delicate.

Lewis

As semanas de descanso acabaram, eu voltei pra fabrica por um tempo antes de finalmente poder ir para Bahrein. As sessões de teste com meu novo companheiro de equipe, o carro novo parecia bom. Mas nada disso parecia importante quando eu pensava que precisava ser forte pra ignorar o Sebastian.

— Vai ficar aqui?

Encaro Angela que estava na porta do motorhome. Meu corpo estava estirado na cama e eu sentia um pouco do cansaço mental atingir o físico.

— Acho que vou, tá confortável.

— Sabe que o Sebastian já chegou né? O motorhome dele tá quase aqui do lado, mas ele deve ter ido para o hotel. Bom, eu vou indo também, Bono está me esperando. Até amanhã, Lewis!

Ela sai acenando e bate a porta, meus olhos alcançam meu celular do outro lado da mesa. Sebastian não havia mandado uma mensagem desde nossa ultima conversa e as que eu mandava ele respondia de forma curta e encerrava logo qualquer assunto. Eu sabia que não podia reclamar nem nada, mas isso me estressava um pouco. Não podíamos ser amigos porque transamos uma vez? Eu estive aqui gostando dele por tempos.

Resolvo me levantar para tomar um ar, calço meus tênis e visto um casaco saindo logo em seguida. O vento gelado me atinge e eu enfio as mãos nos bolsos, perto dali tinham uns banquinhos e eu vou até lá para me sentar, o céu estava estrelado e a lua enorme. Assim que me sento ouço passos e me viro para ver quem estava ali.

Seus cabelos estavam molhados e ele usava fones de ouvidos, então não me ouviu quando seu nome escapou acidentalmente de minha boca. Penso em me levantar mas ele para um pouco a frente e puxa o fone e se vira. Assim que me vê seu semblante muda de forma rápida.

— Ah, é você. Esperando a Angela?

— Não, na verdade eu vou ficar no motor...

— Ah sim, bom, eu vou dormir, boa noite, Lewis.

— O que você estava escutando?

Ele engole a seco como se tivesse sido pego de surpresa fazendo algo que não devia, meus dedos se juntam de forma nervosa naquele silêncio. Podia ouvir sua respiração leve, então ele encara a tela do celular e balança os ombros.

— Steve Lacy, você disse uma vez que gostava.

— Qual? — ele não esboçava nenhuma reação mas meu sorriso havia crescido muito e meu coração estava acelerado por ele lembrar daquilo.

— Estou ouvindo o The Lo-Fis. Infrunami. Mas enfim, Lewis, eu vou dormir e você deveria também. Está tarde.

Ele estava sendo curto e grosso, sinto meu sorriso sumir e balanço a cabeça, aquilo me deixava extremamente irritado. Se ele não tivesse me beijado talvez as coisas não estivessem assim!

— Você está sendo tão dramático, Sebastian.

— Eu? Lewis você tá de brincadeira, só pode né!

— Nós somos melhores amigos, cara, transamos uma vez e tudo ficou assim.

Ele ri de forma sarcástica, eu me levanto pra ir embora e ele se aproxima me segurando pelo braço para que eu o olhasse de novo.

— Nós não só transamos e você sabe disso, Lewis. Não é possível que você não veja o que tá na sua cara! Tudo bem não querer largar essa sua vida de festas e putaria pra ficar comigo mas assume essa merda e não venha querer me colocar como dramático, porra!

Nunca havia escutado tantos palavrões saindo da boca dele em tão pouco tempo. Engulo a seco com a proximidade e suas mãos em meus braços o apertando.

— Sebastian, de que merda você tá falando?

— Estou falando que você é um covarde que não consegue se relacionar com ninguém sério por mais de uma semana. Você sabe disso e não estou nem falando só de mim, estou falando de todas as mulheres que você se relacionou nos últimos anos desde a Nicole. Nunca durou porque você não quis, porque você não consegue largar essa vida de baladas, pessoas te bajulando e te dando atenção. Faz bem pro seu ego.

Sinto uma raiva imensa tomar conta de mim e empurro ele começando a andar na direção do motorhome, mas posso ouvir seus passos e sua respiração ofegante.

— Você não sabe a merda que você, está falando, Sebastian. O problema nunca foi esse.

— Então qual era?

— Quer saber? — abro a porta mas não entro, apenas me viro para apontar o dedo pra ele. — Eu não conseguia entrar num relacionamento porque estava apaixonado por você, seu babaca, você estava vivendo sua vida feliz na porra de uma fazenda de abelhas com sua família perfeita, mas eu estava aqui escondendo essa porra desse sentimento desgastante e pensando em como eu deveria te poupar disso porque não queria estragar seu casamento. Mas quer saber? Agora eu quero pensar um pouco em mim, quero ser um pouco mesquinho antes de me jogar num relacionamento que eu nem sei se é recíproco. Uma noite de sexo não me fez ter toda a certeza do mundo que você sente por mim o que eu sinto por você e eu cansei de me machucar com esses sentimentos.

— Lewis... — ele fala em um tom baixo e eu respiro fundo.

— Não, Sebastian. Eu estou falando! Você acabou de sair de um casamento e eu sei que você amava aquela mulher, sei que você amava muito e isso não se muda nem se esquece da noite pro dia. Eu e você não podemos ficar justos agora e você não tem noção do quanto eu quero você, das coisas que eu faria pra isso dar certo mas não vai dar se nos precipitarmos assim.

Ele fica calado por um tempo e suspira como se tivesse prendido o ar por um tempo e volta a falar.

— Lembra quando saímos pela primeira vez sozinhos?

— O que?

— Não lembro onde era mas fomos ao cinema assistir A Hora do Espanto mas a sessão estava cheia e era a última, acabamos assistindo Loucamente Apaixonados. Eu nunca te disse que odiava filmes de terror mas tinha a esperança de poder segurar sua mão toda vez que você se assustasse, acabou que foi muito melhor assistir um romance porque eu lembro perfeitamente quando você encostou no meu ombro e chorou. Eu quis te beijar naquela noite, mas fiquei com medo. Não acho justo você dizer que eu não posso retribuir seus sentimentos quando desde aquela noite eu quis te beijar varias vezes.

Ele estava próximo de novo, sua voz ecoava na minha cabeça tão tranquila que me deixava entorpecido.

— Seb... eu não quero me machucar e nem quero te machucar.

— Nós sempre damos um jeito nas coisas juntos.

Juntos.

Meu coração estava acelerado e eu podia sentir minha mão suando. Era como se minha pressão estivesse baixa e eu precisava me segurar nele para não cair. Foi quando tudo aconteceu.