Impressões De Mundo

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Vivo pela primeira impressão do mundo, porque a segunda me entristece e a terceira arranca os órgãos e a pele do meu corpo. Há muito tempo atrás, vivi. A forma como andava era diferente do que considero hoje. Nunca antes presenciei tamanha ternura em viver e prestigiar uma vida que é minha. Cuidei de outras vidas que já não me cabiam mais cuidar. Na verdade, se elas não possuíam a mesma alma do meu corpo arrebentado, já não eram parte minha e por não serem de minha pessoa, já não poderiam ter o cuidado das mesmas mãos que escrevem isto. É possível entender o que digo sentindo, porque se a forma de explicar limita o complexo do que existe, do que é, ela já não pode ser mais aplicada. Vivo nesta constante incerteza de vida, mas logo sou agraciado pela gentileza desta terra morta, que me convence que já possuo alguma certeza. Certezas estas que talvez, em algum momento aleatório que me encontre na infelicidade, explique o porquê ainda insisto na miserável e inútil ideia de existir. Ou, se mais ousado ainda, sobreviver. Mais iludido possível, viver.

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