Sai da casa e me encontrei em lugar nenhum. Eu estava no meio do mato... Provavelmente era a floresta próxima a fazenda. Segurando a mão de Deus, fui andando, caçando a saída daquele meio de fim de mundo.
Estava começando a anoitecer. Se eu pudesse deduzir, diria que passava das seis. Continuei caminhando. Depois de bastante tempo, pude ver o topo da casa. Já conseguia sentir o cheiro de sangue e carne podre. Senti um arrepio correr pelo meu corpo. Ainda estava longe e já sentia o fedor de morte.
Senti água pinga em minha cabeça. Começou a chover. Desgraça.
Apressei o passo. Meu chinelo arrebentou. Desgraça 2.
Arranquei a chinela, irritada, e a joguei em qualquer canto. Apressei o passo novamente. Caminhei por um pouco mais de tempo e consegui chegar em casa. Devagar, me arrastei até a porta e abri. O fedor bateu com força. Torci meu nariz e o cobri. Fechei a porta, deixando-a escorada. Testei as luzes. Uma delas piscou. O resto, sequer acendeu. A que funcionava, ficava piscando em uma luz fraca na sala. Olhei pelo local e vi manchas de sangue. Por ser a sala, deduzi que eram de Lilly e Mike. As manchas se arrastavam pelo chão até a porta. Alguém havia arrastado os corpos. Senti meu corpo esfriar. Sera que foi Beliel? Samael? Ou talvez... Será que eu não consegui matar alguém?
Fechei os olhos. Esfreguei o rosto. Não. Matei Sabrina com um tiro na cabeça, Diana com um tiro próximo a jugular, Mike com um tiro no peito e Beliel cuidou de Lucas. E para que diabos eles iriam arrastar o corpo para fora? Não faz sentido.
Talvez tenha sido Samael... Ou Beliel. No fim, não importa.
Caminhei até a cozinha e pude ver as marcas de sangue de Diana. Ignorei e fui até o armário. Puxei uma gaveta. Outra. Outra. Achei. Busquei uma vela e acendi no fogão. Um pouco mais de iluminação. Segui até a geladeira e peguei uma garrafa lá de dentro. Tentei abrir com o dente e quase lasquei.
— Inferno — cuspi as palavras.
Fui até a gaveta e peguei um abridor de garrafa. Abri. Bebi. Joguei o abridor na pia. Voltei para a gaveta e peguei uma faca grande. Coloquei entre minha cintura e o tecido da minha calcinha. Por precaução.
Bebi um pouco mais da cerveja e segui, vasculhando a casa. Subi as escadas. No corredor, Lucas. Ele não possuía nenhuma ferida. Sua boca estava aberta e seus olhos arregalados, sem vida. Parecia até que sua vida foi roubada. Sua alma.
Suspirei e desviei o olhar. Beliel não tá pra brincadeira.
Bebi mais um gole e segui pelo corredor. Abri os quartos. Mike. Step. Diana. Sabrina. Meu. Lucas. Lilly. Zak. Nico. Parei na porta de Nícolas. Eu nem cheguei a ver direito. Não sei se eu queria. Suspirei.
— Nícolas... — senti meus olhos queimarem. — me... M-me desculpa, eu... — gaguejei. Encostei minha testa na porta. — você... Porra, Nico... — solucei. Senti minhas pernas falharem e caí no chão. Coloquei a vela e a garrafa no canto. Me encolhi e comecei a chorar. — eu que fiz isso... — gaguejei — se... Se você não... Me desculpa, Nico. Me desculpa.
— Que dó.
Meu corpo pulou. Olhei para frente e vi Samael. Me encolhi contra a porta e meu choro, fala, tudo ficou entalado na garganta. Engoli em seco. Senti todo o calor do meu corpo esvair.
Ele estava parado, tranquilo, me olhando. Fumava um cigarro. Seus olhos brilhavam. Um azul vívido, quase violento. Aqueles olhos me faziam tremer.
— Era seu namorado?
A luz amarelada emitida pela vela o deixava mais assustador.
Pelo meu silêncio, ele deduziu a resposta.
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𝕾𝖆𝖙â𝖓𝖎𝖈𝖔 - 𝕯𝖆𝖗𝖐 𝕽𝖔𝖒𝖆𝖓𝖈𝖊 (+18)
HorrorEm uma casa próxima a uma floresta, uma sequência de assassinatos começam a acontecer. Em pouco tempo, se descobre um estranho, Beliel, escondido sobre a escuridão entre árvores. Com pentagramas, sangue e um olhar sádico, ali se desenvolve uma paixã...