2- Fone de Ouvido

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Jihyo era calma e muito inteligente. Mas com seu fone de ouvido, ela era imbatível. Isso porque, apesar de não ter tanta tecnologia à sua disposição (que ela sabia existir fora do casarão), ela podia se divertir muito com o que tinha.

Ganhara o fone quando completara 15 anos. Jinyoung, ou O Oráculo, nome que ela deu para a figura holográfica que ficava no porão, "fez surgir" o fone da Porta de Acesso. Uma porta que levava para fora mas que não tinha espaço o suficiente para que um ser humano atravessasse. Apenas coisas, objetos de tamanho médio e pequeno.

Voltando ao fone, Jihyo eventualmente descobriu que com ele ela não poderia ouvir música: não tinha nenhum aparelho que reproduzisse. Mas, quando o colocava, ela ouvia algo. Se era intencional da parte de Jinyoung que Jihyo fizesse a descoberta, ela não saberia dizer, mas depois dos 15 anos parecia que a cada ano ele dava mais uma pista, uma forma de fazê-la descobrir o que era, de fato, o casarão e porque ela, Nayeon e Jeongyeon estavam sozinhas ali.

Aos 16, ganhara o que pensara ser um relógio, mas era uma bússola que apontava para o leste, e ela rapidamente entendeu que o lugar que estava atraindo a bússola era uma porta da casa à qual as meninas nunca tiveram acesso (e decidiram muito criativamente chamar de Porta Sem Acesso. Aquela dava para um ser humano passar tranquilamente).

Aos 17, um livro de ficção que falava sobre fios que ligavam as pessoas espiritualmente. Esse, achou ser realmente apenas um presente (mais tarde ela descobriria que não era).

Aos 18, ganhou um filme e um aparelho de DVD para vê-lo. O filme era Monstros S.A e ela e as outras meninas acharam muito divertido, mas as portas fizeram Jihyo refletir, mais uma vez, sobre a Porta de Acesso e a Porta Sem Acesso.

Aos 19, foram liberados canais na pequena TV que tinham e elas puderam ver conteúdos mais atuais. Ainda antes, bem antes, aparentemente, do que o mundo era agora, mas, mais atuais. Nesses novos canais as pessoas apareciam com outras roupas e mais tecnologia. Isso foi o que fascinou Jihyo. Se perguntava quando ganharia um smartphone e esperava que logo.

Em um desses canais, passava um documentário sobre uma tal "teoria do multiverso" e Jihyo anotou cada parte.

Aquele ano, especificamente naquele dia, era seu aniversário de 20 anos. Ela mal podia conter a ansiedade. E Jeongyeon sempre fazia um bolo ainda mais gostoso que o anterior havia sido, enquanto Nayeon decorava uma pequena festa com o que Jinyoung liberava através da porta. Mas, acima de tudo, queria saber que outro presente ou pista ganharia.

Ah! Não me esqueci do fone.

Jihyo o apanhou em sua cabeceira na esperança de que fosse ouvir algo diferente dessa vez. Normalmente escutava sussurros, vestígios de conversas aqui e ali, algo parecendo que tinha alguém sugando o restante de um refrigerante através de um canudo. Muitas vezes, um sussurro ou conversa vinda do fone a ajudava a resolver questões que ela passava dias pensando sobre. Por exemplo, certa vez não conseguira fazer uma receita de jeito nenhum mesmo seguindo o que dizia no livro, e após cerca de 10 minutos usando o fone, alguém sussurrou "use mais farinha e menos fermento" no meio de muita conversa aleatória em baixo tom.

Mas ela sentia, dentro dela, que dessa vez seria diferente. Então, animadamente, colocou o fone.

Jeongyeon achou Jihyo em seu quarto jogada no chão, com os olhos completamente brancos, tremendo e murmurando três nomes.

Toc - Toc (Ato 1) - TWICE AUOnde histórias criam vida. Descubra agora