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Ana Flora Albuquerque, agora apenas Ana, deixou sua vida para trás e chegou n...
Eu desligo o telefone sabendo que coloquei minha amizade em risco, mas sabendo também que eu fiz o melhor para Erik e Ana Flora.
São quase oito anos vendo meu melhor amigo sofrer. Quase oito anos pagando pessoas para vigiarem Ana Flora e cuidarem para que ela esteja bem.
Ok. O dinheiro nunca foi o problema, o problema foi precisar ficar em silêncio. Houve dias em que eu apenas queria dizer para ele onde ela estava. Erik sempre soube que eu conhecia o paradeiro de Ana Flora. Nós dois fizemos esse acordo porque ele estava surtando enquanto imaginava os piores cenários. Além disso, ela havia fugido de todos nós e ele não queria desrespeitar essa decisão.
Esse é o meu amigo, Erik Barbieri.
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Acho que Erik é o cara mais fiel que já conheci. Ele é fiel aos ideais de seus pais. Ele é fiel a seus amigos. Ele é fiel a sua empresa e ele é fiel a Ana Flora. Claro que em relação a ela, a fidelidade a que me refiro não é sobre relacionamento (embora, eu desconfie que meu amigo esteja há todos esses anos sem estar com uma mulher). Ele é fiel às escolhas que Ana Flora fez. Apesar de toda sua preocupação, apesar de todo seu desespero por ela (e, ok, algumas idas à polícia e ao advogado - o homem não é de ferro) ele entendeu. Ele não queria saber o paradeiro dela para trazê-la de volta, ele queria apenas saber que ela estava bem porque, diabos, nenhum de nós estávamos.
Então, entrei em cena. Apesar de gostar muito de Ana Flora, eu não a amava. Eu conseguiria observar em silêncio e, por isso, Erik e eu fizemos um acordo: eu iria descobrir onde ela estava. Eu vigiaria constantemente seu bem estar e, se algo acontecesse, eu diria a Erik.
Óbvio que coisas aconteceram. Sei que a mulher que abrigou Ana Flora morreu. Sei que Ana Flora finge que não é a única sobrevivente de uma das famílias mais ricas do país e leva uma vida simples em uma cidade do tamanho de um ovo. Mas nada disso parecia o bastante para dizer a Erik onde ela estava.
Ana Flora Albuquerque. Essa é a garota que partiu deixando devastação em todo meu (pequeno) círculo de amizade.
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Eu não a culpava, entretanto. Só ela sabe o que passou naquele cativeiro. Só ela sabe o que sentia ao pensar nos pais e no que aconteceu. Só ela poderia escolher como se curar. Por isso eu também respeitei sua decisão, por isso me calei e ignorei todas as vezes em que eu sentia no olhar de Erik que ele precisava de notícias. Ou que Charlene dizia que sentia falta da amiga.
Aí veio o infarto. Quer dizer, o princípio do infarto. Eu não vi isso chegando. Eu vi meu amigo de infância sofrer e se enterrar em trabalho, mas eu não vi a saúde dele se deteriorando. Eu. A droga de um médico.
Eu sou um psiquiatra. Sei todas as implicações que um emocional ferrado pode trazer para alguém. Eu vi em Erik a depressão, a ansiedade, o burnout e mesmo assim mantive esse acordo ridículo. Eu vi Flora ficar sozinha novamente e não fiz nada. Eu podia ter consertado essa situação há muito tempo e não o fiz. Que amigo de merda eu sou.
Até agora. Até aproveitar as recomendações médicas de descanso e mandar Erik diretamente para onde Ana Flora está.
Erik deve mesmo estar pensando em formas de me matar. Charlene vai surtar quando souber. Provavelmente, meu amigo de infância vai acabar virando um morador de cidade pequena. Tenho quase certeza que depois de apararem as arestas e conversarem, Erik e Ana Flora irão se acertar.
Ficarei aqui sozinho? Provavelmente. Mas se meu amigo estiver vivo e bem, eu também estarei.