Three

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NÃO ME DEIXE ESPERANDO

— Você tem certeza de que não quer ir comigo? Sei que adora encher o carrinho com chocolate e salgadinho. — minha mãe pergunta de pé na soleira da porta.

— Eu tenho fé de que você fará isso por mim. — sorrio para ela. — Não se esqueça do Cheetos. Ele é como o espinafre do Popeye para mim.

Ela revira os olhos.

— Certo. Se sentir fome, tem lasanha no forno micro-ondas. Vou tentar não demorar. — ela começa a procurar algo dentro da bolsa. — Você viu a chave do carro por aí?

Pego a chave ao lado da tevê e entrego para ela.

— Está aqui. Agora vá antes que fique muito tarde. — preparo-me para fechar a porta. Ela estranha a minha atitude, mas não diz nada a respeito.

— Se cuida. — ela finalmente sai.

Não me entenda mal, eu não estou tentando expulsar minha mãe de casa. Mas seria bem desagradável se ela estivesse aqui quando o meu mais novo aluno particular chegasse.

Olho para o relógio antigo de cuco na antessala. Era da minha avó. Que ela descanse em paz. E não, ela não está vivinha na Flórida. Ela realmente partiu dessa para melhor.

Já são dezessete e meia e nem sinal do Harry. Hoje na escola só o vi de passagem no corredor. Ele nem me viu. Ou então viu e fingiu que não viu. Bom, tanto faz. Pensei em perguntar a que horas ele pretendia vir, mas me lembrei daquele "detalhe importante". Não vou por tudo a perder agora. Eu devia ter dito a ele, ainda na quadra, que viesse o mais cedo possível. Minha mãe não vai ficar a noite toda no supermercado. E eu não quero que ela esteja aqui quando ele chegar.

Eu sou uma tonta mesmo. Não era para EU definir os horários e os locais? Até agora eu não defini NADA. Ele é quem está definindo tudo. Idiota mandão. Isso não vai continuar assim, não mesmo.

Hoje mais cedo, no refeitório, contei a Gillian que eu tinha aceitado ajudar o Sanders. Contei também o que eu receberia em troca.

"Ser popular? Mas que besteira é essa?", foi o que ela disse. Eu não espero que as pessoas entendam as minhas motivações. Gillian sabe sobre como me sinto em relação à Audrey, mas ela sempre diz para eu deixar isso para lá e para eu viver a minha vida. É o que vou fazer. Vou deixar Audrey para lá e viver minha vida. Só que eu faço questão de que a minha vida seja tão interessante quanto à de Audrey.

No final das contas, Gillian riu do meu plano mirabolante de ser popular e começou a tagarelar sobre outras coisas. Gosto disso nela. Ela não me pressiona nem me condena. Ela sabe que eu sou meio neurótica com algumas coisas, e eu sou mesmo, mas não se importa com isso. Quando estamos juntas, eu me sinto bem mais leve.

Mas aqui, agora, sem Gillian para me contar histórias malucas de suas viagens, eu não me sinto nem um pouco leve.

Assisto a três episódios de Breaking Bad. Como dois pacotes de pipoca de micro-ondas. Como a lasanha que a minha mãe deixou. Escondo todos os quadros de Audrey, porque não quero que ela ofusque minha aula. Alimento Elvis. Não que eu já não tenha feito isso hoje, mas estou ociosa e ansiosa e não quero ser a única a me empanturrar com comida enquanto espero Harry chegar. Minha mãe avisa que vai jantar com uma amiga, então respiro aliviada por saber que ela não está prestes a voltar.

Oito horas. Ele podia pelo menos mandar uma mensagem, certo? Ninguém merece ficar de plantão esperando um retardatário chegar. Sei que minha mãe demora horrores no supermercado, e sei também que ela ainda vai jantar fora, mas duvido que isso a segure na rua até muito mais tarde.

12th Grade and UsOnde histórias criam vida. Descubra agora