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Jane: tem poucas coisas mais tristes nessa vida que ver alguém indo embora depois de te deixar, e assistir a distância entre os seus corpos se expandir até não existir nada... além do espaço vazio e silêncio.
(Alguém como você)

18 de julho de 2023
Lado B

O silêncio sempre fez parte do meu habitual. Diferente de quando tinha meus amigos por perto. Sinto que eles são os as pessoas que mais me fazem rir e sorrir genuinamente na vida. Não consigo segurar o riso, as expressões ultrapassam meu rosto seguindo de uma descarga enorme de risada sem fim por um grande nada. O silêncio é bom, é confortável.
Mas amar o som das risadas e o conforto de um olhar sorridente é ainda melhor.

Quando temos com quem compartilhar as coisas tudo se torna leve. Fácil. Costumava ser assim quando éramos apenas adolescentes compartilhando tudo de nós. Acho que compartilhei de tudo um pouco meu a ela, e ela a mim. Hoje eu percebo que tudo o que tivemos foi extremamente romântico, mesmo que fossemos amigos. Encontros, saídas, conversas, olhares, sorrisos. É particularmente bom quando podemos reinventar um mundo só nosso que caiba tudo isso novamente. Mas que sobretudo, caiba nossa nova pessoa.

Ela continua a mesma, com o mesmos olhos brilhantes e sorriso fofo. O seu sorriso que ela um dia tanto odiou, e talvez tenha gostado do fato de eu ter mencionado que parecia o do Hariel, o fez aceitar mais.
Ela sempre me falava que gostava do meu sorriso, talvez por eu não sorrir muito. Mas eu adorava o seu sorriso. E é porquê ela sorria muito.

Reencontrar ela me fez pensar o quanto ela cresceu. Não soube como reagir no show com minha imensa vontade de abraçá-la e esquecer de tudo. Por um segundo quis que todos desaparecessem e que poderíamos ser só nós dois. Eu e ela, sentados, dividindo o copo e ouvindo nossas músicas, conversando as nossas conversas.
Achei que seria tão mais fácil na segunda vez. A primeira foi feita de adrenalina com o movimento de todos ali. Sabe quando você conhece alguém pela primeira vez depois de conversar por infinitas horas pra internet? É assim.

Meu coração batia forte quando estava chegando na portaria do prédio da Fisk. Quase um maço de cigarro e meio pacote de halls preto. Meu estômago revirava e minha vontade era de que isso passasse logo. O medo de fazer tudo errado, de estar sujo, feio, ou sem querer gaguejar.
Não sei por quais razões, motivos, circunstâncias nos sentimos assim. É só a Ana.

Acho que tudo o que me faltava era estar em plena paz sobre isso. Sentar tranquilamente mesmo que meio a estar sem jeito e ouvir ela falar.
Era o meu top coisas favoritas.
Deitar em sua cama, ouvir ela falar durante meia hora sem parar e observar o quanto ela faz isso com certeza.
Ela faz parecer fácil. Movimentar os ombros, mudar o cabelo de lado, sorrir e continuar a falar.

Ouvir ela falar do seu trabalho, me lembrou quando ela estava lendo um livro na internet sobre os marotos de Harry Potter; — que são os bruxos ancestrais ao Harry. O Sirius, Remus, James, Peter... All the young Dudes, o nome da história.
Ela me falou que eu nunca iria esquecer disso. Eu a questionei o porquê. Me argumentou ser pelo fato de ser uma música do David Bowie.
O que é uma música estranha.
De fato eu não esqueci.

Assim que sai da sua casa, pareceu tudo um sonho. Não por ser incrível, irreal.
Gostaria muito que neurocientistas me explicassem o porquê disso acontecer.
Essa última vez que nos vimos pareceu tudo um sonho, ou que eu estivesse bêbado. A sensação verdadeira é essa. Embriagado, completamente fora de si. Aquele exato momento em que você percebe que bebeu tanto, que não consegue ficar de pé por muito tempo e tudo acontece rápido demais e muito lento na sua frente.
Tenho consciência do que aconteceu, mas não lembro de quase nada. Meu corpo parecia formigar, em grande êxtase.

Como tudo deve ser - Pedro OrochiOnde histórias criam vida. Descubra agora