Pai e Mãe - Parte 1

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Música “Mãe” de Gal Costa

– A casa ficou tão linda, Ísis. Vocês tiveram muito bom gosto e delicadeza na decoração. – Adelaide elogiou.
– Muito obrigada, dona Adelaide. Ficou do jeitinho que queríamos, com jeitinho de casa, com o calor humano. – respondeu Ísis
– E a sua mãe? Não vejo ela vindo de ver. Gosto muito da Adriana.
– Minha mãe e eu estamos.. como posso dizer.. rompidas. Não é a palavra certa, eu estou magoada. E eu ainda não fiquei pronta para colocar tudo à mesa. Eu tô sentindo muita falta dela. – Ísis ficou com os olhos cheios de lágrimas
– Minha querida, se você me um conselho. Escuta a sua mãe, restaura a relação que tem entre vocês duas. Eu também errei muito como mãe da minha Olivia, ela foi criada a ferro e a fogo. Ai engravidou, saiu de casa, nunca mais eu soube dela. Foi muito triste e eu precisei amargar a vida inteira o que eu poderia ter resolvido com uma conversa. Eu sei que são casos absolutamente diferentes, mas você será mãe da sua Olivia e mesmo a amando mais do que tudo, você vai errar. Porque o mundo é um moinho, ele nos tritura e nessa máquina de moer, a gente busca proteger quem a gente ama, mesmo machucando, às vezes. – Adelaide acarinhou o rosto de Ísis.

Depois dessa conversa e de uma tarde com Adelaide, Ísis tomou coragem e mandou uma mensagem para Adriana: “Mãe, preciso conversar contigo. A senhora pode vim até aqui?”

Adriana ficou emocionada com a mensagem e foi.
– Oi, filha.
– Oi, mãe.
Ambas estavam visivelmente emocionadas, Adriana sentou-se e Ísis se levantou para falar com a mãe.
– Mãe, eu entendo o que você fez. Você conhece a maldade da Helena, do Sérgio.. e você quis me proteger. Eu entendo isso. Mas eu não soube digerir tudo isso. De repente, éramos eu, você e a tia Marlene, o único núcleo familiar que eu tinha até pouco tempo. Agora Sérgio surge como meu pai e Helena como minha irmã.. eu tô muito magoada, mas com o fato. Não com você. E eu entendi isso. Eu entendo o seu amor, o seu esforço e a sua dedicação em cuidar de mim mesmo sozinha. Você foi uma guerreira, mãe. Uma grande mulher. Me perdoe por não chegar à sua dimensão, por não entender o seu cuidado. Mas hoje eu te perdoo de qualquer coisa que te prenda em relação a essa história e peço que você me perdoe também. – Ísis abraçou a mãe aos prantos.
– Filha, eu não tenho nada o que te perdoar. Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo. Você é a melhor coisa que poderia ter vindo do Sérgio. Você que é uma grande mulher Ísis, você é o que de melhor poderia ter de tudo isso. – Adriana retribuiu o abraço regado de choro

Ísis aproveitou e mostrou à mãe como a casa ficou. Todos os detalhes. Desde os quartos ao jardim.

– Como ficou linda a sua casinha, quer dizer, uma mansão, filha. Linda, linda. E tem o seu jeitinho aqui em todo canto. O seu jeitinho e do Gio. O quartinho da Olivia tão lindo, do jeitinho que você tinha me dito que queria. A tia Marlene amou conhecer a sua casa quando ela veio aqui ontem.
– Eu também gostei muito, mas ainda tô acostumada com o tamanho. Estou tão acostumada com o nosso apartamento que eu tô me sentindo estranha e deslocada, mas eu sei que agora é uma nova fase da minha vida e estou bem feliz. – Ísis sorriu
– E eu com a síndrome do ninho vazio. Fico procurando você em casa, às vezes, vou no seu quarto. Mexo nas roupas que ficaram, cheiro, choro. Penso na Olívia, em você. Mas eu não poderia estar mais alegre, mais realizada de te ver com o homem da sua vida, feliz, bem. – Adriana fez carinho na barriga de Ísis que estava prestes a dar a luz.

Elas passaram o final da tarde juntas, conversando sobre o passado, o presente, o futuro e Adriana foi para casa. Sabendo que a sua filhinha havia se tornado uma mulher madura, forte e convicta e Ísis era por inteiro dela, com a força de quem sabe que nasceu para brilhar ao seu modo.

– Sua mãe veio aqui? Sério? Estou feliz por vocês. Vocês se resolveram, então? – Gio perguntou
– É, depois de uma conversa com a tua avó, eu entendi que eu precisava abrir meu coração para minha mãe. Porque todos nós podemos errar e ela errou por amor, por proteção. Ela queria me guardar da verdade. – Isis respondeu
– É verdade. Você tem razão. Já eu não posso dizer o mesmo da minha.. ela mentiu em todo tempo.. inclusive, tem algo que estou procrastinando de te contar.
– O quê?
– A Helena enlouqueceu de vez, tudo veio à tona, todos os crimes, para além dos que já conhecíamos e ela vai ficar até o fim dos dias dela presa num hospital psiquiátrico.
– Meu Deus, Gil. Que loucura. Que coisa. Eu sinto muito por você que não merece isso, mas a Helena parece ter sido consumida pela própria maldade.
– É, eu fiquei triste, claro. Ela quem me criou, cuidou de mim. Mas agora o meu foco é você, a Olívia, a nossa casa, a empresa. – eles se beijaram

No dia seguinte, Ísis, Gil, Adriana e Marlene foram à última ultrassonografia para ver a Olivia.
– Nunca vi uma sala tão cheia de familiares. Essa bebê é mesmo muito esperada, né Adriana? –  Doutor Moretti perguntou à Adriana
– Primeira neta, Dr. Moretti. Primeira filha da única filha, primeira sobrinha-bisneta, primeira filha de um casal apaixonado. Não dá para descrever minha alegria. Um dia desses fui eu vendo a ultrassom da minha Ísis. – Adriana emocionada olhava para o rosto da neta.
– Eu já perdi nessa, né.. a menina a cara do Giovanni. O rostinho, a boca. – Ísis brincou
– Acho um pouquinho parecida com você também, Ísis. Uma gracinha. – Marlene opinou
– Eu acho a minha cópia. Agora a Ísis vai ter que lidar com uma cópia minha. Eu amei isso. – Giovanni zombou.
– Uma mini patty de sapatênis.. – Ísis riu

“Mas brilhas no que sou
E o meu caminho e o teu caminho
É um nem vais nem vou
Meninos, ondas, becos, mãe”

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