Sou um pronome encaixado a um advérbio que menospreza a ação do verbo. Mas, na verdade, não há outra forma de mostrar o verbo sem a ação. Ele não é apenas longas falas de um senhor de idade que conta mil histórias de sua vida passageira e difícil de encarar. É uma arte. Arte que não sei se sou ou se apenas...
Apenas...
As penas...
Há penas.
Penas.
Pena.
Que pena...Sinto.
Sim.
Tô.
Eu.
Sinto.Sabe aquele constante hábito de notar o quanto tentei mudar para fazer parte de algo tão superficial?
Eu sinto.
Sabe quando você percebe que é sua própria armadilha diária, como se fosse um rato querendo liberdade ao sair de seu esconderijo e na sua frente encontra-se uma grande ratoeira?
Eu também sinto.
Sabe quando você desacredita que pode voltar a ser feliz após um longo tempo de crises?
Eu já senti isso também.
Eu não me lembro o exato dia em que me tornei tão profundo. Mas tenho a sensação de que tenha me tornado assim por um longo período. Não foi um dia só determinante para me descobrir. Não foram dois. Não foram três. Não foram unidades. No tempo do profundo, unidade não existe. Nem eu, agora. Talvez. Na verdade, eu não vivo. Eu apenas existo. Sobreviver é meu sinônimo.
Quando se é profundo, nada mais do superficial te distrai do seu objetivo. Nada mais o interessa. É pouca água para um oceano. É pouco tempo para um intenso. É pouca arte para uma vida. É pouco para o pouco.
E estou falando sobre a nossa vida. Sobre nosso mundo. Você que lê isso. Você que engole letra por letra. Palavra por palavra. Você que se delicia com cada adjetivo aqui escrito. Sei que sente o mesmo. Eu também sinto.
Sinto falta de quando era ignorante. De quanto me servia de bandeja para a sociedade fazer o que quisesse de mim. Era dominado por padrões, por achismos sobre minha pessoa. Era a síntese de um projeto que eles mesmos criaram. Mas, como posso viver estando preso em um papel branco cartolina? Como me comunico com aqueles que não aprenderam a olhar através da pele? Como poderia eu, com tanto propósito, permitir ser uma peça do quebra-cabeça de outra pessoa? Eu não sou isso. Mas, ao mesmo tempo, é tão mais fácil. Eles parecem tão perfeitos. Mas não são.
Apenas cópias.
Da mesma tinta,
Da mesma cor,
Da mesma forma.
E do mesmo amor.Eu sei, eu também sinto.
Profundo sou.
Do corpo que tenho,
Da alma que ganhei,
Do rosto que mostro.
E da arte que com o vivo (convivo).Eu sei, você também sente.
Sentimos os humanos.
Somos humanos.
Desejamos os humanos.
Amamos os humanos.
Nós também dominamos os humanos.Eu sei, nós também sentimos.
S
E
N
T
I
R
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MIL VIDAS
PoetryVocê já teve a coragem de se perguntar: "Quem Sou Eu?" O que é a vida e como buscar a sua verdadeira identidade? Qual é a sua missão neste mundo tão vasto? Em "Mil Vidas," a diversidade de gêneros literários busca revelar a essência da alma humana...