[ESPECIAL] Double Block

59 1 0
                                    

P.O.V. — Harry

É engraçado o poder que uma desilusão amorosa tem de tornar até o mais preguiçoso e burro dos alunos em um estudante nota A. Beleza, estou mais para nota B. Mas até que tirei alguns A- históricos esse ano. Todos os últimos anos letivos em que mal consegui fixar minha atenção por mais de três minutos no professor agora ficaram oficialmente para trás. Agora consigo ficar cinco, às vezes sete minutos inteiros ouvindo o monólogo diário na escola.

Tenho estado mais focado nos treinos também. Enquanto estou saltando o mais alto que posso para cortar alguma bola explosiva que Zack jogou propositalmente na minha direção, quase consigo me esquecer de que faz dois meses desde que beijei Ambrosine Coleman pela última vez.

Acho que quando a deixei naquela salinha apertada com um ultimato, no primeiro dia de aula desse ano, não achei que fosse realmente uma despedida. Eu estava frustrado, não aguentava ser jogado para escanteio por conta de uma fofoca idiota. No fundo eu tinha certeza de que era tudo fogo de palha, Ambrosine iria perceber isso rapidamente e poderíamos enfim ser um casal normal na San Diego High School.

Eu tinha certeza de que ela ia me ligar. Talvez ela aparecesse na minha casa. Ok, isso seria improvável depois do jeito imperdoável que meu pai a tratou, mas ela poderia ter me mandado alguma mensagem. Qualquer coisa. Apenas um "oi" e eu teria voltado correndo para ela. Teria tentado conversar novamente para encontrar alguma solução para nós. Uma forma de contornar as fofocas e ainda poder estar com ela sem me preocupar com olhares e comentários escrotos.

Mas ela não ligou naquele dia. E nem no seguinte. Quando cheguei ao colégio, não a vi em nenhuma aula.

Infelizmente nesse semestre não caímos em nenhuma aula em comum. Eu já não a vejo sentar-se na primeira carteira na aula do Sr. Robinson, ávida a responder todas as perguntas capciosas dele sobre compostos químicos só para lhe provar que é inteligente. Para que aquele velho maldito parasse de subestimá-la. Também não a vejo na aula de Inglês, como no semestre passado, encarando o Sr. Wilson com os olhos brilhando sempre que o tema de aula envolvia algum romance.

Não a vi nas aulas, nem nos corredores, mas a vi no refeitório. Eu esperava encontrá-la em algum canto esquecido do enorme salão, sentada com aquela Mini Cooper insuportável. Esperava vê-la com suas roupas antigas, um rabo de cavalo desleixado e o olhar baixo. Ela foi categórica quando disse que não queria mais a popularidade. Estava disposta a voltar ao seu velho eu se isso significasse sair do centro das fofocas do colégio.

Então você deve imaginar a surpresa que eu fiquei quando a vi na mesma mesa que ocupou nos últimos meses, cercada por suas amigas populares. Usando as roupas novas e modernas. Sorrindo abertamente e jogando os cabelos claros com seu charme fodidamente tentador. Tirando o fato da Mini Cooper agora fazer parte do grupo, nada havia mudado.

Ambrosine me disse que o julgamento era demais para ela. Que queria nos manter em segredo para se resguardar das fofocas. Que não queria mais estar nos holofotes, que abriria mão de tudo se fosse preciso. Mas, aparentemente, não de tudo. Somente de mim.

O olhar dela cruzou com o meu assim que entrei. E por um breve momento eu vi culpa nele. Ela então digitou algo no celular e o meu vibrou no mesmo instante. Vencido pela curiosidade, abri a mensagem:

Eu posso explicar

Mas já estava explicado. Ela não abriu mão da posição que tanto trabalhou para conseguir. Não desistiu das amizades falsas, nem da atenção desse bando de puxa-sacos. Ela estava disposta a tolerar as fofocas, só não queria correr o risco de incitá-las. E se estar comigo significava incitar, então ela escolheu não estar.

12th Grade and UsOnde histórias criam vida. Descubra agora