— Então, você realmente não sabe qual é a peça que falta nesse quebra-cabeça?
Minha psicóloga, Sofia, me pergunta. Já é dezembro e estou vindo há mais de três meses. A dinâmica das sessões varia muito. Em algumas eu falo mais e ela apenas faz uma ou outra intervenção. Em outras, ela me faz perguntas variadas sobre o passado, aquele distante e o recente. Às vezes, ela faz comentários para eu chegar aos insights necessários, em outros momentos ela faz perguntas mais diretas. Hoje ela me perguntou se eu achava que para me sentir curada eu tinha apenas que começar a usar meu dinheiro. Imediatamente, respondi que sim. Então, ela me perguntou se eu me sentia curada e eu precisei ser sincera e dizer que não. Foi aí que ela me perguntou sobre o que estava faltando.
— Eu não sei... - Digo.
— Você já pensou sobre isso?
— Eu tentei, até imaginei que o que faltava era aquela cena dos livros em que o personagem de luto vai até o cemitério e tem uma conversa com a lápide.
— E você acha que isso te ajudaria?
Nego com a cabeça enquanto respondo.
— Não. Eu não preciso ir até onde eles estão enterrados para conversar com eles.
— E você conversa com eles?
— Às vezes.
— Sobre o que?
Isso me irritou um pouco. Eu não queria responder.
— A última vez falei sobre como a pousada vai indo bem.
Ela me olha e estreita um pouco os olhos, acho que ela já sabe quando eu digo coisas pela metade. Então, antes que ela faça mais alguma pergunta, eu falo:
— Eu estava na cachoeira que levei o Erik quando resolvemos conversar. Eu disse a eles que estava bem e disse a meu pai que eu esperava que ele não estivesse chateado comigo. Aproveitei e pedi perdão para eles, por eu ter provocado os sequestradores até eles me baterem e me fazerem desmaiar.
Eu digo isso e as lágrimas caem em meu rosto.
— Também prometi que vou usar o dinheiro deles para fazer o bem para as pessoas, mas para mim também porque eu sei que eles não querem me ver mal.
Eu pego a caixa de lenços de papel que sempre fica por perto. Limpo meus olhos.
— Mas ainda não me sinto curada. - Confesso.
— Então, eu te pergunto: qual a peça faltando nesse quebra-cabeça?
Eu suspiro e abaixo meu olhar tentando pensar. Fecho meus olhos e penso em tudo. Automaticamente minha mão vai até o meu colar, até o pingente de Tsuru. Abro os olhos...
— Erik... a peça que falta é o Erik.
Ela sorri para mim.
— Veja bem, Ana Flora, um psicólogo não deve ter falas assertivas. Eu não posso falar o que você deve ou não fazer.
— Certo.
Digo um pouco incerta.
— Mas vou dizer que você deve pensar sobre vocês dois. Você está indo bem, ainda temos um caminho a percorrer, mas você avançou muito. A questão é que você só está olhando para o passado.
Ela não diz mais nada e eu apenas confirmo. Quando saio do consultório dela e entro no meu carro, eu respiro fundo. Tento raciocinar o que significa pensar em Erik. Eu já penso nele o tempo todo, mas sei que não era esse tipo de pensamento que Sofia estava se referindo. Pego meu celular trêmula.
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O Lago Encantado
RomanceATENÇÃO: ESSA OBRA É +18 🔞 E CONTÉM TEMAS SENSÍVEIS (VIOLÊNCIA E SEQUESTRO) QUE PODEM DESPERTAR GATILHOS. OS CAPÍTULOS SERÃO SINALIZADOS. CUIDE SEMPRE DE SUA SAÚDE MENTAL Ana Flora Albuquerque, agora apenas Ana, deixou sua vida para trás e chegou n...