Um filho?

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Canção: Oração ao Tempo – Caetano Veloso

Entre o mal estar e a correria, Ísis percebeu algo diferente em seu próprio corpo. Mas seus pensamentos silenciaram qualquer suspeita. Deitada no seu quarto, tia Marlene a surpreende:

– Você melhorou, Isis?
– Estou um pouco melhor, tia. Esses enjôos devem ser o calor do Rio, o aquecimento global não está tendo pena de ninguém.
– Ou... você pode estar grávida?
– Eu grávida, tia? – Ísis riu
– Faz o teste. Eu trouxe para você. Toma aqui.

Ísis foi até o banheiro. Seu coração, no entanto, palpitava. Um filho? Seus pensamentos estavam confusos, pensamentos que amalgavam com os enjôos e com a dor da possibilidade – um filho do Giovanni sem o Giovanni?

Adriana chegou em casa e tia Marlene estava na sala.
– Cadê a Ísis? – perguntou a mãe da mocinha.
– Está no banheiro tirando uma dúvida. – soltou tia Marlene.
– Que dúvida?
– Adivinha?
– Será?

Ísis, no banheiro, se deparou com as listrinhas tão vivas quanto o bebê que ela carregava no ventre. Sim, o filho que Giovanni tanto falava que desejava ter, já não era mais uma realidade inventada, mas um fato concreto, pulsante.

– Tia? – Ísis gritou em direção à sala.
– E aí? – Marlene perguntou
– Filha? E aí? – Adriana emendou
– Deu positivo. Eu vou ser mãe. Meu Deus. Mãe de um filho do Gil. – as lágrimas nos olhos de Ísis banhavam o seu rosto.

No apartamento dos Aranhas, Giovanni refletia olhando para o teto, pensando nas conversas e nos planos que tivera com Ísis. Desde o término, a vida de Gil mudou por completo. Mesmo com as investidas de Cris, ele nunca deixou de pensar em Ísis, por mais que resistisse.. e seu coração chamava por Ísis. Sim, ela era a mulher da vida dele e ele sabia. O olhar de Gil refletia a certeza de que ele havia errado profundamente com ela, mas parecia não ter mais remédio.

– E agora, mãe? – questionou Ísis
– Agora você será uma mãe, filha. E eu, vovó. Que alegria. Uma vida dentro de você. Eu te dei a luz e agora você também dará a luz a alguém. – Adriana abraçou a filha emocionada.
– Parece que estou revendo a cena, Adriana, o dia que você me falou que estava esperando a Ísis. – as três se abraçaram juntas.

Jonas entra em casa e se depara com as três abraçadas e pergunta:
– O que aconteceu? O que vocês estão celebrando?
Elas se entreolham como quem não pudesse falar, ao menos, no momento o porquê da celebração.
– Nada, Jonas.. só estamos felizes! Hoje o dia foi bom no abrigo e você está melhorando, os bons ventos parecem finalmente estarem ao nosso favor. – Ísis se antecipou e abraçou o padrasto.

No dia seguinte, Ísis conversou com Carlinhos e o amigo muito se entusiasmou.
– E o Gil nessa história, minha amiga? Você vai contar quando para ele? – questionou Carlinhos.
– Não existe Giovanni nessa história, Carlinhos. Eu estou tão magoada com tudo que aconteceu e tenho medo do que a Helena possa fazer. Ela está cada vez mais louca, não sei o que ela pode fazer contra mim se souber que estou esperando um filho do filho dela. – a ativista confidenciou.
– Conta, Ísis. Não guarda segredo, não. Se ele souber, o próprio Giovanni não vai permitir que a mãe fique bem longe de vocês.
– Não conheço mais o Giovanni. É melhor que ele fique fora dessa história. Não vale a pena me arriscar. – Ísis foi incisiva.

No celular de Ísis chegou uma notificação e ela abriu. Era um e-mail. Um instituto de cuidado e proteção ao animal de São Paulo a convidou para coordenar um projeto à nível nacional de defesa aos direitos dos cães e gatos.

– Carlinhos, lembra daquele projeto nacional que eu me inscrevi de defesa aos animais?
– Sim.
– Acabei de ler no meu celular que eu fui aprovada. É a chance perfeita para eu ter meu filho longe da Helena, do Giovanni, do Sérgio e de tudo que me lembre essa família.
– Pensa bem, Ísis. – alertou o amigo.

Na casa da família Lopes, Jonas convidou Giovanni para jantar e ele não recusou. O mocinho queria, na verdade, esbarrar com Ísis.

– Cheguei, mãe. – Ísis anunciava enquanto abria a porta – Giovanni?
– Oi! Meu pai me chamou para jantar com vocês, como você está? – Gil estava visivelmente nervoso.
– Estou bem e você? – A mocinha também estava visivelmente nervosa e confusa.
– Bem.
– Que bom.
– Que bom que você veio, filho. – Jonas pontuou
– Eu gosto de estar com vocês. Aqui eu me sinto em casa, como fosse meu lar.
– E é. – Marlene respondeu a Giovanni, porém, com os olhos fitos em Ísis.
– É mesmo, pode vim quando quiser, não se acanhe. – Adriana ressaltou.
– Vou tomar banho e já volto. Tenho algo para contar para vocês.

Adriana, Marlene, Jonas e Giovanni se entreolharam. A mãe e a tia até pensaram que poderia ser acerca do filho que Ísis esperava, o que seria um alívio.

– O que será que a Ísis tem para falar? – Giovanni indagou.
– Não sei, meu filho. Vamos esperar. – Jonas respondeu.
– Deve ser algo importante. – Adriana disse.
– Eu vou me mudar para São Paulo.. – Ísis anunciou. – Fui aprovada num projeto nacional de defesa aos animais, através do meu trabalho na ONG e a condição é que eu me mudei para São Paulo.
– Como assim? – Giovanni, Adriana, Jonas e Marlene falaram em quase uníssono.
– É isso. Vou refazer a minha vida em São Paulo. Uma ótima oportunidade. – Ísis respondeu.

Ísis queria se agarrar em Giovanni e contar que ele realizou o seu maior sonho, mas o medo quis fazê-la fugir para distante. Num lugar onde não houvesse ninguém daquela família tão perigosa. Mas o tempo quem diria se isso realmente aconteceria.

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