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Rosie: Eu percebi que não importa onde esteja, ou o quê esteja fazendo, ou com quem esteja.
Eu vou sempre, com toda força, verdadeiramente, completamente, amar você.
Como um irmão, ama uma irmã, e uma amiga, ama um amigo.
(Simplesmente acontece)

04 de outubro de 2022

Achei que nunca diria isso, mas entendo minha mãe.
Hoje eu vejo a mulher que ela é. Antes era tão difícil enxergá-la além de ser minha mãe. Para mim a vida dela se baseava nisso, em ser mãe e médica. É isso que ela fazia.

Através de tantas músicas, filmes, musicais, peças de teatro que me apresentou não só como uma coisa adorável de mãe para filha, eu vi além.
Ouvi as músicas dizer sobre sentimentos, os filmes contando histórias parecidas com a sua, os musicais que ela deu vida em casa, e o teatro que me fez entender o que ela queria dizer, mas que não conseguia.
Imagino que ser mãe de duas meninas exatamente iguais a ela foi uma tarefa quase impossível, não é à toa que fez algo como escapatória, eu mesma não aguentaria.
E hoje posso dizer que estou grata por poder conhecer ela. Conheci uma mulher mais que engraçada, sorridente e alegre.

— Tá feliz nessa cidade feia? — rimos.

— Tô. Você tá? — assenti.

Andamos em direção as lojas da liberdade caminhando no tumulto de gente carregando sacolas nos braços.
Estamos há exatos dois dias em São Paulo. Mudamos finalmente para a casa que ela havia escolhido desde maio, na zona sul. Alugamos essa casa e o minha primeira reação foi tentar não entrar em desespero.
É tão ruim e estranho mudar de casas, eu não sou muito bem acostumada com isso. Estou demorando a dormir em meu quarto, e quando pego no sono, os sonhos são estranhos.

— O Mateus já já vem encontrar a gente... foi buscar a encomenda no correio.

— Ah, que bom, filha. O que você acha da gente levar? — refere-se ao tapete.

Olhamos as lojas de casa e ela acaricia o tapete já querendo colocar no meio da
sala.

— Acho bom. — rio.

Peguei o celular respondendo o Mateus e o Nicholas e guardo assim que saímos da loja.
A felicidade dela é visível e até contagiante. Ela passou semanas e semanas planejando para estarmos aqui e eu sei o quanto isso tem sido importante. Quase um ano que está solteira e o quanto que se libertou é surreal. Ela se arruma para fazer qualquer coisa, não que não fizesse antes, mas faz com muito mais frequência agora.

Olhei para o outro lado da rua e avistei uma loja de bebês com um carrinho branco todo enfeitado. Senti que minha pupila dilatar no mesmo momento.

— Olha, mãe! A gente precisa comprar um desse pra Elena e um pra Melina, sério!

Ela ri forçando a vista no outro lado onde apontei.

— Para de ser boba, Ana Luísa! — ri.

Andamos por mais longos minutos e esperarmos o Mateus.
Sentamos ao lado de fora do restaurante e olhei a placa grande. Lucas Inutulismo com "minha playlist de funk". Estreitei os olhos tentando decifrar o que era.

— Amor... você viu aquele cartaz perto do restaurante?

Sentei ao banco do passageiro e minha mãe atrás com várias sacolas ao seu lado.

— Não vi, Lulu. O que tinha lá? — diz atento ao trânsito. — Nossa, sei não se a gente sai daqui hoje. — reclama.

— É puxado mesmo, viu. Bora se acostumar. — minha mãe diz olhando o telefone.

Como tudo deve ser - Pedro OrochiOnde histórias criam vida. Descubra agora