A Tentativa

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Canção “Caso Sério” de Rita Lee e Roberto de Carvalho

Ísis estava habitualmente no abrigo, resolvendo trâmites antes da sua viagem. Embora ela tenha se comprometido a permanecer cuidando da ONG à distância, muitas coisas precisavam ser resolvidas. Em meios aos papéis para serem assinados, Giovanni aparece e ela se assusta.

– Que susto! – Exclama Ísis
– Desculpa.. eu vim conversar contigo.  Eu não posso deixar que você vá para São Paulo, não posso. Você é a mulher que eu amo, em você todos os meus sonhos habitam. – Giovanni confessou.
– Pensei que seus sonhos habitavam na Cris, que estava contigo no dia que fui na Helàne.
– Pera, você foi na Helàne? Cris? O que a Cris tem haver? – Questionou o mocinho.
– Eu fui na Helàne conversar com você sobre algo importante, mas a Cris já estava lá: se declarando para você.
– A Cris não significa nada para mim, juro. Ela falou aquelas coisas, mas eu não dei bola. Ela tem piorado cada vez mais desde que eu e você terminamos, mas eu só consigo pensar em você e no quanto eu fui idiota.
– Foi, foi mesmo. Há um abismo, Giovanni, entre nós. Muito grande. A falta de confiança, a sua mãe, a Cris, as nossas diferenças que se tornaram grandes demais para ficarem despercebidas. Você vive uma realidade e eu outra. São Paulo é uma oportunidade para que eu me cure de tudo que eu passei. – A filha de Adriana foi clara.
– Mas eu já falei à minha mãe que é com você que quero viver. É com você que eu quero estar. É com você que eu quero ter a minha família. Eu já disse à Helena que se ela me quiser perto dela, ela precisa respeitar que eu te amo e eu nunca vou deixar que ela faça mais nada contra você. E não, não temos diferença. Temos amor.
– O amor não basta. – Ísis enjoou e quase desmaiou ao terminar de falar essa frase.
– Você está bem? Quer ir ao médico? – Giovanni ficou preocupado, no entanto, sem desconfiar os reais motivos do mal estar.
– Não precisa. É o tempo. É o calor. E o estresse, por favor, Giovanni, vai embora. – pediu Ísis.
– Não vou embora e te deixar assim. Você está pálida. – Gil enfatizou.
– Não é nada.

Eles foram almoçar juntos, Giovanni ficou muito preocupado com o seu amor.
– Quando você vai para São Paulo?
– O projeto me deu 2 meses para que eu possa ajeitar as minhas coisas aqui no Rio e poder ir para São Paulo. É o tempo de eu deixar a ONG arrumada para o Carlinhos tocar com ajuda da minha mãe e da tia Marlene. É o tempo de eu arranjar um novo médico lá.. – Ísis percebeu que estava falando demais e parou.
– Médico de quê? – Giovanni se espantou.
– Eu.. eu tô tratando uma anemia. – Ísis tentou mudar o rumo da conversa. – Eu já consegui um apartamento lá. Lindo, pequeno, mas como estarei sozinha, basta.
– Entendi. – Gil se calou. Talvez ele tivesse a esperança de que ela reconsiderasse.

Eles se despediram e ela foi para casa. Andando Ísis foi, talvez para refletir ou ponderar. Os olhos de Giovanni solícitos pelo retorno, o bebê que estava crescendo dentro dela. Ela precisava entender o que estava acontecendo consigo.

Na Pet Shop

– Eu encontrei com o Gil, ele me pediu para ficar no Rio. Pediu para que eu voltasse com ele e falou que eu era a mulher com quem ele queria ter uma família. – Ísis desabafou com a mãe e com a tia.
– Essa era a oportunidade perfeita para você encerrar esse segredo. – falou tia Marlene.
– Eu quase contei... – A jovem desabafou.
– E deveria ter contado, mesmo. Se livra desse segredo. Eu sei bem o quando um segredo pode nos devastar por dentro. – Adriana falou com tom melancólico.
– Está guardando algum segredo, dona Adriana? – questionou a filha.
– Eu não. – a veterinária respondeu.
– Não sei se estou pronta para contar. – Ísis confessou.
– Vocês não pararam para pensar que o Jonas pode estranhar? E consequentemente o Giovanni saber por outras bocas além da sua? – Marlene alertou.
– O Jonas estranhou a minha "fuga".
– Pois é, a tia Marlene tem razão. – reforçou Adriana.

Na Casa da Família Lopes

Ísis deitada na cama recebe uma mensagem de Sérgio: “Estou à frente do seu prédio. Você pode descer para falar comigo?”. A moça então foi.
– Eu soube que você quer se mudar, Ísis. Eu fiquei aflito, primeiro, porque não quero você distante e, principalmente, você e o Giovanni não podem continuar separados.. isso é um equívoco, minha querida.
– Doutor Sérgio, eu sei que o senhor gosta muito de mim. Mas, poxa, é a minha vida. São as minhas decisões. O Giovanni decidiu se separar de mim, eu aceitei, só que agora eu preciso seguir em frente e pensar que eu posso ser feliz, posso ter outras chances e outro amor, talvez? – Ísis sentiu uma tontura forte e desmaiou no carro sentada no carro de Sérgio.
– Acorda, Ísis. O que aconteceu, menina? Meu Deus. Acorda. Acorda.
Alguns minutos depois, a moça recobrou à consciência.
– Não é nada, eu só ando nervosa demais, estressada demais e isso me gera enjôos constantes.
– Você precisa ver a sua saúde, fazer exames, se cuidar. Não quer que eu te leve numa clínica agora?
– Não, obrigada. Eu já fiz exames e é isso que eu te falei. Estou anêmica, me cuidando um pouco melhor e logo estarei completamente boa. Agora, preciso subir, Sérgio... mas saiba que eu gosto de você, de estar contigo E isso independe do Giovanni e de qualquer outra coisa.

No apartamento dos Aranhas
Enquanto Helena está na clínica pisquiatra, o silêncio ecoa na casa da família Aranha.
– Giovanni? – Sérgio abre a porta já chamando o neto.
– Oi, vô. O que foi?
– Eu estava com a Ísis agora. Eu fui tentar convencê-la de ficar. E ela passou mal, bem mal. Simplesmente desmaiou. – Sérgio completou – Não poderia estar Ísis grávida? De você!
– Grávida?

Sim, a verdade sempre aparece.

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