02 - Depois

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Assim que Beliel sumiu da minha vista, eu agarrei o gargalo pontiagudo novamente e corri para a casa. Lá, notei que os corpos já haviam sido enterrados, visto que um pouco próximo a floresta tinha um pouco de terra macia recém mexida.

De início, senti uma angústia avassaladora, imaginando o clima que estaria naquela casa fedorenta. Porém, quando me aproximei, notei que não estava tão ruim assim. A bagunça já foram arrumada e o luto havia passado tão rápido quanto chegou (se é que havia chegado em algum momento): uma leve cacofonia saia da casa junto de batidas de músicas de funk. Ao entrar, pude sentir o cheiro inconfundível de maconha. Notei Lilly, jogada sobre o sofá, com um baseado entre os dedos e uma garrafa em sua outra mão. Ela vestia um vestido curto e limpo e já havia pintado as unhas em preto, porém, sem unhas de gel dessa vez. Ela estava sozinha na sala mal iluminada, com a mistura de cores roxas e azuis pela luminária giratória passando em sua face. Assim que abri a porta, Lilly se ergueu em uma velocidade admirável para alguém que provavelmente estava cansada e muito chapada. Sem que eu pudesse falar algo, ela ergueu a velha Colt 1911 na minha direção, fazendo menção em atirar. Ergui minhas mãos em rendição e ela espremeu os olhos, acho que com dificuldade de discernir quem estava na porta. Imagino que, notando que era eu, ela tenha decidido que não queria me machucar, pois, com uma lentidão irritante, ela baixou a arma e se jogou no sofá de novo sem se preocupar em fechar as pernas. Escondeu a arma em suas costas. Entrei na sala e caminhei até ela.

— Você demorou — ela murmurou, fumaça saindo de seus lábios.

Como se eu tivesse sofrido uma lavagem cerebral, me senti feliz em ver Lilly, como sempre, chapada, deixando claro que tudo estava normal, ainda que não estivesse normal. Ergui a cabeça de Lilly e me sentei no sofá, deixando que deitasse em meu colo. A garota se encolheu quase em posição fetal, deixando um braço fora do sofá, qual, agora com a ausência da arma, segurava uma garrafa que antes estava no chão. Levou o cigarro na boca e deu mais uma tragada.

— Tive alguns problemas — peguei o baseado dela.

A garota me olhou com seus olhinhos caídos e cansados. Eu estava suspeitando que toda essa vermelhidão em seus olhos não eram apenas a maconha fazendo efeito. Lilly estava cansada.

— Que problemas?

Neguei com a cabeça. O dia já tinha sido exaustivo o suficiente, fora que ela nem ligaria. Talvez, não agora.

— Falamos disso amanhã — dei uma tragada. — está resolvido?

Lilly voltou a olhar para lugar nenhum. Ela assentiu.

— Sabrina tá apagada e Step tá com Diana. — com a mão livre, ela dedilhou meu joelho —  Lucas tá caído no chão da cozinha. Mike e Zak estão longe daqui, curtindo umas drogas mais pesadas. E Nícolas tava aqui. Agorinha. Perguntou sobre você.

— Você é uma puta louca.

Lilly ergueu o olhar para me encarar, como se perguntasse se ouviu direito.

— Você é uma puta louca — repeti, a olhando.

— Por causa da Sabrina? — sorriu, divertida.

Desviei o olhar. Lunática.

— Puta louca — cobri seus olhos, para que parasse de me encarar.

O silêncio retornou. Não aprovava suas ações e ela sabia. Nada mais tinha a ser dito porque, simplesmente, não mudaria nada.

— E você tá aqui, segurando uma arma — comecei. — Por quê?

Lilly fez um biquinho antes de colocar a garrafa no chão e esgueirar sua mão para atrás das costas.

𝕾𝖆𝖙â𝖓𝖎𝖈𝖔 - 𝕯𝖆𝖗𝖐 𝕽𝖔𝖒𝖆𝖓𝖈𝖊 (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora