Ao chegar em casa, sou recebido pelos latidos alegres de Dragon, era como se ele estivesse dizendo: "Bem-vindo de volta".
- Oi, garotão! Como foi o seu dia? - deixo a minha mochila cair no chão enquanto me abaixo para acariciá-lo.
Ele pula sobre mim e sinto suas lambidas em meu rosto. Dragon sempre me recebia tão bem, era impressionante como ele conseguia preencher um pouco do vazio nessa casa.
- Slep! Slep!
- Ok, garoto, chega. - o afasto um suficiente para me levantar - O que acha de um lanche noturno?
A minha pergunta parece ter o deixado mais feliz do que ele já estava, bem, eu normalmente não o alimentava depois das 21:00, mas um lanchinho ocasionalmente não faz mal a ninguém.
Entro na cozinha e vou em direção ao armário de petiscos, retiro um e pego um pote. Coloco no chão perto da mesa.
- Como eu estou com preguiça de ir lá fora, você vai poder comer aqui dentro hoje.
Vou até a geladeira e pego um pedaço de pizza que sobrou do sábado com uma coca. Coloco para esquentar e volto para Dragon.
- E aí? Está bom? - pergunto e logo ouço um som de satisfação. - É bom fugir da rotina um pouco, não é?
Como eu ensaiava com o Lys 3 vezes por semana, tive que criar uma rotina para que o meu cachorro comesse nos horários certos. De manhã, eu o alimentava, ao meio-dia era a Sra. Ella, uma idosa que morava na casa da frente. Ela também cuidava dele durante o dia, nos dias em que eu não estava, era ela quem dava a última refeição. Obvio que não é de graça, mas pelo meu garoto valia a pena.
"E eu ainda tenho que pagar a Sra. Ella, pelas horas extras deste mês".
Bib! Bib! Bib!
Pego o prato e volto para a mesa, olho para frente e vejo duas cadeiras vazias, acabo não conseguindo evitar o sentimento estranho que rodeava a minha cabeça. Comer sozinho já tinha virado rotina há quase 2 anos.
Antes de me tornar independente, meus pais me deixavam com Ella, com quem morei dos 12 aos 16 anos. Quando finalmente atingi a idade de morar sozinho, disse a eles que queria a emancipação, garanti que eu seria responsável o suficiente para morar sozinho. Após isso, preferi não incomodá-la, mas é claro que eu ainda passava a maioria dos finais de semana com ela."Até hoje tenho dificuldade de acreditar que eu não tive que fazer muito esforço para conseguir convencer os meus pais de que eu seria alguém responsável".
Demorei dois meses para trazer essa ideia à tona, durante esse tempo criei várias justificativas 'plausíveis' para provar que eu conseguiria viver facilmente sozinho, mas quando chegou o dia, eu não tive que usar nenhuma delas. Eles aceitaram tão facilmente que até me assustei, cheguei a me questionar se eu era tão confiável assim.
"Talvez eles pensassem que eu desistiria e voltaria para a casa de Ella".
Bem, isso quase aconteceu se não fosse o fato de seu ex-amigo ter encontrado seu garoto. No primeiro dia de aula do primeiro ano, Nathaniel me disse que tinha encontrado o presente perfeito para mim. Ele me jurou que eu ia gostar, eu ri, achando que era só uma desculpa por esquecer o meu aniversário. Até ele aparecer na minha porta no fim da tarde com um filhote de cachorro nos braços, aquilo me surpreendeu. Ele estava tão animado enquanto me dizia que nos daríamos bem, que eu seria um lar para ele, e em troca ele faria dessa casa um lar para mim.
"E ele estava realmente certo sobre isso".
Esse cão foi uma salvação para mim. Eu definitivamente não possuo nenhum problema em ficar sozinho, mas ficar só nessa casa por 3 anos sem ninguém me faria surtar. E foi aí que ele acertou, aquele infeliz me conhecia tão bem, mesmo sendo tão diferente de mim, se bem que eu não acreditava que éramos tão diferentes assim.
Nathaniel foi uma adição maravilhosa à minha vida. Apesar de nosso primeiro encontro ter sido um desastre, conseguimos construir uma amizade sólida. Quanto mais tempo eu passava com ele, mais desejava ter sua companhia. Minha mãe costumava dizer que éramos opostos e, por isso, nos atraímos de forma inequívoca. Nunca levei muito a sério essa ideia, afinal, acredito que os opostos se repelem
- Wof!
O latido de Dragon me tirou dos meus pensamentos.
- Que foi?
- Woof! - o vejo apontar para o pote.
- Terminou?
- Wof!
- E você latiu para me avisar que terminou?
- Wof!
- Ah... Tá bom - ele me olha como se esperasse mais alguma coisa - Parabéns! Bom garoto!
As minhas palavras parecem ter deixado ele satisfeito, já que ele se virou e subiu as escadas. Sinto o celular vibrar em meu bolso, retiro e vejo uma ligação de telemarketing. Desligo o telefone.
"Até essa hora, eles enchem o saco."
Por falar em hora, olho no relógio e vejo que já eram quase dez da noite. Termino a minha janta, coloco o prato na pia e subo para o quarto. Ao adentrar, vejo meu cachorro deitado ao lado da cama. Tiro meu casaco e me jogo na cama, logo sinto um peso extra ao meu lado. Dragon se aninha ao lado dos meus pés. Nas primeiras semanas, eu dormia no sofá, pois tinha medo de que algo acontecesse com ele, enquanto eu dormia no andar de cima.
Logo, quando ele cresceu um pouco, não demorou muito para conseguir subir as escadas e, consequentemente, a minha cama. À medida que ele crescia, eu me apegava cada vez mais a ele; tê-lo aqui conseguiu preencher um vazio que nem sabia existir. Ele foi, sem dúvida, o melhor presente que já recebi na vida, mesmo vindo de alguém tão traiçoeiro.
Como é possível que aquele loiro oxigenado tenha me dado uma das melhores razões para viver e, em seguida, agido daquela maneira? Por que tentar isso às minhas costas? Ele nunca demonstrou sinais de que faria algo assim? Ou será que deixei algo importante passar despercebido?Por que não falou comigo antes? Por que ele teve que se interessar por ela? E por que não por mim?
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Je vous promets
Fanfiction"Se um dia quiser chorar, me chame. Não prometo que te farei sorrir, mas posso chorar com você. Se um dia quiser fugir, não hesite em me chamar. Não prometo que irei pedir pra você parar, mas eu posso fugir com você. Se um dia...