Raiz

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Música “Clube de Esquina número 2” de Milton Nascimento

– Ísis, tem uma senhora aqui no abrigo chamada Adelaide. Ela quer ser voluntária. – Henrique chamou Ísis e a levou até Adelaide.
– Oi, querida. Tudo bem? Eu gostaria de ser voluntária da ONG e queria saber como posso fazer para me tornar. – Adelaide era uma senhora cheia de classe, postura e delicadeza.
– Oi, dona Adelaide. Tudo bem? Então, eu vou te explicar direitinho como fazer parte. Mas já adianto: será uma honra tê-la conosco. A senhora pode me acompanhar até a minha sala?

Elas foram à sala de Ísis e conversaram.
– A senhora tem uma história com os animais que tenha a motivado de fazer parte da ONG?
– Então, há mais de 20 anos atrás, eu perdi a minha família.  Minha filha sumiu no mundo grávida e meu marido faleceu em seguida. Em meio a busca pela minha filha e meu neto que nem sei se nasceu, fui desenvolvendo um amor pelos animais. Ao longo dos anos, adotei vários. Hoje não sou tutora de nenhum, pois estou numa casa de repouso e é proibida a criação de animais lá. Mas eu gostaria muito de ser voluntária, de poder ser útil aqui.
– Que história forte a da senhora, primeiro, eu quero agradecer pelo cuidado e pela generosidade de nos escolher para ajudar. E claro que sim, a senhora pode ficar na parte administrativa se preferir, se tiver aptidão com as redes, mídias para gerir adoção, por exemplo.
– Eu tenho aptidão. Eu gosto muito de usar essas plataformas. Eu me considero uma “senhora antenada”.
– Que alegria. Vai ser muito bom ter a senhora conosco. Aliás, já gostei muito da senhora só pelo olhar gentil, pela bondade que transmite. – Ísis sorriu
– Muito obrigada, minha querida. Sei que vou aprender muito contigo. Você também é uma grande pessoa, se vê pelo lindo trabalho que desenvolve com os animais. Acho maravilhoso quando alguém se empenha em algo, se doa por uma causa.
– É difícil, dolorido, mas eu amo muito.

Em casa
– Gio, eu conheci uma senhora hoje tão forte, mas tão delicada e bonita no abrigo. Ela se chama Adelaide. Foi se voluntariar, sabe quando você sente que conhece uma pessoa, mas não sabe de onde? Ela tem um olhar parecido com o de alguém que conheço. – Ísis comentou
– Ela deve ser muito gentil mesmo e doce para que você fique tão encantada. – Gio acarinhou o cabelo de Ísis – Mas não é hora de você dar uma parada no ritmo intenso de trabalho, não?
– Então, eu tenho ficado mais na questão burocrática da coisa. Os banhos, essas coisas que exigem mais de mim, eu tô de-le-gan-do. Tá difícil. – Ísis deu risada.
– Agora você tem que cuidar do nosso cachorrinho..
– Cachorrinho, Giovanni? Filhotinho é melhor.
– Filhotinho. – Eles riram e se beijaram

Mas a imagem de Adelaide não saía da cabeça de Ísis. O que será que aquilo significava?

“Porque se chamava moço
Também se chamava estrada
Viagem de ventania
Nem se lembra se olhou pra trás
Ao primeiro passo, asso, asso
Asso, asso, asso, asso, asso, asso
Porque se chamavam homens
Também se chamavam sonhos
E sonhos não envelhecem”

No outro dia, Giovanni buscou uma forma de achar a família materna. Ele pesquisou na internet um meio e encontrou um DNA mais completo que manifesta a origem de forma mais precisa e que contém um banco de dados mais amplo que permite encontrar laços de sangue. Ele estava decidido em buscar as suas origens.

– Eu não sei o porquê, mas depois do nosso bebê eu sinto ainda mais vontade de achar pessoas da minha família de origem. Laços de sangue. Eu reconheço a importância da minha família no que eu sou, apesar dos pesares, mas eu queria conhecer a minha família. Será que eu tenho avó? Avô? Pai biológico vivo? Irmãos. Eu queria entender a minha origem, hoje me sinto uma incógnita.
– Pode ser uma boa ideia esse exame, mas por experiência própria: não deposite todas as suas fichas em achar a sua família de sangue. Pode ser muito difícil e você pode se frustar. Busque, mas sem se deixar dominar por isso. Sofri tanto quando fiquei na dúvida de quem era filha.
– É verdade. Preciso ficar tranquilo. A verdade pode vim à tona sem que eu precise até mesmo me esforçar.

E ela sempre vem, mesmo.

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