como era nosso relacionamento. Nem eu sabia mais o que eu tinha com ela.

- Não se preocupe com isso Lin, você tem muita coisa com que se adaptar.

A mulher apenas acena com a cabeça e volta a se concentrar em terminar de jantar. Essa era sua atitude muitas das vezes. Ela nunca insistia em nada ou me pressionava a lhe dizer as coisas. Ela aceitava minhas respostas vazias ou as vezes a falta delas de uma forma compreensiva. Compreensiva até demais.

- Eu vou subir agora, tá? Se precisar de algo é só me chamar.

Saio dali o mais rápido possível depois que ela apenas ignorou minha despedida. Procurei apenas fugir dali, sendo essa a única coisa que eu estava sendo capaz de fazer ultimamente.

Observo minhas malas em frente a minha cama antes de deitar, pensando no que fazer, como lidar com aquela mentira que lhe contei mais cedo. Devia voltar minhas coisas pro lugar ou simplesmente manter guardado no quarto de visitas? Eu fiz o certo, não? Ficar no mesmo quarto, dormir na mesma cama que ela seria tão ou mais desconfortável como tem sido até só ficar no mesmo cômodo com Lin. E lhe dizer que aquelas malas eram com roupas minhas e não para doação como lhe disse, causariam perguntas nas quais eu não estava pronta para responder.

Me reviro na cama, sem conseguir pensar em nada de forma concreta. Fecho os olhos e minha mente se enche com o olhar que ela me deu assim que entrei no quarto do hospital naquele reencontro. A preocupação que eu sentia pelo que estava lhe acontecendo, e então, o sentimento de confusão ao encontrar uma pessoa totalmente nova, que me olhava de um jeito que eu jamais tinha sido vista, por ninguém, muito menos por ela.

Enquanto eu te Esquecia (KathLin)Onde histórias criam vida. Descubra agora