03 - Diante da morte

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— Achei que iria dormir lá.

Abro meus olhos com dificuldade ao ouvir a voz de Nícolas. Era notável o sol da manhã, pois já atravessava as cortinas brancas do quarto. Em pouco tempo, vejo Nícolas se deitar junto a mim na cama, sinto as mãos ásperas ao redor da minha cintura e seu corpo colado ao meu. Me aconchego no seu abraço. O calor do seu corpo foi convidativo o suficiente para que eu ignorasse o fato de que ele me acordou do meu tão cobiçado sono. Ontem, após Beliel falar comigo em meio a escuridão da madrugada, tive dificuldade para dormir, sempre dormindo e tendo pesadelos com ele e seus pentagramas desenhados em sangue humano e, em seguida, acordando. Um ciclo sem fim que me fez desejar desmaiar.

No fim, eu dormi — pouco.

— Não consegui — murmurei.

— Por quê? — ele sussurra no meu ouvido.

Me encolhi com um arrepio imediato. Antes que pudesse responder, ele continuou.

— Ficou com medo?

Uma de suas mãos desceram e a outra subiu até meu pescoço. Agarrada, se transformou em um colar apertado. Ergui meu pescoço, apreciando seu toque.

— Não consegui dormir lembrando dos caseiros.

Nico se pressionou mais contra mim. Uma de suas mãos subiu, correndo minha cintura até meu seio.

— É?

Ele me apertou.

— Teve pesadelos? — ele mordiscou meu lóbulo — Sonhos?

— Não... — disse baixinho.

Sua mão massageou meus seios, subindo e descendo. Escorregou por minha barriga. A mão de Nico adentrou a calça do meu pijama enquanto a outra se mantinha firme, quase me machucando.

— Sonhos lúcidos, talvez? — sua voz tava um pouco pesada — pesadelos muito reais? Vozes?

O aperto aumentou, agora, forte o suficiente para me machucar. Mão insistente desejava se enfiar entre minhas pernas. Não estava mais divertido. Segurei seus pulsos em uma tentativa de intervenção. Ele continuou, me apertando mais. Seus pulsos logo foram soltos. Não tinha força o suficiente para o impedir. Ele estava me enforcando.

— Ficou com medo? — ele repetiu — por isso fugiu?

Ele riu. Sua voz se tornou maldosa e rouca. Diferente da voz de Nícolas, essa era uma voz conhecida e assustadora. Uma voz que fez meus ossos tremerem.

— Não vai me responder, Linda?

Abri meus olhos. Ofegante, percebi que era um sonho... Não. Um pesadelo. Mais um pesadelo.

Olhei para os lados. Nícolas não estava na cama e, por alguns segundos, agradeci. Estava parado ao lado do guarda-roupa. Estava de toalha, seu peito estava um pouco molhado, assim como seus cabelos. Ele me olhou curioso, quase preocupado. Em outra ocasião, teria o admirado; Nícolas é bonito e tem um porte físico atraente. Nunca fiquei com ele, mas imagino que seja algo calmo e tranquilo. Ele costuma se esforçar pra deixar as pessoas bem e tenho certeza que ele faria isso comigo. O que torna aquele pesadelo uma completa antítese de como seria transar com ele, mas, talvez, seja uma pequena prova do que Beliel faria comigo acaso tivesse a chance.

Tremi só de pensar.

— Tudo bem, Melinda?

Suspirei. Um pesadelo. Tudo bem. Apenas um pesadelo.

— Sim, eu só... Tive um pesadelo.

As palavras sumiram dos meus lábios. Nico deu uma risadinha nasal. Não foi uma risada de quem realmente acha graça. É a típica risada de quem fica sem o que dizer.

𝕾𝖆𝖙â𝖓𝖎𝖈𝖔 - 𝕯𝖆𝖗𝖐 𝕽𝖔𝖒𝖆𝖓𝖈𝖊 (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora