A linha e o linho

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Música “A Linha e o Linho” de Gilberto Gil

Giovanni foi até à casa de Ísis. Jonas, Marlene e Adriana não estavam. Era, enfim, os dois.
– Preciso falar algo muito importante contigo. Muito importante. Já adiei demais. E isso está me sufocando. – desabafou Ísis, sentada ao sofá diante de Giovanni que estava de pé.
– Eu fui no abrigo e te encontrei com aquele Henrique, vocês têm algo? – questionou Giovanni com ciúmes.
– Eu e o Henrique? Não. Ele foi contratado para me substituir, você sabe. Depois de você, eu não tive mais ninguém. Como você pensou isso?
– Acho que foi o ciúme. Eu sinto ciúme de você. Sinto. Eu te amo. Eu não suporto mais ter que ficar longe de você. A coisa mais idiota do mundo que eu poderia ter feito foi terminar com você, por infantilidade e imaturidade minha. Ísis, eu te amo. No dia que te questionei sobre você estar grávida, a minha maior vontade é que fosse verdade. Tudo que eu queria era uma família nossa. Uma vida nossa. Longe de Helena, de Sérgio. Uma vida da gente.
– Giovanni.. – Ísis se preparava para contar a verdade.
– Só um minuto, deixa eu terminar. Ísis, você é a pessoa mais generosa e verdadeira que eu conheço. Tudo que você faz. A maneira que você enxerga o mundo, a maneira que você ama os animais, a maneira que você muda a vida de quem ama. Você mudou a minha vida, Ísis. E eu quero passar os meus dias com você. Eu quero envelhecer com você. Eu quero estar com você. – Giovanni falava essas palavras emocionados.
– Giovanni.. eu.. eu.. estou grávida de um filho seu. É verdade. Eu neguei por medo, mas eu quero te dizer, porque sei que era um sonho seu um filho e se tornou o meu também. Eu ia para São Paulo fugir de tudo. – A mocinha desabafou.
– Você está falando sério? Eu vou ser pai? Não acredito. Um pai de um filho meu e seu? Ísis, essa é a maior e melhor notícia que eu poderia receber.
– Estou. É verdade. Essa é a verdade que eu queria esconder, mas o amor que eu sinto por você não me deixou. – Isis e Giovanni se abraçaram e se beijaram.
– Eu senti muita saudade de você. Muita. – Giovanni respondeu – E agora?
– Eu não sei.
– Nós vamos construir a nossa vida, a nossa história, a nossa casa. Tudo nosso. Sem interferências.

Marlene e Adriana chegam.
– Estamos atrapalhando algo? – pergunta Marlene tendo sacado o clima romântico.
– Não. Não. Nós temos uma novidade: voltamos. – Comemorou Ísis
– Para sempre. – Completou Giovanni
– Meu Deus, que alegria. Que alegria. Que bom que você nos escutou, filha. É isso. Sigam as vidas de vocês felizes, plenos e confiem que o amor de vocês é indestrutível. – Adriana celebrou
– Estou muito muito feliz. Ainda bem que a mocinha cabeça super dura decidiu te contar, Gil. Eu fico aliviada. – Marlene disse

Parece que a vida estava bordando o caminho de Giovanni e Ísis, como a linha e o linho, a agulha do real nas mãos da fantasia. E eles passaram o dia inteiro ali, amalgamados, unidos e falando sobre o filho, o presente, o futuro como se o tempo tivesse suspendido para contemplar o amor que os unia, o vínculo perfeito.

– Pai, eu vou ser pai. – falou Giovanni a Jonas quando estavam em volta da mesa.
– Não acredito, filho. Você e a Ísis? – Jonas se emocionou – Não acredito. Que alegria.
– Sim, pai. E eu espero ser um pai tão bom como o senhor foi para mim. Da minha família, o senhor é o que eu tenho de melhor. – Giovanni abraçou o pai.
– Vamos ser avós da mesma criança, Jonas. Quem poderia imaginar isso há 25 anos? – Adriana perguntou
– Ninguém. O tempo é mesmo um senhor tão bonito.

No dia seguinte, Ísis foi ao abrigo. Muito mais animada e feliz.
– Carlinhos, eu e o Gil voltamos.
– Amiga, sério?
– Sim. Ele foi à minha casa, contei tudo, nos reconciliamos.. estamos felizes. O olho do furacão foi embora.
– Então, você vai ficar?
– Vou. Vamos nos mudar para uma casa nossa. Helena que lute.

O inferno pessoal de Ísis parecia ter sido embora – ou ao menos por enquanto – e a vida parecia sorrir.

À noite, Giovanni estava a esperando no apartamento. A alegria imensa, enchia os corações tal qual a canção de Gil.

“O zig-zag do tormento, as cores da alegria
A curva generosa da compreensão
Formando a pétala da rosa, da paixão
A sua vida o meu caminho, nosso amor
Você a linha e eu o linho, nosso amor”

– Eu tinha uma consulta, mas acabei perdendo. Se você quiser ir, pode vim amanhã. Nas quartas, eu tenho feito um curso para gestante. Eu sou a única que vai sozinha, a minha mãe não podia ir, a tia Marlene idem... e você não sabia.
– Claro que eu vou. Eu quero aprender tudo. Eu quero aprender a colocar para dormir, dar mamadeira, fazer papinha. Não vejo a hora de ir na ultrassom e ver com quem ele ou ela se parece. – Giovanni falou todo animado.
– Não dá para ver com quem parece ainda, não. Parece um patinho ainda, menor que um patinho. Eu tenho uma ultrassom guardada, mas foi a primeira. Faz algumas semanas. Vou te mostrar, é tão tão tão bonitinho.

Ísis mostrou a ultrassom para Giovanni que parecia não ter caído a ficha. Sim, eles seriam pais de um filho que era o fruto do amor inabalável, frondoso e verdadeiro. O amor que venceu o ódio e a mentira.

– Tomara que ela seja parecida com você. Seria o meu sonho. – Giovanni falava essas palavras enquanto acariciava o rosto da amada.
– Ela? – Ísis riu.
– Eu tenho certeza que vai ser uma menina, não sei o porquê. Mas vai ser uma menina, você vai ver.
– E você falou com a sua mãe?
– Sim, falei para ela não se envolver mais com a nossa história e que eu não quero mais contato com ela. Helena precisa entender que a minha família agora são vocês. Eu já estava sufocado com aquela casa, com aquelas pessoas mentirosas, farsantes, num eterno teatro.
– Eu não sei o porquê, mas ainda sinto que algo está para acontecer. Espero estar errada. – Ísis confessou.
– Não vai acontecer nada. Estamos juntos, unidos e é o que importa.

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