Seventeen

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TENHA UM BOM DIA

Eu pensei que fosse passar a noite inteira aos prantos, chorando até as lágrimas secarem, mas a verdade é que chorei por uns dez minutos e cansei.

Simplesmente cansei. Cansei de tudo e todos.

Assim que saio do jardim, deixando para trás a pessoa que partiu meu coração, vou direto para o meu santuário pessoal, meu quarto. Torço para não esbarrar com ninguém. No final das contas, não esbarro. Mamãe está ainda na cozinha com Daisy, lavando as pratarias, e papai está cochilando no sofá. Sem sinal de Audrey.

Logo que alcanço a porta do meu quarto, vejo um feixe de luz saindo por debaixo da porta do quarto dela. Entro rapidamente no meu e me tranco. Só então choro por dez minutos e paro.

As últimas semanas me fizeram perceber um lado muito emocional de mim mesma, lado este que eu desconhecia quase por completo. Foi só o Harry surgir na minha vida que eu comecei a ser sentimental, apaixonada e sonhadora. Meus sonhos costumavam ser bem objetivos: ser popular, bonita, sexy, rainha do baile, desejada por todos. De repente eles passaram a ser: encontrar minha cara-metade, de preferência uma cara-metade de olhos verdes e cabelos desgrenhados.

Muito clichê, não?

Não acho que eu esteja plenamente mudada. Ainda existe um pouco de razão em mim. Eu sei que existe.

E, depois de dez minutos chorando como uma tola, o que resta da minha razão ganha lugar nos meus pensamentos.

Vamos aos fatos: Harry e Audrey transaram. Isso é duro de aceitar. Nem toda a racionalidade do mundo vai me fazer encarar esse fato com leviandade ou indiferença. Lembrar-me disso vai sempre doer, uma dor cem por cento irracional, uma dor que mexe com algo muito profundo de mim, aquele velho e constante sentimento de inferioridade, de derrotismo, de baixa autoestima.

Mas os fatos não terminam por aí: ele gostava (ou gosta, não dá para ter certeza) dela. Essa informação termina de acabar comigo. Isso me dá todo o direito de ficar arrasada. Gostar da minha irmã mais velha é um soco na boca do estômago em tantos níveis que mal consigo respirar.

Mas não posso acusar o malfeitor em questão de traidor. Tudo bem, ele traiu a ex-namorada, mas, até onde eu sei, não me traiu. Dizem que quem trai uma vez, trai duas, e quem trai duas, trai três... Se ele traía a Carolyn, por que seria diferente comigo?

Não que tenhamos um relacionamento, claro. O histórico de traições dele não faz a menor diferença para mim, já que nunca teremos nada mesmo.

É... Essa é a conclusão a que consigo chegar. Não há a menor possibilidade de eu ter algo com o Harry agora. Eu sei que não posso acusá-lo de nada, sei que o caso entre ele e Audrey foi no passado, mas o buraco é mais em baixo. Eu simplesmente me RECUSO a ficar com alguém que já passou pelas mãos experientes da minha irmã, me RECUSO a viver sempre à sombra dela, tentando sempre superá-la, mas nunca conseguindo.

Quero desesperadamente algo MEU. Algo que nunca tenha sido dela, algo que eu conquistei primeiro.

Por mais sórdido que isso possa parecer, levando em conta que o objeto a ser conquistado é um ser humano, é a mais pura verdade.

Surpreendentemente, consigo dormir sem dificuldade. Meu sono é tão pesado que nem a luz do sol penetrando pelas janelas consegue me acordar. Só quando ouço o som nada agradável de alguém batendo insistentemente na minha porta é que levanto.

É minha mãe me chamando para tomar café. Ela costuma decifrar bem minhas expressões faciais, mas dessa vez ela não nota minha cara de sei-lá-o-quê. Provavelmente está distraída com a presença de seu ex-marido e sua esposa siliconada lá embaixo.

12th Grade and UsOnde histórias criam vida. Descubra agora