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NADA É IMPOSSÍVEL PARA GENTE

A decoração de Natal da casa dos Jones beira o extravagante. Uma árvore de quase três metros se empoleira pela sala de estar, as luzes coloridas tão fortes e oscilantes que são capazes de me cegar se eu olhar por muito tempo. Todas as louças, almofadas e enfeites espalhados pela casa brigam entre si em estilo e cor, deixando uma sensação vertiginosa no lugar de reconfortante.

Natal sempre foi minha festividade preferida. Com pais separados desde a infância, nunca tive uma experiência cinematográfica envolvendo biscoitos amanteigados, pijamas natalinos, pais amorosos que te presenteiam na manhã de Natal e te fazem acreditar por anos a fio que o papai Noel existe. Ainda assim, existe uma energia no ar, um clima único e vibrante que contagia a todos.

Sempre intercalei entre passar a data com meu pai, na Flórida, ou com minha mãe, aqui na Califórnia, e era sempre muito monótono e solitário. Não ajudava o fato de Audrey sempre se vangloriar sobre como seus presentes eram melhores que os meus. Então eu sempre me pegava sonhando com o dia em que teria minha própria família e poderia então começar novas tradições de Natal, com toda a magia que a data merece.

Desde que a família Jones mudou para a mesma rua que nós, há três anos, eles nos convidam para passar a data com eles, muito provavelmente por sentirem pena das mulheres Brown Coleman da casa ao lado, que sequer decoram o jardim com gnomos e renas brilhantes. Como nunca temos nada melhor para fazer, aceitamos gratamente o convite.

Para minha enorme felicidade, esse ano Audrey foi passar as comemorações com papai. Então somos apenas mamãe, eu, os trigêmeos de seis anos do Sr. e da Sr. Jones, a avó idosa da Sra. Jones, o tio avó ainda mais idoso do Sr. Jones e a irmã hippie da Sra. Jones. O contraste de idade, estilo e afinidade entre todos os presentes torna essa pequena reunião ritualística tão embaraçosa quanto engraçada.

A noite transcorre em uma sinfonia de gritos, choro e risadas das crianças que correm por todo lado, tosses e arrotos dos idosos nada inibidos, divagações e cantorias desafinadas da tia hippie e conversas constrangedoras entre mamãe e a Sra. Jones.

― Você sabe, Eve, a minha perseguida nunca mais foi a mesma depois que expeli três bebês prematuros. ― ouço Sra. Jones confidenciar a minha mãe, esforçando-se em vão para soar baixo.

Engasgo com o suco de maçã que estou tomando.

― Eu posso imaginar, porque mesmo tendo parido apenas um bebê por vez precisei de muito pompoarismo para voltar à velha eu, especialmente depois do parto da minha Ambrosine...

Saio de perto das duas, nem um pouco interessada em ouvir sobre vaginas modificadas depois de partos normais. Longe da energia caótica daquelas pessoas, sentando-me em uma poltrona próxima à janela da sala, minha mente vagueia para os acontecimentos dos últimos dias.

Imediatamente flashs da festa suntuosa de Carolyn vêm a minha cabeça, lembrando-me de quão fácil foi para mim passar por cima de todos os meus princípios e beijar Harry naquele píer. Quão fácil foi amolecer em seus braços, esquecer todas as minhas convicções e promessas. Ainda que eu estivesse me sentindo traída por Zack, nada justifica.

Dou uma olhada novamente na mensagem que Zack me enviou hoje mais cedo.

Oi, Rose. Como você está? Não nos falamos desde a festa... Sinto sua falta. É uma droga que eu tenha que ter vindo já no dia seguinte para o Kansas, do contrário estaria com você agora. Se você quisesse, claro. Como não sei se estarei sóbrio o bastante à meia noite (meus avós compraram simplesmente vinte garrafas de vinho, Deus me ajude), Feliz Natal adiantado.

12th Grade and UsOnde histórias criam vida. Descubra agora