Capítulo 3: Ana Flora

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-Que raios vocês fizeram nessa cozinha?

Eu olho pra Benício que entrou bravo. A panela de pressão explodiu. Fez uma sujeira e a força foi tanta que o fogão amassou. Eu o olho com raiva porque pela expressão de Charles, sei que ele foi hostil.

-Você quer saber se alguém se machucou, certo?
-Eu tenho olhos, Ana, estou vendo que estão todos bem, a porra da parede suja e o fogão amassado.
-Eu te disse que precisávamos de outra panela! Você não vai manter o nível que sua mãe mantinha esse lugar se não fizer manutenções.
-Você não dá ordens aqui, eu preciso te lembrar?

Todos estão atentos a nossa discussão. Margarida, Vicente, Charles e eu vejo Zoé entrar. Apenas torço para Violeta não chegar.
-Não é porque você não pode ser demitida que vai me tratar como se eu fosse seu subordinado. Eu sou o chefe aqui! Deem um jeito nessa parede, mudem o cardápio porque temos que servir o almoço.
-E o fogão? - Eu pergunto.
-Usem o industrial por enquanto, vocês já deviam fazer isso. Se o fogão estragou foi culpa de vocês que não me ouvem.
-Nós usamos o industrial, mas usamos a panela no outro porque ela estava péssima e ele fica mais afastado.
-Quem teve essa ideia?
-Eu.
-Então mais uma vez você finge que é a chefe... - então, ele me dá um sorriso malicioso - Se você se esqueceu, Ana, você apenas quase foi a chefe.
-Ele diz isso e se vira.
-Vou na cidade, espero encontrar minha Pousada em pé quando chegar. E leve vinho para o hóspede do 308!

Quando ele diz isso e sai, eu olho para todos.

-Não vamos deixar esse cara abalar a gente. Vamos arrumar tudo aqui com calma, temos poucos hóspedes. Vou pedir para a Alane se podemos pegar as refeições do deck. Eu acerto com ela depois.

Todos concordam e eu me viro para Zoé.

-Vinho para o 308?
-Sim, ele chegou no meio da confusão e Benício ofereceu de cortesia.
-Pelo menos nisso ele está certo.
-Como ele é?
Margarida pergunta curiosa.
-Lindo! - Zoé diz. - Nunca vi um homem tão lindo como aquele. E posso jurar que ele tem gomos!
-É famoso? - Vicente pergunta e eu reviro os olhos.
-Não... Hum... Ana, você pode vir comigo até a recepção?
-Claro.
-Quando chegamos lá, ela me olha estranho.
-O que houve? - Pergunto.
-Eu não quis falar perto do Benício para não causar mais problemas, mas... O hóspede ligou e fez um pedido meio estranho.
-Como assim estranho? Precisamos chamar a polícia?
-Não, não é nada assim... Ele, ele apenas pediu para...
-O que, Zoé? Fala logo.
-Ele pediu se podíamos tirar a aquarela do quarto.

Fico sem saber o que dizer. Primeiro porque é algo que eu nunca vi um cliente pedir, segundo que aquele quadro é especial para mim. Eu tinha parado de pintar. Até que um dia, desabafando com Rosa, eu contei sobre esse hobby. Ela não disse nada, mas no dia seguinte, encontrei tinta, pincéis e telas em meu quarto. Aquele foi o primeiro que pintei aqui. Eu até pensei em deixar no meu quarto, mas o significado dele fazia com que eu quisesse voltar atrás das minhas decisões. Além disso, eu não finjo modéstia, ele é lindo e combina com o quarto.

-Ele disse o motivo?
-Não, apenas pediu. Inclusive, ele disse que isso podia ser no lugar do vinho.
-Nossa, então ele odiou mesmo.
-O que eu faço?
-Nada, continue aqui, avise aos outros hóspedes que o almoço vai atrasar. Vou falar com a Alane. Eu vou levar o vinho mesmo assim pra, explicar que o almoço vai atrasar um pouco, pedir desculpas e pegar o quadro.

Eu falo com Alane que é dona do restaurante do deck, e vou até a adega que temos. Pego o vinho e, talvez, pelo dia estar estressante, eu penso mais uma vez em meu passado.

Feriado de Sete Setembro, 8 anos atrás.
-Você parece nervosa. - Erik diz me olhando de um jeito profundo.
-Eu não esperava te ver aqui.
-Bom, a gente não se encontra só nos verões.
-Fora dos verões, apenas em ocasiões especiais. E essa não é.
-Nós precisamos conversar, Flora.

O Lago EncantadoOnde histórias criam vida. Descubra agora