Faz minha rima ficar mais rara

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A primeira coisa que sentiu ao acordar foi o incômodo nada bom minguando no fundo da garganta. Acordou assustada, os olhos secos e os lábios selados. Viu Pedro levantando da poltrona verde militar em um pulo, movendo os lábios enquanto falava algo que Natália não soube identificar.

O cômodo era em um branco gelo que deixou seu coração gelado de pavor. Ela podia ouvir o barulho das máquinas, desceu os olhos para o braço e então viu o acesso e a agulha presa na pele. Tinha certeza de que iria desmaiar a qualquer momento.

- Natália, meu amor. Você tá me ouvindo? - ela tentou responder, mas não conseguiu por conta do tubo preso nos lábios. Pedro acaricia seu ombro - Eu vou chamar a enfermeira pra tirar isso de você.

E aperta em um botão vermelho.

Natália aproveitou para observar sua situação inteira com coração acelerado. Com certeza estava em um hospital; a vestimenta azul e o quarto sem sal não indicavam o contrário, assim como a feição preocupada do irmão.

Mas por que ela não conseguia se lembrar do que havia acontecido antes de chegar ali?

- Olá, bom dia - uma segunda voz interrompeu um começo de surto da Cardoso, que se encolheu brevemente ao ver o jaleco branco - Que bom que acordou, Natália! Eu sou o doutor Ulisses, e estou responsável por você - ele sorri. Natália sentiu vontade de socar aquele rosto até o sorriso sair - A enfermeira já está a caminho para tirar o tubo, tudo bem?

Instantes depois, a mulher loura de olhos castanhos pede licença para entrar, retirando aquele treco da garganta de Natália, que se segurou para não vomitar.

- Água - foi a primeira coisa que ela murmurou, a voz quebradiça.

- É claro!

Com prontidão, Pedro se levanta, abrindo o freezer pequeno e retirando de lá uma garrafa fechada, um copo e um canudo.

O doutor ajuda Natália a ficar um pouco mais sentada, enquanto a mesma murmurava pequenos lampejos de dor. E foi ali, naquele movimento de se sentar, que seus olhos arregalaram brevemente.

O doutor, entendendo exatamente o que estava se passando, estende a mão para acariciar seu ombro brevemente, parecendo bem mais calmo do que deveria.

- Natália, você se lembra no que aconteceu antes de você chegar aqui?

A mulher beberica dois goles da água oferecida pelo irmão, já se sentindo um pouco melhor.

Ela nega com a cabeça.

- Me diga o que você lembra.

A Cardoso fecha os olhos, encolhendo o nariz ao ouvir a voz gutural de Bruno ainda ecoando em seu labirinto. Quase podia sentir seu perfume novamente.

Percebendo a inquietação da irmã, Pedro alcança a mão dela por cima da cama, fazendo Natália abrir os olhos de uma vez.

- Eu peguei o carro de Pedro de madrugada. Lembro de ter dirigido por um tempo, de estar nervosa, e então...mais nada! - o doutor escreve algo em uma prancheta, fazendo Natália se agitar ainda mais - Doutor, por que eu não estou sentindo minhas pernas?

Pedro arregala os olhos, parecendo tão surpreso quanto a própria irmã, fitando o doutor com preocupação aparente.

- Natália, isso é normal no começo, tudo bem? Você passou dois dias desacordada, deitada nessa cama sem conseguir se movimentar.

- O que atingiu? - ela questiona, seriamente - Eu vou ficar assim para sempre?

O doutor deixa a prancheta de lado para fitá-la.

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