Pai e Mãe - Pt 2

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– Ísis, eu vim conversar com você. Só peço que me escute. – Sérgio apareceu   para conversar com a filha
– O que você quer, Sérgio? Não quero papo. E outro ponto: você é um foragido, o que está fazendo aqui? Na minha casa? Quer que eu ligue para a polícia?
– Eu quero que você me escute, Ísis. Eu sei que eu sou um homem questionável, aliás, completamente errado em minhas atitudes. Em tudo que eu sou, em que faço. Eu errei. Mas você é a única fagulha de sanidade, de beleza na minha vida.
– Sérgio..
– Um minuto. Ísis, eu quero que o amor que eu sinto por você, pelo Giovanni e pela filha de vocês. E eu agradeço, de certo modo, por você não ter sido criada junto a mim e a Helena. O fim dela foi terrível, ela está completamente louca e a culpa foi minha.
– Sim, a culpa é sua. E você é um criminoso que nunca pagou por nada que me fez, porque usa o amor que sente pela Helena como desculpa para escrever histórias. Sérgio, você sempre se sentiu como deus. Como você tivesse a capacidade de reescrever histórias, de inventar finais felizes para histórias que, simplesmente, não têm como terem como serem consertadas. Então, vou refrescar a sua memória: você matou o Bruno para ele deixar de perturbar a Helena, trocou os bebês e roubou do Giovanni a história dele, mesmo sabendo que a Helena incendiou o abrigo, se calou. O mundo, Sérgio, não gira em torno daquilo que você quer fazer pelas pessoas. Coisas tristes acontecem, amores não são correspondidos. Você quis dominar o mundo e agora está aí: sozinho. – Ísis esbravejou – E eu não quero contato com você. Eu não quero a minha filha convivendo com você. Eu não quero. Eu sinto algo bom por você, parece que nosso sangue se atrai, mas só isso. Não quero mais te ver e eu espero que você respeite isso.
– Você está no seu direito, na sua razão e para te provar isso: eu vou voltar para casa e vou me entregar. Eu vou pagar pelos crimes que cometi, vou morrer na cadeia, mas eu quero ter a honra de bater de frente com os meus erros. E por você e pelo Gio, eu não vou fugir. Mas antes, eu gostaria de deixar algo com você..
– O quê? Eu não quero nada seu.
– Essa é a foto da minha mãe. Ela é muito parecida com você. Assustadoramente parecida. Essa é a sua avó, uma italiana firme que chegou ao Brasil na Segunda Guerra Mundial. Uma mulher doce, justa, com uma grande personalidade. Ela me ensinou tudo, mas não aprendi nada. – Sérgio entregou a foto para Ísis e saiu.

Ísis chorou muito. Ali não era mais o avô do Giovanni, era o seu pai. Sim, Sérgio, era seu pai. O que foi para ela toda vida uma incógnita, agora era uma realidade concreta e dolorosa. Ao caminho de casa prestes a se entregar, Sérgio infartou ao volante e morreu.

– Ele morreu? – Giovanni recebeu a notícia pelo telefone
– Sim. – respondeu Jonas
– Meu Deus. Meu Deus. – Giovanni gritou
– O que aconteceu? – Ísis perguntou
– Sérgio morreu há cerca de duas horas. Bateu o carro e morreu imediatamente, aqui perto.
– Meu Deus. Ele veio aqui, ficou alguns minutos, me pediu para escutá-lo, me deu a foto da mãe dele e disse que precisava ir para casa se entregar.

O silêncio e o choro se amalgaram e tomaram conta do espaço, eles se abraçaram. Sérgio havia partido. Uma parte deles havia ido embora, ele não era apenas um mero vilão, mas o pai e o avô (amado).

Giovanni saiu com Jonas para resolverem o funeral. Marlene e Adriana ficaram com Ísis.

– Sensação estranha. Um pai que será enterrado e eu passei a vida toda querendo saber quem era, quando, na verdade, ele nem estava tão longe assim. Meus sentimentos ficam bagunçados. Ele saiu daqui dizendo que iria se entregar à Justiça por amor a mim e ao Gil. – Ísis chorou
– Não tenho palavras, meu amor. Apesar de tudo, ele era seu pai. Eu odiava o Sérgio, mas ele era seu pai. É natural que você se sinta assim. São os seus sentimentos. Confusos? Sim, mas sinta-os. – Adriana aconselhou a filha.
– Só não chora muito, meu bem. A Olívia sente tudo. Fica calma e serena. – Marlene sugeriu
– Eu vou ficar bem.

Giovanni chegou em casa. Era madrugada. Ísis estava acordada. Marlene e Adriana estavam dormindo.
– Chegou? – Ísis perguntou
– Cheguei, baby. Muito triste, tão de repente. Eu não estou conseguindo elaborar em palavras. – Eles se abraçaram e choraram juntos, depois dormiram.

Era de manhã, algo estranho aconteceu. As dores apareceram. A Olívia queria nascer. Ela queria romper o mundo e mostrar a vida é, sim, bonita.

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