E hoje vai rolar o famoso "morder pra depois assoprar". Fiquem agora com os dias de glória...e é só isso que eu vou falar!
Boa leitura :)
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Algum dia, em algum livro, em algum momento de sua vida, Carol leu com olhos atentos Albert Einstein sabiamente dizer: Se um dia tiver que escolher entre o mundo e o amor lembre-se: se escolher o mundo ficará sem o amor, mas se escolher o amor com ele você conquistará o mundo. Por motivos específicos, pensou naquilo enquanto preparava seu chá de hortelã durante a madrugada. O sono foi escasso, não conseguiu pregar os olhos um minuto sequer; a imagem de Natália se propagando em sua mente como um disco arranhado. Machucando cada vez mais.
O álcool já havia desvanecido de seu corpo há muito, sobrando somente o constrangimento e o arrependimento.
Seu corpo parecia traí-la gravemente todas as vezes que a fisioterapeuta desejava estender a mão para beber do líquido quente. A palma tremia, os olhos marejavam e a garganta arranhava. Como havia chegado ali? Em que momento se apegou tão fortemente àquela mulher?
Imaginou que poderia ter sido no instante em que Natália se despiu para ela. Mas Carol não falava de roupas, falava de alma. Agora, mais que nunca, poderia dizer que via Natália como jamais vira ninguém. Podia entender o medo e receio que a mulher tinha de ser abandonada, jogada pra escanteio. E mesmo assim, foi exatamente isso que Carolina fez. Ela escolheu seu trabalho a Natália.
Escolheu o mundo ao amor.
- E agora é irreversível.
A ficha cai ao mesmo tempo que o chá acaba, tentando desmanchar o nó grosso atado no estômago. Em vão. Carol sentia que poderia vomitar tripas e coração a qualquer instante.
Ela gostaria de poder vomitar Natália de seu peito também.
Com os olhos já meio fechados, ela se arrastou até a cama, passando o lençol por cima do rosto enquanto o corpo tremia. Talvez fosse febre, talvez dor de amor. Carolina era cientista, se atentava aos fatos e números e gráficos e resultados objetivos, mas, mais do que nunca, sentia a dor do amor irradiar em cada poro de seu corpo.
Por que tinha que doer tanto?
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Natália sempre foi carente de cuidado. Desde muito pequena ainda, ela se lembrava de todas as reuniões que os pais perderam, dos dias das mães que a mãe ligava para a escola dizendo estar presa em uma cirurgia, deixando Natália sozinha, no meio do palco, se apresentando para ninguém. O pai, piloto de avião - sempre mais tempo no céu que na própria casa - e a mãe, cirurgiã, não tinham muito tempo para os filhos. Diferente de Pedro, que tinha uma mãe à parte e um padrasto amoroso e cuidadoso, Bruno e Natália sempre foram criados pelas babás. Apesar de que, em questão financeira, nunca lhe faltou nada. Natália tinha tudo que queria - muito mais que precisava - nas mãos, o tempo inteiro. Assim como Bruno. Talvez esse tenha sido o maior erro de seus pais.
Dito isso, o buraco permanente em seu coração dessa falta infinita e do medo inconclusivo de ser abandonada, era algo que não sumia nunca. Podia passar um, dois, cem anos, e o coração de Natália permanecia o mesmo: amedrontado com o futuro.
No dia posterior à visita inusitada de Carol, ela decidiu que não iria à fisioterapia. Informou à Pedro, que não entendeu à princípio, mas que respeitou, e se trancou em seu quarto.
Orgulhosa, Natália já se punha em pé sozinha, segurando nas barras instaladas em seu banheiro. Para alguns, aquilo não parecia grande coisa. Para ela, era um começo. O começo de sua nova vida que viria.
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Sangue latino
RomanceUm acidente de carro une Carol e Natália como se ambas já se conhecessem de outras vidas.