Um maldito mês. Um mês que Ana Flora saiu da minha vida. Isso quer dizer que faz pouco mais de um mês que eu infartei.
Minhas dores físicas estão melhores, o médico disse que eu estou me recuperando bem, mas ainda preciso descansar, ainda preciso ir com calma, ainda estou de repouso - embora agora eu não precise ficar deitado o tempo inteiro. Minha pressão arterial não está alterada. Mas ainda não posso voltar ao trabalho. O médico disse que eu precisaria ficar 60 dias afastado. Eu pesquisei na internet e alguns pacientes voltam em 30.
Quando eu questionei o motivo, ele apenas disse que meu trabalho era estressante e que ia me dar outro infarto se eu voltasse já. Depois ele me deu um sermão - nada novo - sobre eu ser um milagre.
Tirando a minha vontade de socá-lo e de dizer que ele não sabe de nada, eu entendia isso. O problema é que a raiva tem sido uma constante companhia. Eu tenho tentado me distrair, eu vejo filmes, séries, eu voltei a fazer origamis (e talvez você pense que isso é masoquismo, mas é algo que sempre me relaxou), eu estou até lendo livros. Hoje eu até topei jantar com minha mãe, seu novo namorado e o futuro enteado, algo que eu estava protelando desde que o médico disse que eu já podia começar a ter uma vida de novo. Devagar, claro.
Mas a raiva ainda está lá. E a tristeza. E as lembranças. Faz um mês que Ana Flora saiu da minha vida. 29 dias que ela me disse para não mandar mensagem. E são também 29 dias que Benício não para de me mandar mensagem. Todas as porras dos dias aquele filho da puta me manda algo.
Até ele resolveu se meter na minha vida. Mas, sendo sincero, ele apenas parece estar preocupado e tentando puxar um assunto. São 29 dias falando comigo e ele só me perguntou da cirurgia, nada como estou em relação a Flora. Algo que parece um combinado entre meus amigos e minha mãe porque todos estão agindo como se ela não existisse. Ninguém me dá uma dica de como ela está e se eu não infartei de novo por isso, eu não vou mais.
— Você vai comer isso ou só ficar olhando?
Eu estou sentado em uma mesa no meu quintal, tenho um sanduíche natural e um copo de suco. Bernardo então se aproxima e senta comigo.
— Eu tô sem fome, mas vou comer, não preciso de sermão.— Eu ia perguntar como está seu humor hoje, mas acho que não preciso.
— Eu quero voltar ao trabalho.
— Sua empresa está do mesmo jeito que quando você deixou. Você sabe disso. Você acha que eu não sei que algum funcionário tem falado com você mesmo sua mãe ordenando que não?
Dou de ombros.
— Eu tenho bons funcionários, fazer o que.
— Então você sabe que está tudo bem.
— O problema não é esse Bernardo.
— Então qual é?
— Vocês podem fingir que a Flora não existe, mas eu não consigo. Eu não aguento mais ficar aqui e pensar nela. Preciso ocupar a cabeça.
— Eu disse para a Charlene que não falar era pior, mas ela me venceu nessa.
Bernardo foi quem me consolou depois que Flora partiu. Eu sei que ele tinha muitas opiniões sobre isso, mas ele apenas foi meu ombro. Acho que ele estava pisando em ovos pelo pequeno detalhe do infarto. Depois. Silêncio.
— Eu preciso que alguém busque meu carro. Você pode fazer isso por mim? Eu pago um motorista para te levar. Eu não confio em qualquer um dirigindo.
Ele revira os olhos.
— Por que você não espera tempo suficiente para poder dirigir e não vai você mesmo?
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O Lago Encantado
Любовные романыATENÇÃO: ESSA OBRA É +18 🔞 E CONTÉM TEMAS SENSÍVEIS (VIOLÊNCIA E SEQUESTRO) QUE PODEM DESPERTAR GATILHOS. OS CAPÍTULOS SERÃO SINALIZADOS. CUIDE SEMPRE DE SUA SAÚDE MENTAL Ana Flora Albuquerque, agora apenas Ana, deixou sua vida para trás e chegou n...