Vida monótona

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*barulhos na porta*

- Catharine! Já está na hora! - escuto meu pai, Maurice, me chamar atrás da porta.

   Abro meu olhos encarando o teto de madeira. Pela pouca luz que entrava no quarto deduzia que o sol acabara de nascer. Levanto e me sento na beirada da cama.

- Mais um dia. - digo a mim mesma.

   Troco de roupa, colocando um vestido de cor bege com mangas compridas. Arrumo meu quarto e abro as janelas, o vento frio que invade o quarto deixa claro que o inverno estava se aproximando. Desço as escadas e vou em direção a cozinha.

- Hoje tenho muito trabalho. Não vou vir almoçar. - meu pai fala arrumando a mesa para o café da manhã.

- O que aconteceu? - pergunto curiosa.

- Os bancos da igreja estão precisando de uma reforma e querem prontos até hoje a noite. - ele me responde se sentando à mesa.

   Após o café da manhã meu pai sai para o seu trabalho, ele é carpinteiro e apesar do nosso vilarejo não ser tão pequeno, o seu trabalho é escasso. Dedico a minha manhã para arrumar a casa, tiro o pó dos móveis, varro o chão e vou preparar o meu almoço. Quando o almoço estava quase pronto escuto alguém bater à porta, vou até ela para abrir e sinto um estranho aperto no peito.

- O que seria para o senhor? - pergunto ao abrir a porta e me deparar com Jean.

   Um homem alto, o corpo fora de forma, com uma barba mal feita e os poucos cabelos escondidos com um chapéu. Arrogante e sem caráter, como é conhecido entre os demais do vilarejo. Ele encosta um de seus braços na parede ao lado da porta e se inclina em minha direção.

- O seu pai pediu para que eu viesse ver se estava tudo certo por aqui. - ele diz com um sorriso malicioso no rosto.

   Mentira. Meu pai nunca mandaria um homem como ele vir garantir se estava tudo bem comigo. Certamente ele preferia lutar com leões e vir ele mesmo.

- Garanto que está tudo bem! - o respondo e tento fechar a porta.

   Sou interrompida. Ele me impede que eu feche a porta com a sua mão. O encaro sentido a raiva tomar conta de mim.

- O cheiro da comida está ótimo, não irá me convidar para entrar? - ele pergunta abrindo a porta.

   Respiro fundo pensando em todas as respostas possíveis para um ogro como ele.

- É melhor você dar meia volta e me deixar em paz. - falo franzindo o cenho - Ou quer que eu conte ao meu pai sobre a sua visita desagradável?

   Ele franze o rosto, claramente irritado. Dá meia volta e saí bufando. Fecho a porta e volto para a cozinha.

- É claro que meu pai irá saber do mesmo jeito. - falo dando um leve sorriso.

   Depois de almoçar e arrumar a cozinha volto para o meu quarto, onde eu passo a tarde desenhando em meu caderno. Escuto alguém abrir a porta de casa e logo desço para ver quem seria.

- O papai irá chegar só mais tarde. - falo a mim mesma enquanto desço as escadas.

   Quem eu vejo me faz ficar paralisada. Seu olhos e cabelos castanhos continuavam o mesmo apesar de seu rosto ter mudado um pouco.

- Não vai vir me dar um abraço? - meu irmão, Dorian, me pergunta abrindo um sorriso e os seus braços.

   Corro até ele o abraçando com força. Meu irmão havia se mudado quando eu tinha meus 9 anos de idade. Ver ele depois de 10 anos era aliviador, senti como se um peso tivesse sido retirado das minhas costas.

- Você não mudou nada. - ele fala dando leves risadas.

- Você mudou. - falo com a cabeça em seu peito ainda.

   Eu estava com a voz fraca, segurando o nó na garganta para não cair em lágrimas. O soltei do abraço e enxuguei as pequenas lágrimas que haviam se formado em meus olhos.

- Papai está no trabalho ainda? - ele pergunta se acomodando no sofá.

- Sim, hoje ele teve mais trabalho que o normal. - o respondo indo para a cozinha.

   Fiz café e biscoitos para comer a tarde. Arrumei a mesa para o café da tarde enquanto meu irmão arrumava suas coisas no seu antigo quarto.

- As coisas não mudaram por aqui. - ele fala enquanto se sentava à mesa.

- Algumas pessoas tem se mudado apenas. - falei sem muita animação.

- Os ataques por aqui continuaram? - ele me pergunta aflito.

- Diminuíram com o passar dos anos. Mas ninguém quer ficar em um vilarejo que há os ataques. - respondo me juntando à ele na mesa.

   Desde que eu era pequena me lembro dos ataques, criaturas da noite que surgem e matam pessoas do vilarejo, as pessoas são destroçadas, sangue sugado e membros arrancados. Há aquelas que voltam da morte, com a pele pálida, os olhos vermelhos e os dentes afiados. Sinto uma pequena pontada de dor no meu ombro esquerdo, onde há uma cicatriz que tenho há anos.
   Tomamos café em silêncio. Pensando no que falar ou perguntar. Eu tinha tantas perguntas "Você tem uma família?", "Eu tenho sobrinhos?", "O que está fazendo aqui?".

- O que você fez nesses anos fora? - perguntei quebrando o silêncio.

- Eu conheci uma mulher incrível, me casei com ela, temos uma casa e três filhos. - ele me responde com um sorriso no rosto.

- Eu tenho três sobrinhos? - pergunto espantada.

   Ele ri e continuamos a nossa conversa. Nesses anos fora, ele montou a sua família e tem o seu emprego como guarda na cidade. O aperto no peito ainda não havia ido embora, eu sabia que tinha algo de errado porém tinha medo de perguntar.

- E você arrumou um pretendente? - ele me pergunta sério.

   Antes que eu pudesse responder o nosso pai entra pela porta. Ele estava sujo com poeira da madeira, alguns arranhões em suas mãos e braços.

- Dorian! - meu pai fala com um sorriso no rosto.

   Meu irmão se levanta e o abraça. Ficamos nós três na mesa conversando e relembrando o passado, com sorte consegui desviar do assunto anterior. Mais a noite fiz o jantar enquanto os dois ainda conversavam.

- É bom de ter de volta, meu filho. - meu pai fala com um sorriso nervoso no rosto.

   Ali percebi que estava acontecendo algo que eu não sabia. Durante o jantar a conversava continuava a mesma, rimos ao relembrar do passado. Após o jantar, eu e meu irmão limpamos a cozinha e fomos cada um para o seu quarto.
   Subi as escadas aflita, desviei o dia todo de uma questão que estava me atormentando. Apesar da minha vida monótona eu tinha medo de que isso mudasse para algo que não me agradasse. Troquei de roupa e me deitei na cama, encarando o teto com pensamentos sendo atropelados um pelo o outro.
   Aos poucos fui caindo no sono, sentia minha vista pesada, perdendo a consciência. Mas a ansiedade persistia, dava leves pulos na cama ao pegar no sono. Até que apaguei de vez.

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