Meu amor, você me dá sorte

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- Você gosta de orquídeas?

A voz de Carol ecoa pelas paredes do santuário de Natália. O mesmo local que ela costumava passar horas e horas revelando suas fotos, dentro daquela luz vermelha que sempre a encantava. Agora, as mesas foram recolhidas, sobrando apenas um extenso espaço com um punhado de telas escondidas atrás da cortina verde.

- Pedro gosta de orquídeas.

- Você, não?

Natália suspira, Carol manejando sua perna direita de um lado para o outro. Estava deitada em cima do tatame azul que Pedro havia comprado para dias como esse, em que Natália precisasse fazer a fisioterapia em casa.

- Não é a coisa mais legal do mundo. Mas não odeio.

- Pra você é sempre oito ou oitenta, não é? - a Cardoso dá de ombros, fazendo pouco caso daquele questionamento.

- Talvez.

Carol acena com a cabeça.

- Já que não gosta de orquídeas, do que você gosta, Natália?

Natália demorou a responder. Entre olhar para as mãos de Carol em sua perna e pensar fortemente em todas as coisas que gostava, ela se perdeu por um par de instantes.

- Fotografar. Eu gosto de fotografar.

A fisioterapeuta arquea as sobrancelhas.

- Eu vi os quadros escondidos. Quando vou poder ver uma foto sua? - Natália solta uma risadinha.

- Não sei se você está pronta.

- Eu posso ficar cega com tamanha beleza, é isso?

Natália arquea as sobrancelhas com a brincadeira. Carol costumava ser séria e centrada em suas sessões, aquela versão dela era divertida. Natália gostou.

- Ah, com certeza.

- Acho que eu vou me arriscar, então. Vai doer um pouquinho - Carol informa, tirando de Natália uma careta ao mover parte de suas costas - Desculpa.

- Mas, e você, ein?

Os olhos esverdeados a escaneam com atenção.

- Eu, o que?

- O que você gosta de fazer, doutora? - provoca Natália, tirando de Carol um sorriso de lado.

- Fora meu trabalho?

- Fora isso.

A Soffredini suspira, se sentando bem na frente de Natália, colocando os pés da mesma em seu colo enquanto apertava seus tornozelos. Natália emburrou por não sentir. Algo dizia que ela ia adorar receber massagem nos pés por Carol. Maldita hora de perder os movimentos!

- Ah, não sei.

- Tem que existir alguma coisa.

- Eu realmente amo o que eu faço.

Ela estava falando sério. Natália franziu o cenho ao perceber.

- Essa é sua vida? Seu trabalho.

Carol desliza a mão direita pela canela de Natália, que se arrepia mesmo sem sentir o toque da outra. O maior efeito placebo que ela já sentiu.

- Eu diria que sim. Trabalho desde cedo, e sempre gostei bastante de estudar essa parte do cérebro, do link que tudo tem com o corpo. Gosto de estudar sobre ligações, sobre vida. A ciência sempre foi minha melhor e maior companheira, desde que eu me entendo por gente. Isso meio que me deixou sem vida social por um tempo.

- Você se formou meio nova, né? - Carol franze o cenho com a pergunta.

- Você me pesquisou, dona Natália? - Natália cora. Deveria ter se calado enquanto ainda podia.

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