Mãe, matriz, motriz

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Música “Motriz” de Maria Bethânia

– Mãe, eu acho que depois que fiquei grávida, passei a te amar mais. – disse Ísis à Adriana.
– Sério, filha? Poxa, que lindo. Eu te amo muito, muito. Você é a parte mais generosa que a vida poderia ter me dado.
– Sim. Gerar um filho, parir, cuidar. Só uma mãe é capaz de tanta força, de tecer com tanto cuidado o destino de um filho. – Ísis abraçou a mãe
– Você vai ser uma mãe maravilhosa. Você é uma pessoa maravilhosa, ainda melhor do que eu. Justa, amorosa, firme, responsável. Quando eu engravidei de você, eu tinha muitas dúvidas e era muito nova, errei muito. Continuo errando com você todo dia, mas aprendo muito. Mas posso te pedir algo, filha?
– O que, mãe?
– Se um dia você se sentir extremamente magoada com algo que eu fizer para te proteger, mesmo sendo a coisa mais dolorosa do mundo, me enxergue com a generosidade que te guarda. Tudo que faço e farei para sempre é te proteger.
– O que aconteceu, mãe? Eu sei que você sempre cuidou de mim e sempre vai cuidar. E sempre será eu, você e a tia Marlene nessa rede de apoio de mulheres fortes.. – Ísis olhou com certa dúvida, mas muito afeto.
– Nada, filha. Nada. – No olhar de Adriana o segredo acerca da paternidade de Ísis pairava, como ela sentisse que um dia tudo iria à tona.

Giovanni chega do trabalho e Ísis vai abraçá-lo.
– Oi, baby.. oi, sogrinha.
– Gio, já que você chegou, eu vou sair que eu preciso comprar umas coisas aqui de casa.. – Adriana saiu apressada.
– O que aconteceu? – Giovanni perguntou ao olhar Ísis e seu jeito um pouco inquieto
– Nada, mas às vezes acho que minha mãe está escondendo algo, não sei se é o assunto relacionado ao meu pai. Eu não sei. Ela veio com um papo esquisito, sabe? Como estivesse guardando algo. – Ísis confessou
– Deve ser só impressão sua.. mas como você passou o dia? E a nossa bebê? – Gil fez carinho na barriga de Ísis
– Pode ser "nosso", hein? Está cedo para saber.. mas acho engraçado que você está bem convicto que é uma menina, né. – Ísis apertou a bochecha da Giovanni
– Eu posso te jurar! Inclusive, eu sonhei algo muito enigmático, mas bonito: estávamos eu e você e aparecia uma moça jovem, ela olhava em nossa direção e sorria com uma serenidade, ai de repente aparecia uma menininha com ela e vinha em nossa direção e nos abraçava.
– Nossa, me arrepiei. – Ísis falou – Será que a moça jovem não é a Olívia, a sua mãe?
– Eu tive a mesma impressão. Eu amo a Helena, não posso negar. Ela me ama de um jeito torto, mas sempre foi a mãe que tive toda a vida. Os meus momentos todos na infância, na adolescência. Mas eu queria muito ter conhecido a minha mãe Olívia, queria ter convivido com ela. Desde que descobri que ela havia falecido no meu parto e que eu tinha sido trocado na maternidade, me questiono como as coisas poderiam ter sido. – Giovanni se emocionou e lágrimas cairam do seu rosto.
– Eu tenho muita certeza de que ela ficaria muito feliz da pessoa que você se tornou. Uma pessoa íntegra, um ser humano lindo, de olhar generoso. – Os dois se beijaram
– Amanhã a gente vai começar a ver casa para gente morar.
– Tô me sentindo adulta.. você marcou para gente ver apartamento?
– Nada disso. Uma casa bem grande, bem espaçosa para caber a gente, nossos muitos filhos e a arca de Noé inteira.
– Muitos filhos? – Ísis riu – Um já não tá de bom tamanho, não?
– Não. – Giovanni agarrou ela e beijou

No dia seguinte, eles foram até o Jardim Botânico conhecer a casa. Muito bonita, espaçosa, na Rua Sara Vilela – onde morava um conhecido rapaz chamado Tom Jobim – e as plantas, a calmaria e a beleza do local era tudo que eles queriam.

– É muito linda a casa, mas muito grande. Não tô acostumada com isso. Tô acostumada com meu ninhozinho. Imagina o trabalho para cuidar dessa casa? Mas eu achei linda. Dizem que o Tom Jobim morava naquela casa do lado.  – Ísis falou entusiasmada
– Vai ter gente para nos ajudar. Se bobear, eu trago até a Maninha para nos ajudar, se bem que ela não larga o meu avô por nada naquele apartamento.
– Se você quiser.. percebi que você gostou. Tem um espaço bem amplo. Acho que dá para eu trazer até a lhama que eu queria. – A mocinha riu

Já na casa da Família Ferraz, Ísis contou à mãe e à tia sobre a casa que viram.
– Muito bonita. Achei muito grande, são 4 quartos bem grandes. Tem uma área muito ampla, até falei com o Gol que não precisava de uma casa tão grande, mas ele se apaixonou. E é do lado da casa do Tom Jobim, vocês acreditam?
– Meu Deus, essa minha sobrinha agora vai para o Jardim Botânico. Que coisa mais chique. Só não consigo imaginar você saindo daqui e indo para longe, né? Saindo de casa depois de 25 anos com a titia e a mamãe. – Tia Marlene ficou emotiva
– Vocês vão ficar comigo sempre. O que não falta é espaço. E quando o neném nascer, a senhora vai me ajudar.  Eu tenho medo, sabe? Eu faço o curso e adoro, mas imagina eu com um bebê sozinha em casa. – Ísis riu
– Eu estou me lembrando de quando eu vim para casa com você, não foi tia? Pequenininha, mas chorava. Eu e a tia Marlene ficávamos tão desesperadas que chorávamos juntas, porque não parecia ter solução o seu choro. Quando a tia Marlene saía para trabalhar, parecia que eu ia enlouquecer. Mas depois você foi crescendo e ficando quietinha.. – Adriana lembrou
– Eu me lembro. Parecia uma bezerrinha.. mamava, chorava, mamava, chorava e dormia. E agora a neném vai ter um neném e aquela jovem mamãe vai ser uma vovó, né Dri?

“E nós, mãe
Candeias, motriz
Aquilo que eu não fiz
E tanto quis
É tudo o que eu não sei
Mas a voz diz
E que me faz
Me traz, capaz
De ser feliz”

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