A garota rebelde - Parte 1

144 26 4
                                    


À noite, mamãe vem ao meu quarto conversar sobre o ocorrido. Ela bate na porta e a deixo entrar. Ainda estou brava por ela não conseguir enxergar minhas mudanças. Trazendo meu jantar deixa a bandeja no criado-mudo quando agradeço sem interesse e sem jeito senta-se na beirada da cama para começar um pedido de desculpa.

"Quero me desculpar por mais cedo. Eu não devia ter feito aquilo, fiquei ofendida e com raiva agi por impulso. Claro que nada justifica e por isso peço perdão. Prometo que não vai se repetir."

Ela é bem sincera em suas palavras e por não ter mais tanta importância dou de ombros sem nada a dizer. Só que ela ainda tem. Após uma pausa que acho longa demais, ela recomeça:

"Sei que não tenho estado muito presente ultimamente..."

"Ultimamente?" Ponho fim ao meu silêncio com sarcasmo.

"Tudo bem, eu nunca estive tão presente na vida de você e do seu irmão. Mas isso não quer dizer que não queira ouvir você. Estou aqui, fala comigo."

Espero um breve momento encarando-a para ver se realmente fala sério, ela parece realmente interessada esperando minha reação até eu desatar a falar:

"Praticamente fui criada pelo Matt e a Martha. Você largou a gente, sozinhos quando o papai morreu. Estou cansada de falar com um estranho toda semana porque você não tem tempo de me ouvir. Posso fazer uma lista de coisas que você deixou de fazer pela gente, mas acho que só vou desperdiçar papel. Certo que você nunca nem trocou minhas fraldas, mas pelo menos me ensinou a respeitar as pessoas e ver o lado bom delas. Não, peraí, foi o papai..." Paro para recuperar o fôlego, me sentindo tola com ela. "Me desculpe, chega de sarcasmo... Você pode não ser uma boa mãe, mas pelo menos se esforça."

"Isso é tudo?" Pergunta séria. Balanço a cabeça afirmando aliviada. "Não se desculpe. Agradeço por me deixar ouvi-la. O que eu posso dizer é que eu sinto muito por tudo, pensei que a terapia fosse ajudar vocês a superar a falta do seu pai e deixei que isso substituísse o meu apoio. Eu queria ter tido mais tempo com vocês."

"Ainda pode ter, estamos aqui! E um tempinho com a gente não pode ser tão ruim assim! Teve até aquela vez quando eu tinha cinco anos, na casa dos Collins nos Hampton, que você e papai brincaram com a gente de pique-esconde na praia, lembra?"

"É claro, vocês me deixaram exausta de tanto correr! Meu cabelo ficou cheio de areia... Mas tivemos momentos sem o seu pai também. Uma vez, quando você tinha três anos, levei vocês ao Zoológico do Central Park e depois fomos tomar sorvete no Brooklin, por que você fez uma carinha de choro irresistível para ir a sorveteria onde seu pai e seu avô levavam vocês..."

"Acho que ainda podemos fazer isso. Eu amo você mãe." Falo a abraçando-a.

"Eu também te amo querida. E quem disse que nunca troquei suas fraldas?" Fala ao me soltar do abraço. "Eu tentei sim algumas vezes, mas não era minha especialidade..."

Nós rimos e nos abraçamos novamente, sentindo que há finalmente uma paz entre nós. Por pouco tempo. Ela lembra do meu castigo e sobre ter sua confiança renovada. Se eu quiser de volta terei de conquistá-la.

Passo aqueles intermináveis dias em casa, sem poder sair e nem ver Freen, eu tento argumentar sobre prisioneiros terem mais direitos numa penitenciária do que eu na minha própria casa, dramatizando e implorando uma trégua, mas mamãe não me deixa sozinha nem por um segundo com Martha o tempo todo me vigiando.

Além disso, há um bando de fotógrafos na porta do nosso prédio loucos para tirar uma foto da modelo mais escandalosa de Manhattan. Logo eles param de me perseguir depois das retratações que o coitado do Renée mandou publicar a meu favor. Freen e eu não estamos bem, mesmo depois que explico os motivos por não ter falado a verdade sobre minha primeira vez. Ela não parece nem um pouco convencida de que eu falo a verdade dessa vez. E ela tem razão. Menti de novo. Eu não consigo dizer a verdade. Nem para ela. Eu não posso.

A Garota Problema - FreenBeckyOnde histórias criam vida. Descubra agora