CAPÍTULO 01

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Sentia-se como se tivesse indo ao inferno e voltando a cada vez que tentava, falhamente, pisar no chão. Por sua teimosia nata tentou mais uma vez, sofrendo as consequências. O relógio parou quase que no mesmo instante que seu corpo caiu no gramado pela segunda vez naquele curto espaço de tempo. O grito que saiu de sua garganta vinha diretamente do âmago de sua alma. Praguejou aos céus ao perceber o que aquilo significava: teria que sair de campo.

Ainda jogado no chão, levantou a perna esquerda, tentando visualizar seu próprio tornozelo, não poderia ser algo tão grave. Os torcedores estavam fazendo barulho, mais do que o habitual enquanto o lance passava no telão, chamando sua atenção. Antes de alcançar a bola lançada por Mahomes, tinha levado um forte golpe na cabeça de um dos bloqueadores dos Ravens. Mas o que fez o homem fazer uma careta foi observar seu pé virando quando aterrissou no chão com a bola em mãos. Ao menos tinha feito o touchdown, se consolou. É tirado de seu momento de se auto-vangloriar quando os paramédicos se agachavam ao seu lado.

— Acha que consegue pôr os pés no chão,  Kelce?

Era óbvio que não podia, já havia tentando fazê-lo e por isso estava no chão novamente. Controlou a resposta sarcástica que ansiava sair pelos seus lábios e apenas respondeu com um balançar negativamente de cabeça.

— Ok, vamos providenciar retirá-lo daqui, alguma coisa mais dói?

— Não,  eu só estou com uma dor … uma dor

— Dor onde, Kelce? – Reid, seu coach, se aproximou, preocupado. Travis não era de reclamar.

— Na cabeça. – resmungou levando a mão ao local — Acho que o impacto não foi nada legal.

As vozes ao seu redor pareciam distantes, o grito da torcida já não era mais audível aos seus ouvidos. A visão começou a ficar levemente turva. Não sabia o que doía mais, seu tornozelo, sua cabeça ou o fato de agora definitivamente ter a certeza de que não voltaria ao campo naquele dia.


————— • [horas depois] • —————


Abriu os olhos vagamente, só conseguia ver a silhueta loira andando de um lado ao outro da sala falando ao telefone, na verdade, estava discutindo.

— Joe, já falamos sobre isso várias vezes. Não tem como eu me mudar para a Inglaterra.  Você está louco? Eu tenho uma vida aqui, sei que vir pra Kansas City não é uma decisão que você gostou muito, mas é minha decisão, é a minha vida … Não Joe, não distorça o que eu tô falando, é claro que você faz parte da minha vida. Mas é… Aqui eu tô tendo uma grande oportunidade de crescer profissionalmente, você sabe o quão vai ser bom ser reconhecida… Pelo amor de Deus, não é porque eu estou convivendo com esses homens que eu vou me envolver com um deles,  eles nem fazem meu tipo… Aí, mais tarde conversamos, pode ser? – uma pausa de pelo menos 15 segundos foi feita até que a voz angelical pudesse ecoar novamente pelo recinto — Tá bem… Tchau.

— Devo confessar que me senti um pouco ofendido, como assim não faz seu tipo? Pensei que eu fosse o tipo de todas – O homem de 1,96 resolveu falar pela primeira vez naquele enorme espaço. Se encontrava na ala de reabilitação do estádio, reconheceu facilmente pelas macas e aparelhos ali presentes.

— Sabia que é feio ouvir as conversas dos outros? – respondeu, com as bochechas levemente coradas e uma vontade enorme de se esconder.

— Sabia que não é bacana usar o celular pra discutir relacionamentozinho no horário de trabalho? – devolveu na mesma petulância, ao observar que a mulher usava um jaleco branco. “ T.A. Swift” estava bordado em letras verdes.

O que falam de Taylor Alison Swift? Estava no auge dos seus vinte e nove anos, formada em Fisioterapia desde os vinte e três, afinal começará a faculdade bem nova. Quando começou a faculdade nunca se imaginou trabalhando com atletas, mas após um estágio nesse meio, não conseguiu mais se desvincular. Foram anos de muita dedicação  para chegar onde estava: a mais nova fisioterapeuta do atual time campeão do Superbowl. Era seu terceiro dia no novo emprego, havia se mudado para cidade de Kansas há pouco mais de duas semanas, tudo era um pouco novo, mas divertido. Ser fisioterapeuta não era seu sonho quando criança, mas se tornou a opção segura a seguir.

Os olhos azuis encaravam os esverdeados com uma certa ira. “Quem esse homem pensa que é? Não é porque ele tem 2 superbowl que ele está no topo do mundo” , na medida que os olhos do rapaz a encaravam com curiosidade e diversão, com certeza havia notado a irritabilidade na feição da mulher.

— O que foi, loira? O gato comeu sua língua? – Provocou, erguendo as sobrancelhas e cruzando os braços atrás da cabeça, exibindo os músculos bem desenhados do mesmo. Não deixou de notar o olhar da “T.A. Swift” se direcionar para aquela direção, mesmo que por milésimos de segundo.

— Doutora Swift.

— O que disse?

— Meu nome não é “loira”, pode me chamar de Doutora Swift. Ou apenas Swift, como preferir. – Se aproximou da maca apenas o suficiente para entregar os papéis em suas mãos ao homem — Estarei esses dias na sua casa, exatamente nesses horários, faremos reabilitação para tratar dessa lesão no tornozelo, faremos o possível e o impossível para você voltar antes do meio de temporada. – O homem engasgou com a própria saliva, assustado “Meio da temporada? Mas que por-”. — Você teve uma entorse e distensão do tornozelo grau 2, vai precisar de muita fisioterapia e repouso, o indicado é que já saia daqui usando uma bota imobilizadora. A partir de segunda-feira iremos começar as sessões. – Fez uma pequena pausa, e antes que pudesse continuar foi interrompida pelo homem.

— Calma aí loira. — Novamente o maldito apelido, fazendo Taylor respirar fundo para não revirar os olhos. Definitivamente ela odiava Travis Kelce. — Como assim "meio da temporada” ? E o time?

— Senhor Kelce, essa lesão precisa de todo o cuidado inicial para que você tenha o melhor desempenho futuramente, não é algo simples. Mas também não é o fim do mundo, o time vai saber lidar com sua ausência temporária. – Colocou uma mecha dos fios loiros atrás da orelha. — Mais alguma dúvida?

Não obteve resposta, apenas um Travis emburrado balançando a cabeça negativamente. Entendeu aquilo como um sinal de “me deixe sozinho”, não disse mais nada, apenas pediu licença e se direcionou para fora da sala, escutando em seguida barulho de algo ser jogado na parede. Okay, definitivamente depois da sessão de implicância protagonizada pelo rapaz, ela com certeza não era uma grande fã do mesmo. Entretanto, conseguia compreender sua raiva e frustração, dizer pra um atleta que ele não vai poder jogar tão cedo é algo delicado, já havia passado por esse cenário outras vezes.

Notas: Então... Espero que gostem! Me falem nos comentários o que estão achando, críticas são muito boas desde que sejam construtivas.  E perdão se tiver algum erro! Tentei corrigir mas estou tão cansada que já li tantas vezes que não consigo sinalizar mais nada.

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