A neve

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   Acordei com meu corpo tremendo pelo frio que ocupava o quarto. Abri os meus olhos procurando pelas cobertas ao meu lado mas só as vi no chão quando me sentei na cama. Estranhei a falta de luz no quarto até olhar pela janela e notar a escuridão da noite.

- Ainda nem amanheceu. - murmurei a mim mesma.

   Me levantei indo até o armário procurando por um casaco, vesti um de pelos que parecia estar guardado á algumas décadas. Fui até a janela, a abri e me debrucei sobre o seu peitoril. A neve já cobria toda a grama do castelo, a nevasca já havia passado deixando a neve densa presente junto ao ar gélido que ardia as minhas bochechas como um beijo doloroso. 
   Saí de meu quarto andei pelos corredores do castelo descalça sentindo o frio embaixo dos meus pés. Tentei fazer o mínimo de barulho pois não queria acordar Clément, passeei pelos longos corredores olhando algumas salas até ouvir meu estômago roncar. No caminho para a cozinha, senti aquela sensação de ser observada novamente porém mais forte como se houvesse alguém logo atrás seguindo os meus passos.
   Me virei assustada algumas vezes talvez na esperança de ver o meu tal perseguidor, porém tudo o que eu via era os corredores escuros e vazios. Já na cozinhei peguei apenas uma maçã e fui em direção ao salão principal. Parada em frente a grande porta de entrada eu podia ouvir o vento soprar contra ela a levemente balançando e fazendo rangidos.
   Abri apenas uma pequena fresta para que eu pudesse passar e a fechei. O ar era mais gélido ali do lado de fora e os meus pés agora doíam um pouco pelo frio, me arrisquei a pisar sobre a pequena camada de neve sob a grama e a sensação era de longe a mais estranha que eu já senti. Os meus pés pisando na neve macia mas que os machucavam pelo o seu frio.
   Andei até a pequena fonte que tinha majestosa estátua a qual eu vi no meu primeiro dia de estádia no castelo, me sentei na beira dela e ergui os meus pés para aliviar aquela leve dor. Eu a encarava com algumas partes suas cobertas pela neve e a pouca água da fonte agora congelada. Minha visão de repente começou a ficar turva apesar da ausência da tontura.

- Foi isso o que me tornei? - uma voz feminina quase que angelical perguntou.

- O que? - murmuro confusa olhando na direção de onde vinha a voz.

   Sentada do outro lado da fonte havia uma mulher com os cabelos negros ondulados, a pele pálida quase igual a neve e os marcantes lábios avermelhados. Ela usava um vestido branco de mangas curtas e não entendia como ela não estava tremendo de frio.

- Você não é parecida comigo. - ela fala se levantando e vindo em minha direção - Por que ele te escolheu?

- Eu não estou lhe entendo. - digo confusa tentando a enxergar com detalhes mas a minha visão turva me impedia.

- Ele vai te matar assim como fez comigo. - a misteriosa mulher fala colocando a sua mão em meu rosto.

   Era tão gelada quanto a neve, ela estava tão próxima mas não havia a presença da sua respiração. Ela sorri para mim deixando os seus caninos a mostra iguais ao de Clément e perto de seu pescoço pude notar duas marcas vermelhas. Sinto a minha cabeça pesar e eu perder a consciência. 
   Acordo num sobressalto ao sentir um leve toque sobre o meu rosto, abro os meus olhos e percebo que estou em minha cama. Demoro alguns minuto para me lembrar do que havia acontecido, olho pela janela e percebo que já havia amanhecido apesar de ainda estar escuro o que me causou estranhamento. Me arrumei e fui para a sala de jantar encontrando com Emma e Thomas conversando.

- Bom dia. - os cumprimento um pouco rouca. 

- Parece que alguém vai resfriar. - Thomas fala e dá um pequeno riso.

- Por que o dia está tão escuro? - pergunto me sentando à mesa e fazendo um sinal para que eles se sentem também.

- Os dias ficaram assim até o final do inverno. - Emma responde se sentando à mesa.

   Tomei meu café em silêncio enquanto os dois conversavam entre si. Me perdi em pensamentos ao lembrar da madrugada passada, da mulher misteriosa e o meu apagão. De repente Clément entra na sala e Emma e Thomas se levantam assustados.

- Desculpe-me senhor é que.. - pela primeira vez vi Emma travar ao falar e notei o olhar de desespero de Thomas.

- Eu pedi para que eles tomassem café comigo. - falo levando a xícara à minha boca e dando um gole em meu café - Quer se juntar a nós?

   Clément dá apenas um pequeno sorriso e vai até o seu lugar na ponta da mesa. Emma e Thomas se sentam novamente mas permanecem em completo silêncio. 

- Por que não está trabalhando? - questiono o olhando.

- Vou tirar um tempo para recarregar as energias e a mente. - ele me responde se servindo.

- Eu nunca perguntei, mas com o que o senhor trabalha? - pergunto curiosa.

- Sou escritor. - ele responde me olhando com os olhos um pouco cerrados. 

- Por que nas pequenas bibliotecas espalhadas pelo castelo não há seus livros? pergunto comendo um pedaço de bolo.

- Ficam somente em meu escritório. - Clément me responde voltando a sua atenção para a sua comida - O que estava fazendo no quintal hoje na madrugada?

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