Memórias de Infância

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Ainda gosto de correr naquela rua, a três quarteirões de minha casa. Eu lembro de tudo. De quando o pôr do sol compunha aquela paisagem e os carros pareciam pequenas máquinas de próximos destinos. O vento balançava meus cabelos lisos e loiros. A minha blusa branca amarrotada e a minha bermuda de sempre. Ainda lembro daquele supermercado de esquina. Tudo era tão organizado e barato. Eu ainda lembro de quando eu subia nos troncos das árvores, de quando ali ficava. De quando sentia aquele cheiro de mato fresco e suave. De quando eu corria em busca de um sentido que eu sabia que não tinha fim. De quando aquele parquinho curou-me de todos os problemas que eu passava, rápido. Saudades de quando a grama me tocava, de quando eu deitava nela e ali eu fazia um mundo que era só meu, saudades de quando eu via as pessoas e pensava, poxa, são infinitas vidas e a minha é a mais preciosa. Saudades de brincar. Saudades. Muitas saudades. Aquelas ruas eram tão cheias de mistérios, tão cheias de vidas. Mas de repente eu cresci e tudo se tornou tão sem graça, tão efêmero. As ruas me dão medo, nelas moram as minhas inseguranças; nas roupas moram as minhas lamentações e as lágrimas de meu choro durante toda a madrugada. As árvores já estão cortadas, o vento já não bate mais leve e puro como antes, o mercado já não é mais tão interessante. E o sol hoje deseja me matar com seu brilho e o seu calor. Então, já não sei mais sobre nada e já não tenho capacidade de continuar tudo isso. Simplesmente cresci da pior forma como eu nunca tinha antes imaginado.

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