chaves

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  - Athim!

  - Saúde, Lys.

  - Uff! Temos que limpar esse porão o mais rápido possível - Lysandre se levanta do sofá e segue em direção à escada - Agora está meio tarde, acho melhor irmos.

   Olho no meu celular e já são (20:10). Estou vegetando no sofá do porão com o Lysandre desde o fim da última aula. Já se passaram quase 2 horas e eu ainda não consegui ter sequer um mínimo resquício de criatividade para uma nova música. Depois daquele dia, parece que ficou mais difícil as letras surgirem na minha cabeça. A maioria das músicas foi composta pelo Albino, mas havia uma minoria que era sua, que expressava os seus sentimentos.

   "Por que antes parecia tão mais fácil? Será que era por causa dela?"

   - Castiel, ficará aí?

   - Não, eu já vou. - Saio do sofá, abandonando algumas raízes.

   - Precisa de uma carona? O Leith vem me buscar hoje, tenho certeza de que ele não vai se incomodar de levar você.

   - Não, eu quero tomar um ar.

   - Entendo, então tenha uma boa noite e até amanhã.

   - Até.

   Junto a minha mochila no canto e saio do porão, tranco a porta e me dirijo à saída. Ouço passos apresados pelos corredores e vejo o Sr. Certinho correndo na minha direção.

   "Não é possível que ele vai me encher o saco até nesse horário?".

   Nem pude me preparar para o que viria, pois ele   passou por mim sem nem se quer perceber a minha presença. Penso por um estante em chamar a sua atenção, mas ele já estava longe demais para isso. Volto a caminhar em direção à saída, vejo uma luz um pouco antes da saída e descido me esconder, pois não estava com paciência para ouvir um sermão do Didier. Espero ele virar o corredor e corro até o muro, jogo a minha mochila primeiro e pulo logo em seguida.

   - Aff! - não consigo evitar o suspiro ao pegar a minha mochila do chão. - Não aguento mais pular essa merda toda semana. - Se não fosse o Lys ter deixado o molho de chaves cair nas mãos daquele loiro azedo naquele dia, eu não teria que estar pulando o muro essa hora.

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   Toc! Toc! Toc!

   Ouço as batidas na porta do porão antes de ver o desgraçado do Blanchet entrando.

   - O que você veio fazer aqui? - me levanto do sofá com raiva, como ele poderia ter a cara de pau de aparecer na minha frente depois de fazer aquilo - Pensei que já tivesse deixado bem claro que não quero te ver de novo.

   - Não vim para discutir com você Castiel.

   - Então o que veio fazer aqui? Apanhar de novo? - me aproximo dele - Porque vai ser ótimo terminar o que eu comecei...

  Por um momentos , pensei ter visto um vislumbre de tristeza em seus olhos. No entanto, logo uma expressão séria tomou conta de seu rosto, e ele se afastou, olhando-me com cansaço.

   - Olha, eu não quero confusão. Eu só quero que me devolva as chaves que estão com você.

   O representante havia me dado um molho de chaves quando éramos amigos. Após eu ter pego o porão para ensaiar com o Lysandre, ele vinha (tentava) todas as noites nos ajudar a sair sem problemas, mas nem sempre conseguíamos. Em uma ocasião, o vigilante nos pegou por descuido, o que quase resultou na nossa expulsão no primeiro trimestre. Naquele momento, Nathaniel fez de tudo para convencer a diretoria a relevar a situação e, posteriormente, nos deu um molho de chaves para emergências.

   - Hum...Que Chaves?

   Ele me encara como se estivesse prevendo um problema se aproximando. Era óbvio para mim que ele estava começando a perder a paciência, embora não tivesse muita dela para começar.

   - Castiel...por favor, não complica. - o tom de voz dele estava começando a subir , e eu não consegui evitar o sorriso que se formava em meu rosto.

   - Complicar o que?

   - Olha, eu não quero confusão! Eu só quero que me devolva as chaves que estão com você. E não adianta se fingir de idiota, porque você sabe muito bem o que eu quero! O molho de chaves que eu te dei, aquele que te permite entrar e sair quando você vem entender.

   "Não acredito que ele realmente acha que eu devolveria isso?".

   - Por que eu devolveria? Eu não estou com as chaves e, mesmo que estivesse, não te devolveria. Afinal, presente não se devolve.

   Ele me olhou como se não pudesse acreditar no que tinha acabado de ouvir.

   - Não me diga que está com medo? - lhe questiono.

   - E por que eu teria medo?

    - Porque se me pegarem, podem acabar descobrindo que você me deu essas chaves, e bem, as coisas ficaram um pouco complicadas para o Sr. Perfeito... 

   - É sério? Eu que tenho que ter medo? Você realmente acha que eles acreditariam em você? Esqueceu que brigamos? Se alguém deveria ter medo aqui, esse alguém não sou eu.

   - Então seria eu?

   - Sim, você! Ou acha que eu ia te defender? Sinceramente, você realmente acredita que eu ia me jogar no fogo por alguém que me odeia? – um sorriso se abre em seu rosto enquanto ele fazia a pergunta – Me diga Castiel o que seus pais pensariam se soubessem que o filho foi expulso por ser pego abrindo o portão do colégio com as chaves que ele nem sequer possuí acesso? Me diga, o que eles fariam se tivessem que largar o trabalho, só para vir livrar o filho de uma possív...

   EU SOQUEI ELE!

   Eu não podia deixar ele terminar aquela frase, não com aquela expressão egocêntrica que começava a subir em seu rosto. Nathaniel conseguia ser extremamente cruel com as pessoas quando a sua cabeça estava na reta, e isso era o que mais me irritava nele.

   - Vou te dar a chance de ir embora antes que eu comece realmente a levar as suas palestras a sério.

   Ele estava com a mão no rosto, com uma expressão confusa, era como se quisesse revidar, mas algo o impedia. Então, ele se virou em direção à saída e começou a ir embora em silêncio. No último degrau, ele parou, com a mão na maçaneta da porta, e ali ficou como se não quisesse sair. Eu estava preparado para perguntar se ele avia desaprendido a abrir uma porta quando eu ouvi um suspiro.

   - Castiel, nunca pensei que diria isso, mas me arrependi do dia em que te conheci, do dia em que pensei que um ser como você poderia ser relevante para mim.

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   Um pouco após sair do porão, ele esbarrou com o Lysandre no corredor e conseguiu convencê-lo a lhe entregar as chaves. E com isso, desde então, eu e ele temos que pular o muro para sair.

Je vous prometsOnde histórias criam vida. Descubra agora