Sangue, sangue e sangue. Sonhei com isso. Primeiro, Nícolas estava pendurado de cabeça para baixo em frente a casa, sob a porta; sua cabeça estava desconexa do corpo, deixando uma corrente de sangue infinita, encharcando meu corpo quando eu fosse passar. Primeiro, eu observei. Queria chorar vendo meu amigo naquele estado, mas não consegui. Sabia que me sentiria culpada caso uma lágrima sequer saísse dos meus olhos; ele havia morrido por minha causa. Não tinha o direito de chorar. Passei por ele, entrando na casa. Na sala, encontrei Lilly, morta, e Lucas, violando o cadáver. Ele sorriu para mim e eu corri, como havia feito antes, deixando Lilly em suas mãos. Subindo as escadas, encontrei Zak e Mike, ambos me encarando com olhares mortos. "Sua culpa", eles falavam. Conforme as bocas deles abriam, moscas saiam de lá. Algumas delas vieram até mim. Desviei delas como pude, mas logo algumas delas conseguiram tocar minha pele; entraram nos meus olhos, nariz, boca e orelhas. Sentia suas patas no interior de minha carne, remexendo meu sangue e minha pele, se afundando em mim. Abri a boca para gritar e tudo o que aconteceu foi um grito silencioso. Caí de joelhos. Tossi, cuspindo algumas moscas. Bati em meu peito. Ergui o rosto, chorando pela minha dor. Culpa minha. Agarrei meus cabelos, puxando-os, em um surto. Fios saíram nas minhas mãos. Senti meus dedos molharem. Levei até os meus olhos. Com dificuldade, consegui ver larvas e varejeiras nas pontas dos meus dedos, mexendo, remexendo com sangue e pus retirados do meu cabelo. As moscas se afundaram nos meus olhos, me impedindo de enxergar qualquer coisa. Sem muita escolha, enfiei meus dedos nos meus olhos, puxando algumas moscas, tentando tirá-las de mim. Tirei algumas me dando a oportunidade de ver Sabrina, com um tiro na cabeça, na minha frente, Diana, do mesmo jeito, ao seu lado. "Culpa sua", gesticulava. Então, senti meu pescoço ser cortado. Stephanie, podia sentir nos meus últimos segundos naquele sonho. "Culpa sua".
Acordei, assustada e chorando. Virei o meu rosto para o lado. Estava escuro, não conseguia ver nada.
Ouvi um barulho, depois, senti o peso de alguém na cama. Braços me envolveram num abraço.
— Beliel... — murmurei.
— Linda — disse no mesmo tom.
Me aconcheguei no calor de Beliel. Meus olhos ardiam conforme eu voltava a chorar. Me encolhi contra o corpo de Beliel, quase como se achasse que isso me protegeria da culpa.
— Foi minha culpa — disse entre soluços.
— Não foi.
— Eu abandonei Lilly para morrer e... — solucei — não estava lá para proteger Nico... S-se eu ao menos...
Não consegui continuar falando. Meu choro e os soluços se tornaram frenéticos. Afundei meu rosto no peito de Beliel enquanto ele acariciava meus cabelos.
Ficamos assim. Em silêncio, apenas com o som dos meus soluços até amanhecer. Não sei ao certo quanto tempo dormi, mas sei que Beliel esteve comigo o tempo todo.
Quando mais calma, Beliel me deixou para resolver alguns problemas, deduzi. De manhã, me levantei. Senti minha perna arder. Ainda estava ferida. Olhei para minha coxa; estava com um curativo. Me perguntei porque Beliel mão havia me curado como tinha feito antes. Afastei os pensamentos. Me arrastei pela cama. Coloquei os pés no chão. Assim que tentei me levantar, cai. O chão frio bateu contra o meu rosto e minha coxa ardeu de maneira agressiva. Gemi de dor. Tive vontade de chorar de novo. Não pela dor, mas sim pela minha inutilidade, pela culpa. Isso doía mais do que qualquer coisa. Me arrastei pelo chão, até ficar próxima a parede e me escorar nela. Minha respiração estava pesada. Culpa. Era tudo culpa minha. Uma coxa ferida era menos do que eu realmente merecia. Quem deveria ter o pescoço cortado não era Lilly e sim eu. Nícolas não teria morrido caso eu não tivesse o abandonado. Eu atirei no rosto de Sabrina sem sequer hesitar. Eu merecia morrer, não eles. Talvez, se eu tivesse morrido, todos seriam poupados.
Comecei a chorar de novo. Um soluço rasgou a minha garganta. Fechei minha mão e comecei a esmurrar a perna a qual havia a ferida. Entre soluços e gritos, eu socava minha própria perna até não aguentar mais. Urrei de dor, sentindo o sangue se espalhar pela faixa e a dor só aumentar. Soquei mais algumas vezes até desmaiar com a dor.
Acordei sentindo frio. Me encolhi. Minha visão foi clareando e pude ver que estava numa banheira. Beliel estava do meu lado. Senti vergonha por estar nua na frente dele, mas não consegui fazer nada. Meu corpo não se mexia. Olhei para ele. Ele olhou para mim.
— Te anestesiei — disse. — te encontrei no chão, com a mão suja de sangue e com sua ferida aberta de novo. Por isso te anestesiei.
Baixei os olhos. Minha ferida foi costurada de novo. A água estava levemente avermelhada graças ao sangue da minha ferida e minhas mãos. Ergui os olhos até Beliel. Será que ele...
— Não vou fazer nada. Te anestesiei porque você tava se machucando. E tô te dando banho porque tá suja.
Desviei o olhar. Não confiava nele. Ele me salvou, me abrigou, porém, ainda não sabia os limites dele. Ele disse que não transou comigo enquanto eu dormia porque "não teria graça", mas não posso dizer o mesmo agora.
Tentei movimentar minha língua ou partes do meu corpo, só que tudo que se mexia eram meus olhos.
Beliel ergueu meu corpo, começando a lavar o meu cabelo.
— A culpa não foi sua.
Foi de quem? Pensei.
— Foi do Mike, Lucas, Diana, Stephanie, não sua.
Baixei os meus olhos, querendo chorar de novo.
— O que você podia fazer, você fez: arriscou sua vida para tentar salvar quem era importante e, se não conseguiu, você ao menos tentou. É o que importa, não?
Ficamos em silêncio até o fim do banho. Beliel me limpou, vestiu uma camisa dele em mim e me deitou na cama. Antes de sair, ele me beijou na bochecha e sussurrou:
— Não se machuque por algo que não foi você quem causou, Linda — e saiu.
N. Mabis:
Esse cap saiu antes do previsto... Bom, logo logo sai um de demoníaco. Bjos da mabis 🤍💀
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𝕾𝖆𝖙â𝖓𝖎𝖈𝖔 - 𝕯𝖆𝖗𝖐 𝕽𝖔𝖒𝖆𝖓𝖈𝖊 (+18)
HorrorEm uma casa próxima a uma floresta, uma sequência de assassinatos começam a acontecer. Em pouco tempo, se descobre um estranho, Beliel, escondido sobre a escuridão entre árvores. Com pentagramas, sangue e um olhar sádico, ali se desenvolve uma paixã...