11 - Um tempo para pensar

950 77 55
                                    

Senti minha perna latejar metade da noite quando minha anestesia havia passado. Na outra metade, algo parecido com uma cobra, serpenteava sobre minha pele, mas estava fraca demais para cuidar disso. De manhã, pude ver que minha ferida estava se fechando conforme passava o tempo. Envolta dela, crescia raízes e folhas floridas com de rosa. Em conjunto, ao olhar minha marca, pude ver que as raízes — tanto da coxa quanto da marca — estavam conectadas em uma só, quase como se a árvore estivesse dando forças as outras raízes para me curar. Achei estranho, mas sabia que era por conta de Beliel. Ergui minha camisa e traçei as raízes com o dedo. Conseguia sentir a "transmissão" de forças e tudo o que era necessário para uma cicatrização.

— As raízes demoram um pouco para trabalhar — sua voz me despertou do meu transe. Abaixei a camisa novamente e me virei para ele. Estava próximo a porta, escorado — em dois dias, talvez tenham finalizado.

Desviei o olhar, levemente envergonhada por ele ter me visto nua de novo — na hora de fazer a marca, no banho e agora. Ele estava sem camisa e a luz azul lá de fora dava um aspecto brilhante em sua pele.

— É um pouco incomodo as raízes debaixo da minha pele — murmurei.

— Um incomodo necessário.

— Eu sei, obrigada — olhei para ele.

Nos encaramos por alguns segundos, quase como se estivéssemos tentando nos ler. Desviei o olhar.

— Tá menos suicida? — perguntou.

— Vai se foder, vai.

— Só estou preocupado com você... — desescorou da parede e veio até mim.

— Um cara que nem você? Preocupado comigo? — murmurei um "tsc" — hilário.

Ele parou do meu lado. Olhei para ele. Inclinei meu rosto.

— O que você quer comigo? Vai me matar que nem fez com os caseiros e...

Antes que eu pudesse falar mais qualquer coisa, Beliel puxou meu rosto e me beijou. Suas mãos agarraram minha nuca. Não resisti. Seu beijo era bom e quase calmamente.

Depois de algum tempo, ele separou nossos lábios. Ainda ficou próximo de mim.

— Já disse — disse baixinho. — quero você.

Minha respiração ficou presa na garganta. Senti sua mão no meu rosto. Seus dedos roçaram na minha pele com cuidado, quase com medo de me quebrar. Foram até meus lábios e puxaram o inferior de leve. Os olhos de Beliel recusam deixar o meu rosto oscilando entre meus olhos e boca.

Gaguejei alguma coisa sem sentido. Ele balançou a cabeça e se afastou. Virou de costas, quase como se temesse voltar até mim.

Depois disso, percebi o quão vulnerável estava: apenas de camisa, fraca, ferida, sem arma ou noção alguma de onde estava, sozinha com ele. Completamente vulnerável. Por mais que ele não fizera nada até então, ainda temia. Não o conhecia, mas tinha noção de que era capaz de machucar pessoas... Os caseiros, Stephanie, Zak, Lucas.

— Quer vir comigo? — ficou de lado, sem me encarar.

— Pra onde?

— Buscar comida — disse indiferente.

Balancei a cabeça.

— Prefiro ficar aqui... Meu corpo ainda dói.

— Você quem sabe... Só não... — deu de ombros. Parecia estar caçando as palavras. — bom... Eu tô na sua cabeça — alertou.

Sorri de canto.

— É, eu sei.

— Então, qualquer coisa que você pensar...

𝕾𝖆𝖙â𝖓𝖎𝖈𝖔 - 𝕯𝖆𝖗𝖐 𝕽𝖔𝖒𝖆𝖓𝖈𝖊 (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora